32 crianças vítimas de violência doméstica em 10 meses na Cova da Beira

O Gabinete de Apoio Psicológico e Terapêutico para Crianças e Jovens vítimas de violência doméstica da Coolabora, entre 1 de janeiro e 31 de outubro deste ano, atendeu 32 crianças e jovens vítimas de violência doméstica no território da Cova da Beira.

A estes casos juntam-se 69 que já eram acompanhados em anos anteriores.


No total o gabinete realizou 805 atendimentos presenciais, sublinhou Ana Raquel Bernardino, psicóloga do gabinete, hoje durante uma sessão aberta da rede Violência Zero realizada no Salão Nobre dos Paços do Concelho, na Covilhã.

A técnica mostra preocupação com o facto de se registarem casos cada vez mais graves.

“O que antes era sintomatologia passa a perturbação e preocupa-nos muito este aumento que tem sido significativo”, disse.

Segundo relata a faixa etária predominante é dos 7 aos 10 anos, com 30,7%, seguida dos 16 aos 18 anos com 21,7%, realçando, contudo, que houve um aumento de crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 6 anos, correspondendo a 16,8% dos casos, algo que é, também, “muito preocupante”, uma vez que há um impacto cada vez maior e em idades muito precoces.

Sublinha que a violência psicológica está presente em todos os casos, a violência física está em 29,7% dos casos, e, em 7,9% há violência sexual, tendo-se registado um aumento nesta área.

“Temo-nos deparado com pedidos de ajuda para crianças vítimas de violência sexual, já corresponde a 7,9%, quando no ano passado correspondia a 2%. É significativo”, realça, vincando que se “está a falar de crianças muito pequenas, entre os 5, 6 anos de idade”.

A psicóloga sublinha que, maioritariamente, os agressores são masculinos.

Revela que apesar de apesar de as queixas serem das crianças, o foco problemático não está nelas.

O foco problemático continua a ser a dinâmica do casal, ou ex-casal, que continua a ter conflitos na cabeça destas crianças, que veem momentos de agressão verbal e física, para além de muita instrumentalização, o que leva a que estas queixas surjam”, disse.

As problemáticas mais apresentadas pelas crianças e jovens são comportamentos de internalização, nomeadamente, ansiedade, depressão e isolamento social e comportamentos de externalização, como hiperatividade, impulsividade, agressividade e desafio a figuras de autoridade, foi também relatado na sessão.

A sessão pública da Rede Violência Zero realizou-se no âmbito do Dia de Internacional Eliminação da Violência Contra as Mulheres que se assinala na próxima segunda-feira, dia 25.

“Um atentado contra os direitos Humanos”, disse Graça Rojão, da Coolabora, referindo-se à violência sobre as mulheres.

Algo que é transversal, que se verifica em todos os estratos sociais e etários, principalmente porque ainda há desigualdades entre homens e mulheres, apontou.

“Há uma relação de poder, uma cultura patriarcal e é essa cultura que torna natural aquilo que não devia ser, nomeadamente a tolerância em relação à violência”, disse.

Para assinalar o dia está marcada para segunda-feira, dia 25, uma marcha entre o Jardim Público e Praça do Município, a partir das 18:00, acompanhada por palavras de ordem e cartazes.

Na Praça será feita a leitura participada do Manifesto “Basta de Violência Contra as Mulheres e raparigas”, construído colaborativamente por várias pessoas e organizações.

Segue-se uma performance com bandeiras que simbolizam as mulheres assassinadas e que têm inscritas palavras ditas por mulheres sobreviventes de violência doméstica. Essas palavras serão queimadas, uma a uma, simbolizando a luta contra esta forma de violência.

Pode ler o manifesto AQUI