“Ainda existe um estigma de que as escolas profissionais são destinadas a alunos com menos capacidades cognitivas ou com menos vontade de continuar a estudar”, disse o Secretário de Estado da Educação, António Leite, salientando que o ensino profissional é “um ensino de qualidade e com dignidade igual a todos os outros”.
António Leite falava à margem da visita à Escola Profissional de Artes da Covilhã (EPABI), que teve lugar ontem, dia 15, no âmbito da atividade “Périplo das Beiras”.
Questionado sobre a possibilidade de melhoria dos recursos nas escolas profissionais, o Secretário de Estado disse não ser essa “a única resposta” para trazer mais alunos.
“Creio que devemos mesmo atuar ao nível da informação, sobretudos nos jovens e nas suas famílias, quando os mesmos estão no 9º ano de escolaridade e têm de tomar uma decisão sobre o seu futuro”, vincou António Leite, acrescentado que nas escolas profissionais as instalações e os professores são de boa qualidade”.
“São reconhecidas na comunidade como ofertas de grande qualidade e que garantem uma empregabilidade quase imediata na maior parte das situações”, frisou o Secretário de Estado, afirmando que “a questão de ter mais condições não é determinante”.
António Leite revelou que existem várias entidades a trabalhar para “dar a conhecer às famílias as ofertas que existem em cada concelho”.
O grupo, liderado pela SONAE, “quer devolver, em termos de resposta social, o que o país lhes dá em lucros”, disse o Secretário de Estado, frisando que essas entidades “sentem a necessidade que haja mais jovens a frequentar o ensino profissional”.
A atuação das comunidades intermunicipais é outra possibilidade de difundir informação acerca do ensino profissional, “divulgando amplamente a oferta formativa nessas regiões”, disse António Leite.
O Secretário de Estado deu ainda nota de que, em Portugal, são 33 os municípios que não têm ensino secundário. Na Beira Interior, Vila Velha de Rodão é o concelho que não tem resposta ao nível do ensino secundário.
“Significa que estes alunos são obrigados a deslocar-se para distâncias reduzidas, como cinco ou dez quilómetros, mas que também podem ser de mais de 40km, obrigando crianças de 14 e 15 anos a ficar alojadas fora de casa dos pais para poderem frequentar uma obrigação e direito seu, que é o ensino secundário”, sublinhou”.
António Leite revelou ainda que está a ser elaborada uma proposta que dá um apoio acrescido às famílias dos 33 municípios, pelo “desgaste financeiro e psicológico” que apresentam.
Luís Costa, presidente da Associação Nacional das Escolas Profissionais, salientou que as escolas do interior do país “não são escolas menos importantes, mas são diferentes”.
“Os problemas têm a ver com os equipamentos, instalações e recursos humanos. São questões de natureza financeira, devido às circunstâncias que estão subjacentes ao modelo de financiamento das escolas profissionais, que assentam em tabelas transversais a todo o pais, não tendo em conta as especificidades regionais e situações de interioridade de algumas delas”, vincou.
Luís Costa deixou ainda uma mensagem “aos responsáveis políticos”, sublinhando que estes devem “alocar mais recursos financeiros para que o país possa dar um salto naquilo que é a qualidade da sua prestação e na qualidade dos equipamentos e instalações”.
Em última nota, o dirigente da ANESPO considera essencial existir “informação e orientação vocacional para jovens e famílias”.
“Se tiverem informação sobre a generalidade das ofertas formativas e o que representa cada área de formação, não faltaria m alunos para os cursos profissionais”, concluiu.
O diretor da EPABI, Hélder Abreu, salientou o potencial da escola, colocando em evidência o número de alunos que a mesma tinha e a diminuição desse mesmo número nos últimos anos.
Durante o seu discurso, Hélder Abreu destacou, como dificuldades, a desertificação, o financiamento e ainda a falta de uma rede articulada de transportes no concelho.
“Há alunos de vários locais e se tivéssemos uma rede articulada de transportes, não só dentro da CIM-BSE, mas também nas comunidades intermunicipais que nos rodeiam, seria mais fácil, na medida em que não teríamos de dispor dos nossos meios para transportar os alunos”, frisou.
Quanto à desertificação, existe a condicionante de ter um número mínimo de alunos para abrir uma turma.
“Existem problemas na sociedade que têm, sobretudo, a ver com a componente de formação pessoal”, disse Regina Gouveia, vereadora com o pelouro da educação na Câmara Municipal da Covilhã, sublinhando que, no interior, tal “é inevitável”.
“Temos muitos alunos deslocados e, por isso, a precisarem de uma resposta diferente”, disse a autarca, acrescentando ainda que, sendo uma escola de artes, os alunos têm uma exposição diferente”.
A cerimónia, inserida nas comemorações dos 30 anos da EPABI, contou ainda com representantes da Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP), do POCH – Programa Operacional Capital Humano e da ANESPO.