O readaptar de uma vivência que se queria presencial

Fundada no ano de 1988, a Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI) trabalha ano após ano, e mandato após mandato, em prol de uma comunidade académica justa e unida.

Nestes últimos tempos, com toda esta situação pandémica que temos vivido, o Presidente da AAUBI, Ricardo Nora, um Ubiano Licenciado em Gestão e, atualmente, aluno de Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial, esteve à conversa com o +Academia, onde frisou que o seu primeiro mandato e início do segundo têm sido complicados e exigentes, embora realce que, a AAUBI está sempre com o foco no bem estar, e nas vivências académicas dos seus jovens, readaptando tudo aquilo que se queria, em formato presencial para o digital, de modo a “não deixar morrer este bichinho de ser Ubiano, e de também ser um estudante universitário”.


+Academia: Já estás no segundo mandato enquanto Presidente da AAUBI, fala-nos um pouco deste teu percurso.

Ricardo Nora- Eu licenciei-me em Gestão. Na altura entrei no Núcleo do curso, ainda no primeiro ano, integrando o Departamento Cultural e nos dois anos seguintes fui Presidente. Depois, em 2018, entrei na Associação Académica; em 2019, fui Tesoureiro da AAUBI e depois, em 2020, candidatei-me a Presidente e agora, em 2021, renovei esse cargo (diz com expressão de orgulho) e essa responsabilidade, acima de tudo!

2020 acabou por ser, sem dúvida, um ano em que nós não estávamos preparados para o que aí vinha. Tivemos muitas atividades e muitos projetos que foram adiados. Penso que 2021, nestes quase três meses de mandato, tem sido bastante diferente de 2020, porque já estamos preparados, a resposta já é diferente, tendo em conta que nós já sabemos, mais ou menos, o que é que se espera.

– Como referiste, no ano em que foste eleito para Presidente foi um ano difícil, e continua a ser. Como é que se gere, sendo Presidente da AAUBI, tanta responsabilidade uma vez que “és a cara de todos os estudantes” e ainda com este problema acrescido da Pandemia?

Naturalmente que a responsabilidade de ser presidente da AAUBI é a mesma, se assim podemos dizer, ou a carga de importância, é a mesma seja com ou sem Covid-19. De facto, temos aqui uma responsabilidade extra, tendo em conta que os nossos estudantes e também as suas famílias estão, alguns deles, a passar dificuldades que nunca sentiram antes. Quando olhamos também para a parte dos métodos pedagógicos e para os métodos de avaliação, muita coisa mudou com a Covid-19, e a AAUBI tem toda uma responsabilidade extra em esclarecimentos, em procurar e encontrar soluções com todos os intervenientes.

– Ainda falando em tempos de Pandemia, nós sabemos que vocês organizaram a campanha “Linha de Apoio ao Estudante em Isolamento”. Gostava que nos contasses um pouco de como é que foi a adesão de voluntários a esta campanha e qual é que foi o impacto que a mesma teve?

Primeiro, essa foi uma das atividades que mais impacto teve, na nossa opinião, junto da comunidade académica. Não é uma atividade nada fácil, porque é uma atividade que está em funcionamento desde finais de outubro, nos cinco dias úteis da semana. Mesmo quando a maioria dos nossos estudantes estão em suas casas, esta atividade continua e ainda assim temos tido muitos voluntários e muitas pessoas interessadas em querer ajudar. Para nós é excelente! De facto, há muitos estudantes que não voltaram a casa e que ficaram cá (Covilhã), onde alguns estão em isolamento, e nós temos esta ajuda. Estamos também a trabalhar para criar outro tipo de ajudas para auxiliar os nossos estudantes.

Para nós tem sido muito gratificante ver que os estudantes têm respondido a esta vertente solidária para com o próximo, e as atividades têm corrido bem.

– Quanto às outras atividades, que estão a realizar durante este ano, como é que foi a readaptação e o passar para um formato online?

É bastante diferente. A vida universitária, e eu posso dizer isto desta forma (diz entre risos),  os estudantes querem o presencial, a universidade precisa do presencial, precisa da vida académica – quem disser o contrário, está a enganar-se a si próprio. No entanto, nós temos trabalhado com o que podemos e com as restrições que estamos a viver. E temos tido atividades das mais diversas áreas. Ainda no passado dia 29 de março, lançamos o Torneio de E-Sports que vai até ao início de maio, e está em funcionamento em vários tipos de jogos. O nosso Desporto Universitário também vai voltar a partir do dia 19 de abril. Lançámos também, entretanto, um concurso de fotografia “Encantos e Recantos da Cidade Neve”. E estamos a preparar, isto já posso dizer, um novo formato do que é a Semana Académica e a Bênção das Pastas. Vamos assinalar essas datas de forma segura, naturalmente, onde as pessoas vão poder assistir a partir do digital. Temos um Encontro Nacional de Direções Associativas que também vai acontecer na Covilhã, no início de maio.

Já fizemos algumas atividades em formato digital e tem corrido bastante bem, as pessoas têm aderido. Ainda no outro dia (25 de março) fizemos, a partir do Bar Académico, o “AAUBI dá-te baile” e tivemos quase, sistematicamente, 400 pessoas a assistir – para nós isso é fantástico!

 Mas vivesse muito do que é a questão de quererem a vida académica, de quererem o presencial, de quererem estar uns com os outros. E nós estamos cá para continuar a incentivar ou, pelo menos, não deixar morrer, este bichinho de ser Ubiaano e de também ser um estudante universitário. De forma segura claro!

– O online teve algum impacto nas vossas atividades, ou seja, notou-se a diferença da presença e da comunicação dos estudantes?

Sim, claro que sim! Aliás não conseguimos fazer uma Receção ao Caloiro, uma Semana Académica ou uma Latada em formato digital – isso é impensável. Nós já o ano passado mudámos tudo o que era o nosso foco, tudo o que era a nossa forma de trabalhar e é muito diferente, e sente-se. E reforço, continuasse a sentir a falta do que é o presencial. E também me preocupa o facto de já serem dois anos, em que os nossos estudantes e os nossos jovens estão condicionados do que é uma vida universitária. Há muitos jovens que, tanto para entrar no mercado de trabalho, como das aprendizagens que se vive na universidade, não vão ter aqui algumas experiências que acho que deviam ter.

– E nessas iniciativas que estão a organizar via online, têm alguma coisa em que se baseiam? Por exemplo, algum pedido dos estudantes, algo que vejam que é um assunto bom de se tratar?

Há uma atividade clara, que nós aqui temos que falar. Nós, no Dia Nacional do Estudante, 24 de março, colocamos uma série de faixas pela cidade, com base num estudo que fizemos sobre a questão do problema da saúde mental nos nossos estudantes, e em específico na UBI. Os números são alarmantes quando vemos os resultados. O impacto que este confinamento está a ter, principalmente, nos nossos jovens, devido, também, à pressão que eles sentem a nível de avaliações e do que é o ensino/aprendizagem. Nós estamos com foco nisso, e temo-nos reunido com várias entidades para apresentar soluções nesse sentido e acho que nos próximos tempos também vamos lançar soluções nesse sentido, em conjunto com a universidade naturalmente, para de alguma forma tentar combater o que está a ser esse flagelo.

– Há pouco falaste na Bênção das Pastas, que foi algo de que se sentiu muita falta no ano passado. Já estão a pensar fazer alguma coisa diferente para este ano?

Em termos de Bênção das Pastas, não quero adiantar muito… Mas nós já estamos a reunir com as entidades que normalmente organizam esse dia. Dependente do que serão as restrições na altura, queremos fazer, pelo menos, uma pequena cerimónia para os nossos Finalistas, não sendo como num ano normal. Quanto à questão da Serenata ou assinalar o que são os dias da nossa Semana Académica, é uma certeza que isso iremos fazer e, a seu tempo, vamos lançar essa iniciativa e outras.

– Que futuros projetos têm planeados e que podes revelar a quem nos lê?

Vão ser assinaladas as datas e vão ser feitos concertos, a partir de locais da nossa cidade, para assinalar a Semana Académica. A tradicional Serenata será feita também. Não será deixada em branco. Isso já é uma certeza! E agora ainda vamos ver, de acordo com as condicionantes que existem, se será possível no mês de julho, fazer umas Fases Finais dos Campeonatos Nacionais Universitários – isso é um objetivo que temos, em conjunto com a Federação Académica de Desporto Universitário. Vamos ver se, de facto, será possível fazer esse evento. De resto, é esperar porque há, muitos projetos que nós temos pensados e que queremos fazer e apresentar já durante os meses de abril e maio.

– Com toda esta situação pandémica e com estas readaptações todas, o que é que tu, enquanto Presidente, pudeste tirar como ensinamento desta caminhada que está a ser muito atribulada, com confinamentos, faculdades a fecharem e o cancelamento de eventos que fazem parte do percurso académico?

Acima de tudo, eu acabo por dar aqui a minha visão pessoal. As formas de trabalho acho que mudaram, e vão mudar brutalmente. Eu, pessoalmente, fazia muitas vezes quilómetros para reunir e hoje, à distância, de um telemóvel ou de um computador reunimos e falamos de coisas, sendo, se calhar, até mais produtivos. Acho que vamos ter que procurar esta questão do mix presencial e do teletrabalho e destas plataformas, para ainda sermos mais produtivos no futuro.

Como Presidente, ensinamentos que possa ter também é a forma de me organizar, de gerir a equipa que, de facto, é completamente diferente.

  • Cátia Sabino