João Morgado: “Magalhães traidor? Não, um emigrante de sucesso”

“Fernão de Magalhães e a Ave-do-Paraíso”, que retrata a “aventura” de Fernão Magalhães ao serviço de Castela é o enredo principal do mais recente livro do covilhanense João Morgado.

Depois de ‘Vera Cruz’ que relata os feitos de Pedro Álvares Cabral e ‘Índias’, romance histórico baseado na vida e nos feitos de Vasco da Gama, João Morgado encerra com Fernão Magalhães a “trilogia dos navegantes”. O livro foi apresentado na Biblioteca Municipal da Covilhã, no último sábado.

Retrata a aventura que levou Magalhães a “meio mundo nunca antes navegado”. Um “desconhecido” que nos dias de hoje “não conseguimos sequer imaginar” confidenciou à nossa reportagem o romancista.

Para Morgado, e à luz dos dias de hoje, Fernão Magalhães era alguém que “chegado aos 40 anos e sem trabalho, fez o que muitos têm que fazer… emigrou à procura de melhores condições que encontrou junto do rei de Espanha”.

Esta forma de atualizar o “Não” que Magalhães ouviu de D. Manuel I quando este lhe pediu reconhecimento pelos seus serviços, uma vez que já tinha dado “meia volta” ao mundo. Face a esta situação apresentou-se a Castela e em 1519, uma armada saiu de Sevilha sob o comando de Magalhães com o objetivo de provar que era possível chegar à Ásia rumando pelo Ocidente.

Este era também o início da volta ao mundo, que aconteceu, diz Morgado, graças à sua morte. “Como Fernão Magalhães faleceu a meio da jornada, a armada tomou a decisão regressar a Espanha pelo mar que já conhecia”, depois de ter navegado “cerca de 22 mil quilómetros no desconhecido”, frisa.

No romance histórico, com o apoio científico do historiador José Manuel Garcia, a ficção e a história entrelaçam-se, mas é possível saber onde começa uma e acaba outra. João Morgado afirma que o rigor “vai muito próximo do que é conhecido da viagem”. A parte da ficção “é entrar na cabeça de Magalhães e ver a viagem como ele a viu e tentar explicar como reagiu a conflitos, traições e ao desconhecido”, explica.

O livro é quase um diário da viagem histórica de um homem que marcou a história da humanidade, mas que muitos apelidam de “traidor”.

Uma questão que para o romancista não existe. Traidor? Pergunta-se e Morgado de pronto responde “não, é um emigrante de sucesso”. É certo que “a defender interesses contrários aos de Portugal, mas é o mesmo quando Ronaldo joga contra uma equipa portuguesa”, exemplifica.

No ano em que se celebram os 500 anos da viagem de circum-navegação, com a obra Morgado lembra a promessa de Fernão Magalhães à sua amada Beatriz antes de partir “um dia trago-te uma ave-do-paraíso. Prometo!”, lê-se no livro. Uma obra que o escritor espera que possa também “emigrar” em breve, com edição noutras línguas.