A comemoração dos 154 anos da elevação da Covilhã a cidade teve como um dos momentos altos a Sessão Solene da Assembleia Municipal, que decorreu durante a manhã no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
Por ser o último “20 de outubro” do atual mandato, vários dos intervenientes fizeram o balanço da atual governação municipal.
Ana Catarina Branco, em nome da coligação “A Covilhã tem Força”, deu destaque à necessária fixação de jovens no concelho e à necessidade de “trazer mais pessoas para que este prospere como um todo”.
“São estes jovens que têm em seu poder a liberdade de querer partir ou ficar. E é aqui que o Município deve apostar em manter a sua população nesta terra, como foi feito em tempos passados, e trazer mais pessoas para fazer com que o Concelho prospere do seu todo. Por isso, são necessárias medidas como a atração de novas empresas, soluções para a habitação com preços justos, melhoramento da área urbana e fomentar as acessibilidades tanto entre as freguesias do Concelho e também entre as freguesias e a cidade”, disse.
Casimiro Lopes dos Santos, do PCP, fez um paralelismo entre o que se passa a nível nacional, com as desigualdades Interior /litoral, com o que acontece no concelho, sustentando que os habitantes das freguesias rurais do concelho são discriminados em relação aos das áreas urbanas.
“Apesar de tudo, metade da população do concelho ainda vive em freguesias rurais, dispersas pelos 555 km quadrados da área. Mas e a igualdade? Queremos que as desigualdades não se acentuem, cidade/campo/aldeias, não vermos no concelho a replicação da dualidade do país litoral interior.
Nos transportes, de Casegas, Sobral de São Miguel, São Jorge da Beira e Verdelhos paga-se o triplo do passe da área Metropolitana de Lisboa para os mesmos quilómetros. E no nosso concelho há desigualdades entre os moradores das aldeias e os da cidade. No espaço urbano, com outro sistema e empresa de transportes, é mais barato”, disse.
Sublinhou ainda as dificuldades das freguesias rurais onde há locais sem acesso a telemóvel, sem escolas e sem estações de CTT, com mobilidade rodoviária difícil.
Avançou com dados do Radar Social da Covilhã, publicado há um mês, que considerou alarmantes, relatando que há 4065 utentes sem médico de família e 1853 idosos em lista de espera para lar público.
A escola pública tem 3065 alunos a menos que em 2009 e tem 326 crianças em lista de espera para creches públicas.
Um concelho com um saldo natural negativo e um salário médio abaixo do praticado na região Centro e no país, contrariamente ao saldo económico/comercial que é positivo.
Joana Rocha, em nome do Grupo Municipal do CDS, sublinhando que este é o último 20 de Outubro antes das próximas eleições autárquicas, propôs refletir sobre o estado do concelho.
Traçou um retrato negro de promessas por cumprir, “não por ser do contra”, mas porque “isso é celebrar a Covilhã”.
“Celebrar a Covilhã não é estar apenas aqui a relembrar o seu passado, a saudar a sua história, esquecendo o presente para não ser incómodo, ou por ser desagradável lembrar o que está mal. Se ser do contra é fazer esse exercício que aqui apelo que façamos, então digam que somos do contra. Se ser do contra é lembrar hoje que estamos a entrar nos últimos meses de mandatos de quem preside este município há 11 anos, com os resultados fracos que estão à vista, então, digam que somos do contra”, disse.
Criticou o resgate de concessão de saneamento em alta aprovado com o voto contra da oposição, vincando que este “vai hipotecar o futuro dos covilhanenses”.
“Vem tarde, mal e arrastado pela necessidade de justificar, por alguma forma, a total incapacidade, inabilidade e inação que foi seu apanágio durante os 11 anos que está no poder. Este é o princípio do fim do atual Presidente da Câmara, no qual, parecendo um fiel discípulo de Nero, decide incendiar as contas do Município para seu gáudio”.
Um município que deu pouca atenção à cultura e ao desporto, ao ambiente e à juventude. Um concelho sem estratégia para o turismo, disse, concluindo que este 20 de Outubro serve para celebrar a resistência dos que ainda cá ficam vendo partir os seus filhos e netos.
Nelson Nascimento, eleito pelo PSD, fez o que denominou de crónica do futuro, considerando a atualidade o passado, e o futuro o presente e, estando algures no futuro, diz que recordar a Covilhã de hoje é “quase anedótico”
“Agora, essa imagem parece uma memória distante, quase anedótica, uma anedota nostálgica dos tempos em que se achava normal a cidade, com tanto potencial, que se contentasse com tão pouco. Mas não nos deixemos enganar. O caminho até aqui não foi inevitável, pelo contrário. Durante anos a Covilhã foi prisioneira de uma forma de gestão que, mais do que governar, parecia empenhada em administrar uma longa espera.
Sim, as infraestruturas básicas estavam lá, sim, as iniciativas culturais eram organizadas com algum grau de entusiasmo, mas faltava algo crucial. Visão. Visão para entender que o futuro não espera e que uma cidade do interior como a Covilhã não pode permanecer sentada a contemplar a paisagem enquanto o mundo à sua volta corre”.
Findas as críticas, fez um exercício de futurologia, afirmando que “uma coligação de forças progressistas foi eleita” e “transformou a cidade”.
“Foi então que algo finalmente aconteceu, não por obra do acaso, nem por uma intervenção divina. Um dia os covilhanenses quiseram algo diferente, quiseram mais e nas urnas surgiu uma coligação de forças progressistas que prometia não apenas gerir a cidade, mas transformá-la e a transformação, como se viria a verificar não seria meramente cosmética”.
Uma visão de futuro onde todos os setores se transformaram, desde a agricultura, à indústria, passando pelo turismo e internacionalização do concelho, tudo porque, concluiu, “o futuro pertence a quem ousou contruí-lo e a Covilhã ousou”.
Os elogios ao atual estado do concelho fizeram-se ouvir quando Nuno Pedro, eleito pelo PS, usou da palavra.
O socialista começou por recordar 2013, quando o PS chegou ao poder na Covilhã, para recordar que nessa altura o concelho estava numa situação financeira “terrível”, para sublinhar que hoje a situação é diferente, para “muito melhor”.
“Felizmente hoje a situação é muito diferente. Mesmo que não tivesse mais nenhum mérito, que tem, permite aos covilhanenses a liberdade de tomarem as opções que entenderem melhor servir os seus interesses e os da Covilhã no futuro”, disse.
O eleito passou em revista muitos dos investimentos efetuados, elogiando o retomar da capacidade operacional da autarquia, que não existia, e o investimento em áreas tão fundamentais como a cultura, desporto e educação.
Uma gestão rigorosa que culmina com a decisão de acabar com a concessão do saneamento em alta que, no entender do PS na Assembleia Municipal, “acaba com o grilhão” que prendia os covilhanenses, disse Nuno Pedro.
“Esta decisão vem acabar com um grilhão que pendia sobre a cabeça e as carteiras dos covilhanenses desde 2005, mas cujos efeitos, vá se lá saber porquê, se fizeram sentir de forma mais nefasta a partir de 2013”, disse, realçando que “aqueles que o povo vier a eleger terão a vida mais fácil, para definir as políticas para a Covilhã e o conselho, libertos que estão dos grilhões da dívida e da concessão do saneamento, mas também com a muita obra já feita. Terão condições para encetar novas políticas e materializar outras ambições”, disse.
João Casteleiro, presidente da Assembleia Municipal, encerrou a sessão comum discurso onde realçou as qualidades da Covilhã e do seu povo.
Destacou a persistência e a resistência dos covilhanenses desde os tempos mais remotos.
Gentes “com capacidade de renovação a cada dia que passa”, “ora convergindo, ora divergindo, mas sempre a bem das populações”, sublinhando, desta forma, o ambiente que se vive na Assembleia Municipal.
“Assim tem sido o ambiente vivido na Assembleia Municipal a que, com muita honra, presido. A casa da democracia pois ali se assiste à proximidade do Estado com a população e ali se consubstanciou o legado de Abril.
A minha gratidão vai para todos sem exceção e, particularmente, para os presidentes de junta que, dia após dia, combatem o silêncio e a solidão das populações, fruto ainda das sequelas do COVID e do envelhecimento que, paulatinamente, se instala como uma lei natural e inexorável da vida”
Sublinhou que a Covilhã é hoje uma cidade de múltiplas culturas, uma cidade universitária, com responsabilidade na formação do ser humano.
Elogiou o tecido empresarial que cria emprego e a UBI que forma. Elogiou também os serviços de saúde e as suas conquistas diferenciadoras para a região como a medicina da reprodução, a imunohemoterapia, a infeciologia, a neonatologia, os cuidados paliativos, a ortopedia diferenciada, da coluna, da bacia, da anca e do joelho e a cardiologia de intervenção,
Abordou ainda “a medicina nuclear que a burocracia obriga a ir adiando”, disse.
Um dia para celebrar o passado, o presente e o futuro, sublinhou.
“Hoje é dia de celebrarmos o que fomos, o que somos e, com plena consciência, de questionarmos o futuro, porque tenho a certeza que será o que nós quisermos”, concluiu.