O quotidiano da vida política parlamentar apresentado em livro de João Mineiro no Oriental

Integrado nas comemorações do seu 69.⁰ aniversário, o CCD Oriental de São Martinho promoveu, na passada sexta-feira dia 20, a apresentação do livro “Fazer Política – Uma etnografia da Assembleia da República”, do covilhanense João Mineiro.

O jovem autor, doutorado em Antropologia pelo ISCTE, em Lisboa, apresentou uma obra sobre o quotidiano da vida política no parlamento português “notável a todos os pontos de vista e pioneira para o futuro”, segundo Manuel da Silva Ramos, escritor covilhanense a quem ficou a tarefa de apresentar o livro.


O consagrado escritor, que relembrou ter ali apresentado o seu livro “Café Montalto” em novembro de 2003 e da “emoção que atingiu os covilhanenses durante quase um mês”, notou que “as associações são importantíssimas em Portugal, e grupos como o Oriental de São Martinho fazem um trabalho considerável ao nível da promoção social, cultural e humana”.

Falando da mais recente obra de João Mineiro, que também reconhece o Oriental como “uma das casas mais importantes do associativismo covilhanense”, Manuel da Silva Ramos disse que o livro “Fazer Política” é um livro “pioneiro para o futuro”. “Tenho a certeza que a partir deste livro outra gente irá falar do Parlamento”, confessou.

“Depois deste livro, e de todos os anteriores, e de todo o seu périplo, é possível adivinhar o que motiva o João: a cultura, a política, o social. Ele já foi longe, irá mais longe, tenho a certeza, pois o João tem uma força interior palpável e que o inunda por todo o lado. Só os humildes vão longe”, rematou Manuel da Silva Ramos.

João Mineiro, que escreveu este livro partindo da sua investigação de doutoramento em Antropologia no ISCTE, revelou que as reflexões que originaram a pesquisa para o mesmo são já antigas e que a sua investigação foi animada por um impulso, uma insatisfação e uma inquietação.

O impulso “de dar um contributo para conhecer melhor esta instituição que decide em nome de todos nós”, uma vez que “todos temos a ideia do que se passa no parlamento através de um frame de televisão que não corresponde, de facto, à quantidade de coisas que acontecem num parlamento e que estão muito para lá dessa transmissão mediática”.

A insatisfação que o levou a querer conhecer a “abstração a que nós chamamos «os políticos» ou «os representantes» ou «os deputados»” porque, “ao contrário do que se pensa, não são todos iguais”, sendo, aliás, “todos diferentes”, tal como o povo que representam, “uma entidade altamente diversa”.

E a inquietação: “Se a palavra «política» era ou não uma palavra da qual devíamos desistir ou se devíamos lutar” porque, para João Mineiro, a política “sempre foi a arte de tentar imaginar uma sociedade melhor para as pessoas que aqui vivem e para as gerações que virão”.

“A política não acontece apenas no Parlamento, não acontece apenas nos partidos, não é feita apenas por políticos. A política é uma dimensão potencial das relações humanas, todos nós podemos ser um potencial ator político. A política é uma forma de a sociedade coletivamente pensar sobre como é que se organiza, e como é que diferentes interesses se compatibilizam quando há problemas que temos de resolver em conjunto”, terminou João Mineiro, destacando o célebre epíteto sobre a democracia, que apesar de imperfeita, “é o melhor sistema que experimentámos até ao momento”.