A Covilhã, e o país, têm que fazer mais para difundir, e não deixar cair, a obra de António Alçada Batista. Esta uma das conclusões do colóquio que ontem, ao longo do dia, decorreu na Universidade da Beira Interior sobre a vida e obra do escritor natural da Covilhã.
Na Biblioteca Central da UBI, analisou-se a obra e falou-se sobre a escrita e a vida de Alçada Batista, nas suas variadas vertentes.
Descrito como um “covilhanense de afetos” por Vítor Pereira, presidente da Câmara Municipal da Covilhã, na sua intervenção na sessão de abertura do coloquio, o autarca frisa que “a Covilhã e o país muito lhe devem”.
“Um cidadão a todos os títulos notável”, disse, concluindo que com este colóquio se homenageia “alguém que ao longo da vida nos passou os valores da liberdade, da dignidade, da singularidade, do direito à diferença e grande preocupação com o próximo”. Vítor Pereira abordou ainda a marca que Alçada Batista deixou na geração jovem, dos anos 60, graças aos textos publicados em que estes valores eram defendidos.
No mesmo momento, o reitor da UBI, Mário Raposo, destacou o homem da cultura e da intervenção política e cívica, que “esteve na origem de projetos inovadores no movimento sociocultural”, frisando que a sua obra “é fundamental para compreender a evolução da cultura e da sociedade portuguesa no século XX”, concluindo que este colóquio tem por objetivo levar a refletir sobre a sua obra, e “a cidade que lhe serviu de berço deve sentir orgulho”.
“Um grande autor que corre o risco de ser ignorado, deve fazer-se um grande esforço para dar a conhecer a sua obra” disse durante a sua intervenção Gabriel Magalhães, um dos oradores convidados.
Cristina Vieira, outra das palestrantes, reforça que “a academia não pode deixar esta responsabilidade para outros”, afirmando que é preciso “traduzir, estudar e investigar, mais do que temos feito até aqui” disse, deixando o repto a entidades como a UBI e a autarquia para que trabalhem nesse sentido.
André Barata, presidente da Faculdade de Artes e Letras da UBI, questionado pela RCC, mostra a certeza que “há uma divida grande da Covilhã e da UBI para com António Alçada batista”, frisando que se deve devolver “na forma que nos compete, estudando e disseminando a sua obra”. Defende, também, que tem de haver “um reconhecimento público”, a alguém que “deu um contributo muito importante para o desenvolvimento dos valores do país, numa fase critica da história”, o que vai além da universidade. Recorda o repto de Guilherme Oliveira Martins, por exemplo, de que a toponímia da Covilhã o celebre.
Sem querer falar em “injustiça”, André Barata considera que “há um processo normal de um esquecimento transitório, que dará lugar a celebrações”. Recorda que passaram 15 anos sobre a sua morte e geralmente sucede este “esquecimento”, é preciso é que “haja uma comunidade atenta, na academia e no poder político, para o celebrar e estudar”.
Também reconhece que “quem tem um perfil de intelectual público como António Alçada Batista teve, corre o risco de ter quem encare de lado, ou relativize, a sua obra literária”, que tem uma qualidade inegável, como “ficou demonstrado neste colóquio pelos palestrantes, académicos respeitados, que atestam essa qualidade literária da sua obra”. “É preciso deixar assentar o pó para que reluza a qualidade intrínseca da vida, e da obra, do escritor”, concluiu.