Projeto Matérias: “Ondulância” resulta de meses de trabalho no Bairro das Nogueiras

O projeto “Matérias” desenvolveu uma escultura, num processo de cocriação com os moradores e comunidade do Bairro das Nogueiras, no Teixoso. “Ondulância” resulta de vários meses de trabalho nas oficinas performativas, revela Ana Mena, promotora do projeto, na inauguração da exposição.

“Esta exposição resulta do projeto «Matérias» e a obra que nós hoje apresentamos é a «Ondulância», que resulta dos encontros que nós tivemos ao longo de vários meses, nomeadamente das oficinas performativas, feitas através da atriz Sílvia Pinto Ferreira, da Quarta Parede, e das oficinas de tecelagem dinamizadas pela Andreia Félix e João Lazaro do Museu dos Lanifícios. Esta escultura surge das partilhas que nós tivemos destes workshops e dos fragmentos têxteis feitos a partir dos desperdícios das fábricas da Covilhã”, acrescenta.


A importância da utilização de desperdícios têxteis das fábricas da Covilhã para a construção da obra é destacada pela escultora. “É importante. Primeiro por uma necessidade de reciclagem a todo o nível, depois porque sabemos que a indústria têxtil é das mais poluentes e depois por alguma dificuldade que as fábricas locais têm em reciclar”, esclarece Ana Mena.

Em declarações à RCC, a artista explica que, apesar de já ter realizado outros projetos de arte participativa, esta foi a primeira vez que fez um projeto do género, com este tipo de materiais. Ana Mena decidiu “propor que um grupo de pessoas desenvolvesse a escultura comigo”, “ao invés de fazer a obra sozinha e apresentar no fim”, diz.

A obra, realizada nas oficinas, contou com 18 participantes assíduos que, de 15 em 15 dias, se reuniram, ao longo dos últimos meses, para transformar os desperdícios têxteis numa obra de arte. “Eu lancei o desafio deles fazerem fragmentos têxteis e disse-lhes que, com o bocadinho que cada um iria fazer, no fim ia surgir uma escultura. Foi muito bom e estamos a falar de pessoas que são habitantes do Bairro das Nogueiras, como também de pessoas que vivem no Teixoso e que fazem parte da Associação Grande Roda, uma das parceiras do projeto, outros habitantes do Teixoso e também tivemos duas pessoas da Borralheira”, assegura.

Ana Mena não tem dúvidas de que a participação nestas oficinas performativas “é muito importante” para os habitantes do Bairro das Nogueiras, uma vez que todos “sabemos quais são os preconceitos que existem em torno dos bairros sociais”. A artista mostra-se satisfeita de ter reunido estas pessoas e de as ter conseguido levar a visitar o Museu dos Lanifícios.

“Nós conseguimos reunir, de um modo assíduo, várias pessoas que vivem em contextos diferentes. Isso foi logo um objetivo que conseguimos e com o qual ficamos muito contentes. Dentro das oficinas, fomos até ao Museu dos Lanifícios. É importante, para dinamizar a parte cultural, levar as pessoas aos espaços museológicos, porque sabemos que não são hábitos que as pessoas têm e que é importante”, explica.

A escultora adianta, ainda, que o projeto “Matérias” vai ter duas oficinas performativas direcionadas para um público escolar, nas quais “as crianças saem da escola (do Teixoso) e vêm ao bairro”. “Estamos a falar de vários públicos, de faixas etárias diferentes, em que temos objetivos distintos e que, no nosso entender, são fundamentais para as comunidades”, afirma Ana Mena.

Apesar de ser um «trabalho em progresso», o projeto “está a ter um impacto muito positivo”. A escultora adianta que “já pensámos em dar continuidade ao Matérias, ainda não sabemos em que moldes, mas é possível que continue”.

A exposição da obra “Ondulância” foi inaugurada terça-feira, dia 8 de outubro, na Garagem 33 (Bairro das Nogueiras, Teixoso) e vai estar patente, no final do ano, no Museu dos Lanifícios.

Esta é uma iniciativa financiada pela Direção Geral das Artes, DGartes e Município da Covilhã.