À conversa com antigos dirigentes associativos da AAUBI

No passado dia 24 de março de 2021, pelas 21h30, realizou-se um evento online na página de Facebook da AAUBI no âmbito da celebração do Dia Nacional do Estudante. Esta iniciativa, organizada por Rodrigo Eusébio, Coordenador da Secção Pedagógica da AAUBI, teve como objetivo trazer ao palco as vozes do passado da AAUBI e contou com a presença dos antigos dirigentes associativos, António Marques, Jorge Jacinto e Rita Cruz.

António Marques, ingressou em Sociologia no ano de 1997, no entanto, tal como acontecia a muitos estudantes, a Covilhã não foi a sua primeira escolha. Ainda assim, tomou posse da Associação Académica de 1991 a 1993, durante um período onde referiu que “o trato não era fácil” por parte de Passos Morgado, Reitor da época. António, recordou com nostalgia, os projetos em que participou durante esse período, nomeadamente o encontro de futebol de dirigentes associativos, a 24 de março de 1991, no Estádio Nacional de Lisboa. Aqui abordou as várias necessidades da associação, sendo uma delas a aquisição de uma carrinha. Após o encontro, no dia 30 de abril, a associação recebeu dinheiro suficiente para comprá-la. Para além desta vitória, António orgulha-se de ter convencido o reitor a adotar uma época de exames de recurso, de modo a evitar o fenómeno de retenção de alunos com unidades curriculares em atraso.


Já em 1996, Jorge ingressou no curso de Optometria na Covilhã, por não existir em mais nenhum lugar de Portugal. No entanto, partilha da mesma opinião que os irmãos que também estudaram na Covilhã, “não existe um estudante que não se sinta apaixonado pela academia coesa, solidária e companheira (…) onde o espírito de camaradagem era principalmente motivado pela taxa de alunos fora da região”.

Num olhar mais recente, Rita Cruz, que entrou em Medicina na UBI no ano de 2013, por incentivo de um familiar que lhe garantiu que não se ia arrepender, disse ter adorado o espírito da Covilhã. Logo no primeiro ano de licenciatura, Rita tornou-se colaboradora da AAUBI e mais tarde, entre 2017 e 2019, fez parte da direção como Vice-Presidente da Política Externa da AAUBI.

Considerou-se no âmbito do Dia Nacional do Estudante que este passou a ser um dia de homenagem e deixou de representar manifestação. No contexto da manifestação, António lembra as dificuldades sentidas durante a década de 1990. No ano seguinte, com a eleição de Cavaco Silva para Primeiro-Ministro, surge uma proposta por parte do governo de aumentar as propinas. É neste âmbito que surge também uma iniciativa estudantil para combater o aumento, o qual António referiu como “contrato social”. Este contrato consistia na atribuição de benefícios às universidades por parte do governo, em troca do aumento das propinas. Na altura, a Covilhã enfrentava um grave problema de alojamento, onde existiam apenas duas residências, uma feminina e uma mista. Foi possível a construção de mais duas residências e foi atenuado o problema do alojamento, no entanto os estudantes continuavam a ser “os estranhos” para a Covilhã.

Jorge, notou que se olharmos para o que aconteceu em 1998 e passados 10 anos, observamos que a UBI passou por uma construção muito grande. António, descreveu o passado como um tempo difícil para a consolidação da UBI porque “a matéria-prima que chegava não era de boa qualidade, isto porque a UBI não era a sua primeira opção”, justificando a falta de interesse na universidade e na cidade. No entanto, Rita considera que atualmente a cidade convence as pessoas, “a maioria chora quando se inscreve, mas depois gosta-se”. Para Jorge, a UBI não é uma universidade do interior porque “Portugal é um retângulo e um retângulo não tem interiores, tem lados”. Ainda que a serenidade da Covilhã possa parecer um aspeto negativo, esta particularidade permite-lhe proporcionar um maior e melhor nível de vida.

Se na época de Jorge, faltavam as condições e o espaço na sede da AAUBI que “estava sempre à pinha”, Rita diz que, atualmente, os alunos encontram-se mais distanciados da sede, contudo frisa, que o anterior presidente Afonso Gomes, tentou lutar contra este problema. A antiga representante, acrescentou ainda que, “Há problemas intemporais, mas as coisas acabam por mudar e as pessoas que passaram pela AAUBI ficaram sempre com paixão pela associação, ganha-se gosto”. Jorge, mostrou-se impressionado com a estabilização da AAUBI e menciona que os ex-dirigentes nunca devem desaparecer. Estes devem continuar ligados à associação para ajudar as gerações futuras, notando que a “AAUBI não é comissão de festas”. Considerou que o associativismo sobrevive pela camaradagem. e que na UBI, ser dirigente associativo torna-se mais fácil graças a isso. A isto, António acrescenta que “é muito fácil fazer uma festa e acabar com o orçamento dos próximos 4 anos, é preciso ser consciente”.

Em entrevista, Rodrigo comentou que sentiu um grande orgulho ao ver que António e Jorge, mesmo após terem cumprido a sua missão, continuam ligados à AAUBI. Esta forma de viver o associativismo sensibilizou-o, na medida em que vivemos um período em que parece existir um crescente desinteresse pelo associativismo. Acrescenta ainda que, a atual situação de pandemia não é um cenário favorável ao associativismo e que, o que antes era um espírito de companheirismo foi substituído por um sentimento de impotência e conformismo. Ainda assim, faz um apelo a todos os estudantes para que não fiquem calados, “porque é a falar que nós nos entendemos”. É preciso continuar a fazer reivindicações, comunicar para que surjam novas formas de pensar e não permitir que a situação chegue a um ponto sem retorno. Este termina com ideia de que mesmo com pouco se faz muito.