A Plataforma P´la Reposição das SCUTs na A23 e A24 reuniu, na passada sexta-feira, vários especialistas e representantes dos Partidos com Grupo Parlamentar para debater “o interior e o futuro sem portagens”. A conclusão foi unânime: ainda “há muito para fazer”.
Nuno Fazenda, Deputado do PS eleito pelo círculo eleitoral de Castelo Branco, reforçou a ideia de que “o interior não é uma prioridade” para o Governo e que isso está demonstrado no Orçamento de Estado para 2025. Apesar disso, “há uma medida boa”, a “eliminação das portagens”. O Deputado não deixou de referir que esta medida foi apenas “o último passo” de um longo percurso.
“A eliminação das portagens não é de 100%, no sentido que é de 0 para 100. Nós, quando chegámos a esta decisão, já trazíamos 65% de redução das portagens. Portanto, tratou-se de dar o último passo e esse passo é uma vitória para o interior como um todo, é uma vitória da Beira Interior e é uma vitória da Sociedade Civil”, afirmou.
O Deputado do PS acrescentou que, embora tenha sido um processo demorado, tem-se apostado e investido na ferrovia, o que representa “um passo em frente para melhorarmos” a nível da mobilidade e dos transportes.
“A linha da Beira Baixa não está perfeita, mas é verdade que, ao fim de 10 anos, foi reaberta. A linha da Beira Alta demorou mais tempo do que aquilo que era expectável, vão reabrir troços e ontem o senhor ministro das infraestruturas referiu que, até ao final do primeiro trimestre de 2025, será reaberta toda a linha da Beira Alta”, garantiu.
João Ribeiro, Deputado do Chega, eleito pelo círculo eleitoral de Castelo Branco, acredita que é “ridículo” pagar a A23 e a A25 uma vez que “não temos outra estrada”. O Deputado não tem dúvidas que esta situação acentua as diferenças que o país tem com outros países, nomeadamente Espanha.
“Se nós queremos ser competitivos, a nível ibérico, não podemos ter portagens. Não se concebe essa ideia. Nós já temos um combustível mais elevado do que os nossos vizinhos espanhóis, se acima disto adicionamos a portagem, esta diferenciação seria ainda pior”, confessou.
O Deputado do Chega afirmou, ainda, que “quem está no governo só quer saber do interior do país para ter votos” e destaca que o interior está muito mal servido em termos de transportes, dando o exemplo da longa duração de uma viagem de comboio até Lisboa.
“O comboio demora quatro horas e meia daqui para Lisboa. Ir e vir é um dia de trabalho. É ridículo nós estarmos a dizer que temos sorte em ter o comboio. Isto é de ir às lágrimas”, lamentou.
João Ribeiro admitiu que no interior “não pedimos uma discriminação positiva”, mas sim um “direito que temos”, o da “igualdade”.
Inês Antunes, representante do Bloco de Esquerda, parabenizou a plataforma pela “vitória”, mas admitiu que o trabalho ainda não está concluído.
“Há muito a fazer pela coesão territorial, pela mobilidade, por alterações a uma forma de mobilidade mais sustentável, nomeadamente com a ferrovia”, admitiu.
A representante do Bloco de Esquerda mencionou a sugestão de um passe intermodal adaptado para a ferrovia e para os autocarros, “de forma a poder chegar a estas regiões”. Inês Antunes acredita que “é necessário mais investimento na linha ferroviária”, incluindo a questão dos horários.
“A questão dos horários também é premente porque, se não há horários acessíveis a todas as pessoas, não é eficaz ter estes tipos de medidas. Mas é também pensar na oferta que existe para as pessoas utilizarem e para que possam ter a ligação entre os vários transportes”, admitiu.
Por sua vez, Vítor Reis Silva, representante do PCP, admitiu que “sempre defendemos a regionalização como caminho essencial e condição necessária para o desenvolvimento do interior”. O representante do PCP afirmou que “temos problemas para resolver” e que a solução pode passar precisamente pela “aposta na regionalização”.
“Nas vias rodoviárias há uma ligação premente de ligação a Espanha (IC31) e ao Litoral (IC6). Na ferrovia, a concretização do metro de superfície entre Castelo Branco e Guarda. Nos transportes públicos é necessário assegurar a equidade no âmbito da redução tarifária. Quem vive no interior deverá beneficiar de transportes adequados, em conforto, com a redução tarifária praticada nas áreas metropolitanas”, explicou.
Luís Garra, atual coordenador da Inter-reformados e antigo coordenador da União dos Sindicatos de Castelo Branco, fechou a conferência “O interior e o futuro sem portagens” com um recado para Miguel Pinto Luz, Ministro das Infraestruturas e Habitação.
“Senhor ministro das infraestruturas, nem se atreva a passar-lhe pela cabeça voltar atrás com a decisão soberana de eliminação das portagens. Deve ficar muito claro que qualquer veleidade de fazer voltar atrás aquilo que hoje é uma vitória clara terá, da nossa parte, uma reação à altura. Os ministros passam e nós cá continuamos”, rematou.