A União de Freguesias da Covilhã e Canhoso homenageou ontem, dia 29, os covilhanenses José António Pinho e José Pinheiro Fonseca pelo seu papel importante durante o regime fascista, contra o qual lutaram, tendo sido perseguidos pela PIDE e presos políticos.
A cerimónia foi iniciada pelo Quarteto de Sopros da Banda da Covilhã que interpretou temas alusivos ao 25 de abril.
Carlos Martins, presidente desta União de Freguesias, recordou, na sua intervenção, como viveu este importante dia, tendo apenas 12 anos. “O 25 de Abril tem de ser sempre relembrado”, vincou o autarca.
Destacou o papel que esta União de Freguesias tem dado ao tema visto que, além desta homenagem, já no ano passado tinha homenageado todos os presidentes eleitos após o 25 de Abril.
“Alguém me disse que esta homenagem devia ser feita no 50º aniversário do 25 de Abril” contou. “Mas não, já devia ter sido feita há muito tempo”, garantiu o presidente.
“Fascismo nunca mais, 25 de Abril sempre”, concluiu.
Joana Pettruci Rocha, presidente da Mesa da Assembleia, apresentou os homenageados, passando pelos momentos marcantes da sua vida.
José Pinheiro da Fonseca, visivelmente emocionado, agradeceu a iniciativa, não por si, “mas pelo significado que tem”. “Não podemos deixar cair o 25 de Abril e este gesto contribui para isso”, referiu.
O homenageado deu ênfase à importância da democracia, apelando à participação de todos na mesma, “não se abstendo dos atos eleitorais”, por exemplo.
Vincou que não poderia recusar este convite visto que “não se podem desperdiçar oportunidades como esta para alertar as pessoas que atingiram a idade da razão depois do 25 de Abril para o facto de que a democracia e a liberdade de que têm usufruído não ser um estado natural, mas um bem que para ser alcançado exigiu um enorme sacrifício de muita gente”.
O anti-fascista recordou que, além dos “esforços de muita gente”, não se pode esquecer quem perdeu a vida nesta luta. “Só no Campo de Concentração do Tarrafal morreram 34 portugueses ao longo dos 18 anos da sua existência”, referiu.
Além de alertar os jovens, o homenageado garante que a democracia continua a necessitar do esforço e atenção das gerações anteriores ao 25 de abril, que não podem “descansar no suposto que a liberdade e democracia são valores adquiridos para sempre”.
José António Pinho começou a sua intervenção frisando que “começamos por aprender a dizer não ao poder instituído, não ao ditador fascista, Oliveira Salazar, apoiado por uma polícia política, a PIDE, que prendia, torturava e assassinava os que lutavam contra a censura e farsas eleitorais”.
“Aprendi o significado das palavras ‘Viva à greve, Viva ao 1º de Maio’ e erguemos a nossa voz contra a guerra colonial, contra uma ditadura que mentia ao seu povo, afirmando que Goa e Angola eram nossas, e que nos diziam estar a defender Portugal Ultramarino. Proclamamos bem alto que a guerra de libertação dos povos africanos era também a nossa luta de libertação”, explicou o homenageado.
“Podíamos não saber bem para onde ir, mas o não, de não ir por ali, era a nossa bandeira”, concluiu.
José António Pinho declamou, ainda, dois poemas, um de José Régio e outro de Ary dos Santos.