Sessão solene 25 Abril: “Ó Covilhã, ousa sonhar!”

“Ó Covilhã, ousa sonhar” desafiou Vítor Pereira, presidente da Câmara Municipal da Covilhã, no seu discurso na Sessão Solene da Assembleia Municipal comemorativa do 25 de Abril, quando falava sobre a “exigente preparação” do novo quadro comunitário de apoio no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.

Um sonho “com os pés assentes na terra”, disse ainda Vítor Pereira que relembrou algumas das suas exigências nesta matéria. “Até 2030, Lisboa estar a 2 horas e 45 minutos da Covilhã; a cobertura de todo o concelho com fibra ou em 5G; uma rede de transporte público de qualidade e proximidade em todo o espaço do concelho; melhorar a ligação rodoviária dentro do concelho e entre concelhos”, destacou.


As dificuldades financeiras que encontrou em 2013 , com um mandato “de grandes constrangimentos”, também foram recordadas pelo autarca, para referir que “estabilizadas que foram as contas e controladas as dívidas, os projetos começaram a ser executados já neste mandato e eis que a obra começa agora a vir á luz” vincou, enumerando algumas das obras que serão inauguradas em breve, como o Centro de Inovação Empresarial, que deverá abrir em junho, o Museu da Cidade que abrirá em maio, o Centro de Inovação Cultural/Teatro Municipal a abrir em junho, os circuitos pedestres e miradouros em curso na Serra da Estrela, ou o Centro de Inovação Social inaugurado ainda durante a manhã.

Deixou ainda recados aos que apelidou de “ventríloquos saudosistas” que criticam e querem “colher” quando apenas semearam “joio e ervas daninhas” e também para os que “não ocultam o revanchismo perdedor”, frisando que o melhor é “deixa-los a contar histórias, ressabiados e a resmungar com as próprias entranhas e ponhamos os olhos no que importa, o futuro da Covilhã”, disse.

Para Vítor Pereira, os próximos 4 anos serão “exigentes” e requerem “experiência sólida e não aventureirismos”, disse ainda no seu discurso, sem especificar se será candidato nas próximas autárquicas. Traçou, no entanto, o perfil que considera adequado para os comandos do concelho, quando afirmou que “o próximo mandato da edilidade exigirá conhecimento sólido e grande capacidade de manobra”, vincando que será necessário ser “ao mesmo tempo muito firmes e flexíveis”.

A fixação de jovens e ubianos, promovendo o regresso dos que já por cá passaram e gostam da cidade e dos atuais estudantes, foi outro dos pontos que destacou na sua intervenção.

A pandemia também teria que ser tema, com o autarca a frisar que “o pior felizmente já passou”, para no final do discurso apelar à união de todos. “O nosso concelho é um grande tear que pede a força de todos, e não apenas a minha”, disse.

Antes usaram da palavra os representantes dos partidos políticos na Assembleia Municipal da Covilhã.

Pedro Manquinho, do PCP, foi o primeiro a discursar ocupando grande parte da sua intervenção a relembrar a importância da revolução e as grandes conquistas do 25 de Abril que continuam, no entanto, a ser “atropeladas” quando o “interesse dos grandes grupos económicos se sobrepõe aos direitos dos trabalhadores”.

O eleito do PCP destacou ainda a corrupção como tema central na sua intervenção para destacar que tal não é travado porque muitas das propostas do seu partido na Assembleia da Republica não são aprovadas. O aproveitamento de “cargos políticos para beneficio pessoal ou familiar”, foi também abordado, frisando que “no país há exemplos mais do que suficientes, mesmo da Guarda a Castelo Branco, para o povo fazer outras escolhas políticas. Na política não somos todos iguais, uns servem o bem publico e dedicam-se à resolução dos trabalhadores e da população”, vincou. Defendeu “uma democracia simultaneamente política, económica, social e cultural”.

Por parte do PSD usou da palavra João de Deus que teceu críticas à gestão de Vítor Pereira na Covilhã. Para o social democrata, nos “últimos 4 anos, o PS governou a seu belo prazer o município, sem perceber que a força da democracia está na humildade de quem sabe ganhar, ouvindo todos aqueles a quem foi conferido o direito de opinar”. Afirmou que não tem dúvidas que “quem governa não corresponde às expectativas” e o “concelho perde-se e é ultrapassado pelos vizinhos”.

Afirma que no concelho “há uma estabilidade política enganadora”, questionando se “alguém se lembra de alguma verdadeira reforma no concelho, de uma obra estruturante alteradora dos paradigmas instituídos?”.

Para João de Deus “não se pode responder a novos problemas com as soluções de sempre”, referindo-se também à pandemia que transformou a nossa vida “num novo normal”, exortando ainda a que se “mantenha a chama da liberdade viva e se lute para transformar a Covilhã num dos concelhos mais dinâmicos do país”.

Pela bancada do CDS usou da palavra João Vasco Caldeira que saudou todos os que fizeram o 25 se abril e mais tarde o 25 de novembro, bem como todos os que foram perseguidos.

A pandemia também marcou o seu discurso, para recordar o distanciamento de famílias, os milhares que perderam empregos, para afirmar que “enquanto aqui celebramos é também fundamental lembrar que aparelhos e famílias partidárias, à semelhança do antigo regime, se apoderam do aparelho de estado e de cargos de decisão, e não se respeitam os adversários políticos”, criticou.

Para João Caldeira “não nos podemos limitar a celebrar e a recordar abril, mas sim assumir o compromisso de projetar o futuro”, considerando “fundamental construir uma democracia que não esteja à mercê da demagogia”, disse.

Luís Fiadeiro, do Movimento Independente De Novo Covilhã, recordou a importância do 25 de abril e tudo o que trouxe ao país, realçando o pluralismo e o debate de ideias.

Afirmou que passados 47 anos, “os desígnios democracia e descolonização” foram cumpridos e explicou porquê, mas outros desígnios, como o “desenvolvimento” não está efetuado, frisando que “continuam por atenuar as diferenças entre litoral e interior”, destacando que as diferenças, estão bem patentes, como nos casos dos passes sociais, a não construção do IC6 e as portagens, referiu.

“Cumpra-se Abril” disse, “constituindo uma sociedade justa, solidária e democrática”, aproximando os cidadãos aos eleitos, os jovens da vida política, construindo um estado sem assimetrias regionais. “Dar voz a quem não a tem, e dar cuidados de saúde e educação”, afirmando que cumprir abril “é fazer do sonho realidade”.

Por parte do PS, Hélio Fazendeiro exortou os valores de abril e os seus protagonistas, apresentando-se “com orgulho” a discursar “dando a cara pelo que tem sido feito no poder autárquico e pelo Governo da Republica”, apesar da pandemia “nos estar a pôr à prova, temos que estar orgulhosos do que temos feito”, disse.

“Acreditamos no nosso potencial e estamos preparados para os desafios pós pandemia, como um destino privilegiado para se viver, investir e visitar”, destacou o socialista. Saudou a reabertura da Linha da Beira Baixa até à Guarda e voltou a exigir que o intercidades até Lisboa, até 2030, demore duas horas e 45 minutos.

Recordou que o 25 de abril é “um compromisso de todos para garantir e lutar pela liberdade, para que todos os que são seus inimigos sejam uma minoria”, disse.

A sessão solene terminou com o discurso de João Casteleiro, presidente da Assembleia Municipal. Na sua intervenção destacou o Serviço Nacional de Saúde como a grande conquista do 25 de abril, o que a pandemia veio destacar, frisou.

“O SNS, independentemente do partido a que se pertence é a maior conquista de abril”, disse. Recordou a sua experiência pessoal com a revolução e a igualdade conquistada.

Depois de citar Saramago – “cada dia que nasce para uns é o primeiro dia, para outros é o último, para a maioria é mais um dia” – terminou desejando que “para nós abril seja sempre o primeiro dia”.