A mostra que está patente na Tentadora, em pleno centro histórico da Covilhã, põe frente a frente resíduos de plásticos encontrados no mar, Plasticus maritimus, e os encontrados na Serra da Estrela, Plasticus serranitus. Uma iniciativa que pretende pôr em evidência que num e noutro local, estes resíduos são um problema maior do que serem lixo.
Trata-se de uma iniciativa da associação Mistaker Maker, com a colaboração de Ana Pêgo, bióloga e artista, com o objetivo de mostrar que mesmo objetos comuns, do dia a dia, perdidos na Covilhã podem chegar ao mar, aponta a artista.
“Com esta exposição, pretendo que as pessoas encontrem aqui objetos do dia-a-dia, que poderiam ser seus e que, infelizmente, acabam no mar”, disse a artista em declarações à Rádio Clube da Covilhã.
Aponta que, “mesmo quando estamos em sítios longe do mar, há, por exemplo, as beatas de cigarro ou até coisas que as crianças perdem, como um brinquedo ou chucha do bebé e basta chover, ou haver lavagens de estradas, que pelas sarjetas, pelas linhas de água, acabam por seguir ribeiras, rios e chegam ao mar”, detalha.
Na outra parede da sala, quase que em confronto, está o outro “ser”. O “plásticus serranitus”, aquele que se encontra quando a neve derrete na Serra da Estrela. Os sacos, os restos de trenós, mas também há peças de automóveis, garrafas e muito mais, que ali fica depois da brincadeira. E fica por muitos anos, como provam os microplásticos que já se encontram em todas as lagoas da serra, alerta Lara Seixo Rodrigues, presidente da Mistaker Maker.
“As pessoas acham que aquilo fica ali e desaparece, mas a verdade é que não é assim. Fica ali”, realça, explicando que na mostra há imagens do estudo que foi concluído agora sobre os microplásticos nas Lagoas da Serra da Estrela, sendo essa uma parte mais científica da mostra. São imagens concretas das lagoas e dos resultados do estudo.
É lixo que “não fere só os olhos, é mais do que isso. Fere-nos a todos nós, porque já há microplástico que está dentro”, aponta, dando conta que este “é um macroproblema”. O plástico “está dentro da cadeia alimentar, de nós próprios, já, neste momento”, alerta, vincando que cabe a cada um “ser sensível a isto”, encarando que “estamos na base do problema. Se nós todos tivermos comportamentos diferentes no nosso dia-a-dia vamos colmatar outras coisas que vêm a seguir”, disse.
Ana Pêgo vive próximo do mar e foi assim que começou a sua recolha, criando o “plásticus maritimus”, e a exposição que anda pelo país inteiro para alertar e sensibilizar miúdos e graúdos para um problema que é real. E não é de agora, mas antes não havia tratamento de resíduos o que pode “desculpar” alguns achados mais antigos.
“Há coisas antigas que encontramos e ficamos sempre muito chocados quando encontramos um objeto que tem 30, 40 ou 50 anos, mas na verdade, nessa altura não havia uma gestão de resíduos no nosso país. E, portanto, havia lixeiras, havia lixeiras a céu aberto. Havia algumas lixeiras que eram enterradas em determinadas zonas e que, com o tempo com a erosão, acabavam por se destapar de vez em quando aparecem objetos antigos em que conseguimos identificar até prazos de validade”, relata.
“Mas choca-me profundamente encontrar coisas recentes, como, por exemplo, cápsulas de café e as garrafas de água e garrafinhas de iogurtes líquidos que aparecem uma grande quantidade, e não se compreende, não é? Numa altura em que existe gestão de resíduos, existem contentores, fala-se tanto nestes assuntos em todo o lado”, lamenta.
Dá conta também que já encontrou objetos que “vieram dos Estados Unidos e do Canadá, algumas delas relacionadas com a pesca”, assim como há “coisas nossas que circulam do outro lado”, disse.
A exposição encerra no dia 30 de novembro, às 15:30, com a presença de investigadoras do EcoLab Estrela, que vão apresentar os resultados do estudo que realizaram sobre a presença de microplásticos nas lagoas da Serra da Estrela.
Antes, para além da mostra, há outras atividades propostas. Nos dias 13, 20 e 27 de novembro, quartas-feiras, vão decorrer visitas guiadas à exposição para as escolas.
Nos dias 12 e 13 de novembro decorre a iniciativa “Cinema Insuflável”, na Praça do Município, onde serão projetados filmes, formato curta-metragem, sobre o tema da sustentabilidade, em específico a problemática dos plásticos. Esta atividade é de acesso gratuito, mas requer inscrição obrigatória para o e-mail info@mistakermaker.org.