Atletismo da AAUBI vence após ano “desafiante”

A Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI) conquistou nos dias seis e sete de março, quatro medalhas no Campeonato Nacional Universitário de Atletismo em pista coberta.

O campeonato organizado pela Federação de Atletismo do Desporto Universitário (FADU), realizado em Pombal, teve como destaque os quatro lugares no pódio, por parte da equipa da AAUBI. Os resultados da preparação foram vistos nas conquistas de uma medalha de ouro recebida pelo estudante Ricardo Opinião na prova de 5000m, uma de prata arrecadada por Inês Pires no salto em altura e duas de bronze conquistadas por Simão Pereira e Filipe Rosa, no salto em altura e nos 400m, respetivamente.


O +Academia esteve à conversa com dois dos vencedores deste campeonato, Ricardo Opinião e Filipe Rosa para perceber melhor o que esteve por detrás de um campeonato e o que é competir em plena pandemia.

Entrevista

+Academia (+A): Falem-nos um pouco sobre em que consistem as vossas provas e o porquê da escolha dessas modalidades.

Ricardo Opinião (RO): Habitualmente, a vertente do atletismo que pratico são distâncias desde 800m até 10km, sendo os 1500m a distância em que mais me foco. Porém, desde há um ano que decidi experimentar a marcha atlética por incentivo do meu treinador. Desde o início que me habituei muito bem ao movimento desta modalidade que é bastante técnica e rigorosa.

Filipe Rosa (FR): A prova de 400m é uma vertente do atletismo que mais tem ganho adeptos. É uma modalidade difícil de conseguir boas marcas pois tal como tudo no atletismo, exige muito trabalho, suor, dores e dificuldades que muita gente não chega a saber. Escolho esta modalidade porque desde que comecei a correr sempre fui vendo resultados, porém também houve momentos em que desistir era uma opção. Hoje em dia digo que não me arrependo de não ter desistido e agradeço ter amigos que confiaram nas minhas capacidades.

(+A): Como é que funcionam os treinos durante a pandemia e o que mudou na vossa/o rotina/treino?

(RO): Os treinos em regime normal passavam todos pela pista de atletismo. Com a pista fechada devido à pandemia vi-me obrigado a treinar pela estrada e percursos com mais desnível dos que estava habituado. Correr pela cidade tem também vários inconvenientes, como os carros e os passeios estreitos, mas acho que todos os atletas passaram por estas dificuldades. Por essa razão também não treinava marcha há mais de 1 ano, e mesmo corrida, em meados de Abril de 2020 fui obrigado a parar 2 meses. Agora já com acesso à pista tento fazer trabalho de velocidade na pista 2 vezes por semana e o resto da semana treinos pela estrada ou pela cidade o mais isolado possível.

(FR): Quando a pandemia começou, as coisas foram difíceis. Tive de ficar em casa durante um mês, mas como sou atleta federado no Centro de Atletismo de Seia (CAS) e vivo perto da pista do meu clube, consegui acesso. Contudo, muitas vezes tive de treinar na estrada, o que pode criar lesões. Os meus treinos baseiam-se em dois dias de séries por semana, ou seja, em treinos de distâncias mais curtas e com maior velocidade e intensidade, e o resto dos dias faço corrida contínua, de 8 a 10km por dia. Posso dizer que uma das etapas mais difíceis da pandemia foi o acesso à pista da Covilhã. Atualmente estou em estágio de mestrado, o que me permite estar em casa e treinar sem muitos impedimentos, porque o acesso à pista é-me facultado de novo.

(+A): Que diferenças notaram entre uma competição antes da pandemia e esta?

(RO): Nós, atletas de longa distância, sentimos bastante falta do apoio do público e essa a meu ver é das maiores diferenças. Correr sozinho, na pista e sem barulho do público é das piores sensações. Também o aquecimento ter de se realizar no exterior da pista e isoladamente, para quem prefere aquecer para a competição em grupo, como eu, é um impedimento.

(FR): A maior diferença está na organização das pistas durante as competições com pistas de intervalo, o que significa que temos menos competição durante a prova. Surgiram atrasos enormes, o que dificulta todo o processo de preparação até ao momento da prova. Antes da pandemia, tínhamos a liberdade de cumprimentar toda a gente e as competições eram mais intensas, tínhamos o público a gritar nas bancadas. Eram dias fantásticos.

(+A): A nível de protocolo pandémico, o que acham que melhor resultou e o que se pode melhorar?

(RO): Acho que a nível de cumprimento das regras não se podia pedir muito mais. Algumas organizações fizeram impossíveis para continuar a apoiar os atletas e a modalidade. O única aspeto a melhorar seria encarar o facto de que para alguns atletas isto é um trabalho e o atletismo é um desporto profissional e o que mais medalhas olímpicas dá. Ao longo da pandemia as pistas foram abrindo e foram passadas declarações aos atletas para se poderem deslocar para treinar e competir, por isso mesmo, acho que neste momento não se pode pedir muito melhor à federação.

(FR): A pandemia tem sido desafiante e a FPA (Federação Portuguesa de Atletismo) tem arranjado várias soluções na época de pista coberta, e concordo que algumas resultaram. O mais difícil neste momento é ter acesso às várias pistas do país, por parte de todos os atletas, principalmente aqueles que não são aceites em provas neste momento e que por isso, não têm direito a treinar em condições dignas de um atleta que se esforce e valorize o seu trabalho. Em suma, certas organizações e certas regras foram felizes e agradáveis, outras nem tanto.

(+A): Como se sentem com o lugar conquistado no pódio?

(RO): Um lugar no pódio é sempre um excelente sentimento, um sinal de que o trabalho que fazemos e todo o tempo que passamos a treinar é recompensado.

(FR): O resultado foi bom pois foi um recorde pessoal. É claro que uma medalha num campeonato universitário é uma enorme alegria, principalmente representando a universidade na qual estudo. Quero manter sempre a alegria e humildade em primeiro lugar. Quer se perca quer se ganhe, tornamo-nos pessoas com mais sabedoria e tanto eu, como o meu treinador sabemos que ainda existe muito trabalho a fazer.

(+A): O que esperam das próximas competições?

(RO): Fora da competição universitária, procuro estar na melhor forma possível para ajudar o meu clube a alcançar a melhor classificação no nacional de clubes de pista coberta. Depois com o evoluir da pandemia, procurar estar em boa forma em algumas competições de corta-mato e estrada. Em relação ao desporto universitário esperar agora pela época ar livre e manter então o primeiro lugar na marcha e procurar ajudar ainda nas provas que o meu treinador achar necessário para levar a UBI ao pódio coletivo.

(FR)): As próximas competições ninguém sabe, agora com a pandemia é tudo muito imprevisível. Como esta época de pista coberta está para terminar e avizinha-se a época ao ar livre, espero que aí sim surjam mais competições e campeonatos, tanto distritais como nacionais. Agora resta continuar a treinar e esperar que existam competições para que haja a oportunidade de pôr em prática todo o treino e esforço dedicado até então.

A competição que, contou com mais de duas centenas de participantes, teve com a AAUBI a quinta colocação coletiva.  Os seus resultados podem ser conferidos através deste link.

– Tiago Matos

– Kayalu Silva