O Sporting Clube da Covilhã aprovou ontem, dia 29, por maioria absoluta, a transformação da Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas (SDUQ) em Sociedade Anónima Desportiva (SAD).
A proposta da direção foi aprovada com 67 votos a favor, seis abstenções e 27 votos contra, numa assembleia geral extraordinária que gerou alguma controvérsia entre os cerca de 100 sócios presentes.
De acordo com a informação avançada pelo presidente da direção do Sporting da Covilhã, José Mendes, a decisão prevê a criação de uma SAD com um capital social de 250 mil euros e, além dos 10% de que o clube legalmente terá de ser detentor, serão vendidas aos sócios até 10% das ações, ficando os restantes 80% disponíveis para investidores.
Os sócios podem subscrever, entre 2 e 9 de janeiro, até cinco mil ações, a cinco euros cada, num total de 25 mil euros, tendo prioridade os associados mais antigos. Para ter direito a um voto, são necessárias 50 ações.
Na proposta lida na reunião magna, a direção do emblema serrano, que em junho comemora o centenário, sublinhou que o Sporting da Covilhã é o único clube do segundo escalão com uma SDUQ e, perante o investimento muito superior nas outras equipas, os leões da serra têm vindo “a perder competitividade desportiva”.
Com a entrada de capital de terceiros na SAD “e no próprio clube”, passam a existir instrumentos financeiros que permitem “ter equipas com mais qualidade competitiva” e “condições para obter melhores resultados desportivos”.
“É premente a transformação da sociedade em SAD, de forma que a mesma possa competir com a mesma igualdade de armas com as sociedades com quem disputa a II Liga de futebol profissional”, foi ainda referido no documento lido na AG.
Durante a assembleia geral, vários associados pediram a retirada deste ponto da ordem de trabalhos, solicitando a votação do mesmo numa data posterior, de modo a terem tempo para uma “reflexão mais ponderada”.
Diversos sócios consideraram “insuficiente” terem tido apenas um dia desde que a proposta da direção foi apresentada, na sessão de esclarecimento realizada na véspera.
“Retirar o ponto seria uma decisão sensata”, afirmou Marco Gabriel, sócio do Sporting da Covilhã, vincando que “esta é uma decisão quase tão importante como a dissolução do clube”.
Durante a sua intervenção, Marco Gabriel sublinhou ainda que “a precipitação para uma tomada de decisão pode levar a fraturas insanáveis dentro do clube”.
À semelhança de Marco Gabriel, também o sócio Afonso Gomes realçou não ser “um período suficientemente alargado para tomar uma decisão desta importância”, frisando que o pouco tempo para tomar uma decisão “levanta um conjunto de questões que seriam de fácil resolução se os sócios tivessem tido mais tempo”.
Defendendo a criação de uma SAD, José Mendes frisou que a mesma, além de permitir a entrada de terceiros no capital da sociedade, com a ambição de melhorar os resultados desportivos, a alteração na orgânica da gestão do clube também vai possibilitar “profissionalizar departamentos” que hoje “dependem do voluntarismo” de dirigentes.
O presidente afirmou sempre ter resistido ao passo de avançar para uma SAD, apesar das muitas abordagens nesse sentido, mas explicou ter “maturado a situação” e ter chegado à conclusão, após várias reuniões, que, para criar uma equipa competitiva, face ao investimento feito pelos adversários, “não há outra opção” e acrescentou ter “chegado agora o momento” porque “não há dinheiro” e capacidade para o clube ter orçamentos acima de um milhão de euros, comparando com estruturas com verbas sete a oito vezes superior.
“Não é só dizerem que querem chegar à I Liga”, respondeu o presidente aos sócios, sublinhando que o clube fica “em condições de negociar a qualquer momento”, embora possa acabar o mandato e não o fazer, destacou.
Depois de diversas intervenções por parte dos sócios, foi solicitado que esta não fosse a última AG em que os associados tivessem uma palavra a dizer sobre o futebol profissional e que a proposta do futuro investidor e o seu projeto desportivo fossem votados pelos sócios, proposta que foi recusada pela direção.
Após quatro horas de debate, em que se ouviram protestos quando o presidente do órgão encerrou o período de intervenção dos associados, foi proposto por vários sócios uma votação por voto secreto, rejeitada pelo presidente da assembleia geral, Jorge Gomes.
A transformação em SAD permitirá, à administração, captar outro tipo de investidores”, trazendo “ainda mais vantagens para o seu clube fundador, permitindo-lhe continuar a investir no seu património imobiliário desportivo, na melhoria das condições desportivas dos seus atletas de formação, bem como melhorar as vantagens dos seus sócios”, sublinhou a direção na mesma reunião.