Covilhã: Sociedade tem que “sinalizar vítimas de tráfico e denunciar crimes”, alerta ONG

Alertar para os “sinais” e assim “sinalizar” possíveis vítimas de tráfico, foi o principal objetivo da ação que a Misericórdia da Covilhã desenvolveu esta manhã.

Ana Figueiredo, da ONG Saúde em Português, foi a oradora desta ação de sensibilização para o tráfico de seres humanos que reuniu, no Auditório Municipal da Covilhã, profissionais de saúde, segurança, edução e de outras áreas sociais.


Tendo por base os processos seguidos no projeto “Mercadoria Humana”, que vai já na sua quarta geração, a oradora vinca que o grande objetivo é sensibilizar para a denúncia “porque as vitimas de tráfico humano não se percecionam enquanto tal”. Explica que “ou porque são estrageiras, ou estão isoladas da comunidade, ou são ameaçadas e têm medo” não se queixam, daí que é importante que estes profissionais, de diferentes áreas, “conheçam o «modus operandi» destes crimes, conheçam os sinais para que possam alertar e sinalizar as vítimas”, frisando que “este é o primeiro passo, para que estas sejam protegidas”.

Ana Figueiredo alerta também que a crise económica gerada pela pandemia da Covid-19 vai criar “vulnerabilidades” que os “recrutadores” aproveitam.

“É o desespero para pagar as contas que gera vulnerabilidades”, disse em declarações à Rádio Clube da Covilhã. “O não conseguir emprego leva as pessoas a aceitar soluções milagrosas” que levam “à exploração e ao tráfico”, alerta.

Durante a sua intervenção a responsável referiu que em 2020 foram sinalizadas em Portugal 229 vítimas adultas e 29 menores de 18 anos.

Entre as nacionalidades das vítimas na maioria são moldavas, segue-se a nacionalidade indiana e logo depois a portuguesa.

Ana Figueiredo alerta ainda para o facto de em Espanha a nacionalidade Portuguesa surgir como a segunda em número de vítimas, vincando que são realidades para as quais temos que estar “alerta”.

“Não podemos só falar de estrangeiros que trazem para Portugal ou de portugueses que levam para fora. Há tráfico interno” vinca, referindo que há “portugueses que nunca saíram de Portugal e são vitimas”. “Há famílias que são vistas como bem-feitoras na comunidade e muito bem-vistas, mas que depois têm os chamados caseiros que mantém a trabalhar para si a troco de nada e sem condições, incorrendo neste género de crimes”, relata.

Na sessão de abertura desta ação participou o provedor da Santa Sasa da Misericórdia da Covilhã, Neto Freire. Na sua intervenção vincou que “a troca de informação e a discussão sobre as melhores práticas” que estas iniciativas proporcionam “são ferramentas para apoiar a prevenção, sinalização e denúncia de presumíveis vítimas”.

Regina Gouveia, vereadora com o pelouro da Ação Social na Câmara Municipal da Covilhã enalteceu a iniciativa para ajudar a combater “um flagelo que nos deve indignar”, disse. “Um problema que tem contornos mais graves, porque, ao contrário da violência de género ou doméstica, por exemplo, que estão associadas a comportamentos menos conscientes, este é planeado, pensado e tem intencionalidade”, disse. Uma realidade que “existe e temos que estar conscientes e atentos” frisou.