A UBI não vai aumentar o número de vagas em medicina porque “não há necessidade de formar mais médicos em Portugal porque ficam sem acesso a especialidades”, disse Miguel Castelo Branco em entrevista exclusiva à Rádio Covilhã.
Recordar que na segunda-feira foi publicado, em Diário da República, o despacho que define as regras para a fixação de vagas no Ensino Superior e a principal novidade é a possibilidade de as instituições disponibilizarem mais lugares nos cursos de Medicina, as instituições podem aumentar o número de vagas até 15% e estabelece uma obrigação de assegurar, no mínimo, a manutenção dos mesmos lugares.
Uma possibilidade que as escolas médicas criticam. No caso da Covilhã Miguel Castelo Branco, presidente da Faculdade de Ciências da Saúde da UBI, já disse que “os médicos que estão a ser formados não conseguem vagas de especialidade quando acabam o curso, logo, não há necessidade de formar mais médicos”, sustentou.
O presidente da faculdade frisa ainda que “as contingências” que serão necessárias implementar no próximo ano, face à pandemia, como outra razão para não abrir mais vagas no próximo ano letivo, vincando, no entanto que “esta não é a principal razão para a UBI tomar esta decisão”.
Miguel Castelo Branco acrescenta que “o importante é, tal como tem afirmado o Conselho das Escolas Médicas rever a questão da especialização em Portugal”, especificando que “falta a especialização em urgência que deve ser criada” por um lado e por outro explica que é preciso “ver se as especialidades têm as vagas suficientes”. Defende que “esta é a questão fundamental” frisando há médicos suficientes a ser formados o problema está nas “dificuldades em especializar em algumas áreas o que faz com que haja carência de especialistas”. Esta é para o presidente da faculdade a questão que deve ser debatida entre a tutela e a ordem dos médicos.
Também o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos se mostrou contra esta medida. “É uma má notícia. É uma decisão quem não conhece o contexto do terreno das Faculdades de Medicina”, frisa Carlos Cortes em declarações à margem da sua visita ao CHUCB. “As turmas têm números absolutamente excedentários de estudantes”, realça, acrescentando que “o problema em Portugal não está nas faculdades, não é por se formarem mais médicos que vai haver mais médicos especialistas a tratarem doentes”. Carlos Cortes vinca ainda que neste momento “o importante não é alargar a formação nas faculdades, mas sim nos Hospitais e Centros de Saúde”.
O Ministério da Saúde “tem que saber criar condições para existir mais formação médica no Serviço Nacional de Saúde” refere o presidente da SRCOM. “Não é um estudante de medicina que acabe a faculdade que vai conseguir tratar pessoas. Esse estudante tem que ter formação ainda demora mais 7 anos para formar um especialista” referiu dando o exemplo de um especialista cirurgião.
Referir que o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP) em comunicado refere também que “o aumento do número de alunos, a verificar-se, iria naturalmente degradar a qualidade do ensino, sobretudo nas vertentes clínicas, dada a manifesta incapacidade de cumprir rácios aceitáveis”.
O CEMP realça que as faculdades de Medicina esgotaram a capacidade “há muito”, por falta de “espaços físicos” e pela carência de “recursos humanos que permitam um rácio aluno:tutor de acordo com as recomendações internacionais”.
Este organismo considera que “o aumento do número de alunos não equivale a um aumento do número de médicos futuros, sobretudo especialistas” e que aumentar o número de vagas para acesso aos cursos de Medicina apenas vai “engrossar o número de médicos sem acesso a especialização, não contribuindo, em nada, para colmatar as eventuais assimetrias na distribuição de médicos” no país.