“Gabinete de amor digital” criado em Belmonte permite criar peça de teatro e dança

Filipa Francisco e Bruno Cochat, cocriadores da peça “Nu Meio”, instalaram um “gabinete de amor” digital no Castelo e no Pelourinho de Belmonte para poderem “reinventar” o espetáculo e manter o trabalho de recolha que foi afetado pela pandemia.

Criado em 1996, o “Nu Meio” é um espetáculo de teatro/dança que já participou em vários festivais em Portugal e no estrangeiro e que tem a característica de se reinventar, a partir das histórias e testemunhos das comunidades onde é apresentado.

Em Belmonte, a peça que conta a história de um casal verdadeiramente português, que é um bocadinho reivindicativo e que fala dos problemas do país, tem apresentação marcada para o dia 23 de agosto, mas o trabalho de recolha dos criadores foi afetado pela pandemia covid-19 e pelo confinamento.

Os coreógrafos foram então “obrigados” a adaptar-se aos novos tempos para comunicarem com habitantes de Belmonte, numa solução criativa que passou por criar um gabinete de amor.

“Colocámos no Castelo e no Pelourinho um computador por onde as pessoas passavam e nos contavam a sua história de amor, numa conversa por videoconferência. A outra versão foi feita num centro de dia local, também através do computador, e agora vai ser ao telefone. Ou seja, tendo em conta que há pessoas sem internet, criámos a ‘Linha Mila’ e a ‘Linha Firmino’, para onde nos podem ligar e contar a sua história de amor”, explicou à agência Lusa a coreógrafa Filipa Francisco.

Filipa Francisco revela que também nesta iniciativa foi preciso enfrentar desafios inesperados, designadamente o facto de ter surgido na mesma altura o primeiro caso de covid-19 no concelho e também o mau tempo que atingiu a zona no domingo.

Ainda assim, foi possível recolher testemunhos e o objetivo é o de que esses encontros possam ser integrados na peça, cuja apresentação ainda tem “um grande ponto de interrogação” porque tudo depende da evolução da situação pandémica em Portugal.

Os planos já têm a nova realidade em conta e, se for possível, a peça será apresentada no Jardim Municipal, onde a interpretação deverá integrar-se na paisagem com destaque para o coreto e para as janelas que há no local.