“Tribunal das Almas”: Livro de Fernando Paulouro cumpre a obrigação de “não deixar esquecer”

“O Tribunal das Almas”, o mais recente livro de Fernando Paulouro Neves, fala sobre os tempos da Inquisição. Um tema escolhido porque o escritor tem a “obrigação de não deixar cair nada no esquecimento”, disse, em declarações à Rádio Clube da Covilhã.

Trata-se de um romance ficcionado, que relata a história verídica de Martinho Pessoa, parente remoto de Fernando Pessoa, que foi queimado vivo no teatro divino do Santo Ofício.


“A inquisição é um fenómeno que durou 3 séculos em Portugal e que deixou um estigma que ainda hoje é visível e, portanto, eu penso que a obrigação dos escritores é não deixarem cair no esquecimento e tornar as coisas mais conhecidas. O Tribunal das Almas é uma história ficcionada, embora sejam reais e verdadeiros o Auto de Fé e as documentações dos presos da Inquisição, mas é um livro de ficção”, relata.

Detalha que a personagem principal “é um herói trágico. É uma pessoa que nasceu em Idanha-a-Nova, viveu no Fundão, teve até empresas na Covilhã. Um parente afastado de Fernando Pessoa que foi queimado vivo em 1747”.

Afirma “que essas pessoas, esses nomes, devem ser resgatados do esquecimento”, apontando esta como uma das razões para a obra ter nascido.

O escritor defende que escrever sobre este tema é colocar o dedo na ferida, “uma ferida coletiva” de Portugal.

“Porque é uma ferida coletiva da história portuguesa e para a qual nós olhamos pouco, portanto, eu julgo que ao fazê-lo cumpri esse dever, que é a obrigação de quem escreve”, disse.

Um livro que segundo refere à nossa reportagem também fala de liberdade e, por isso, faz todo o sentido que seja lançado durante as comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos.

“As cidades e a história não são só feitas de chás e alegrias. Os dramas, aliás, acho que se sobrepõem sempre. Se formos ver em Portugal há um tempo muitíssimo longo de ausência de liberdade. Além dos 300 anos da Inquisição, houve a ditadura, houve o absoluto, o absolutismo real, portanto, Portugal é um povo que, sendo dos mais antigos da Europa, é dos que menos liberdade viveu”, vinca, para concluir que “o livro tem sentido ser incluído nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Não deixa de ser um grito, uma denúncia, e um grito de liberdade. Portanto, acho que combina bem com essas comemorações”.

O livro foi apresentado na sexta-feira, dia 29, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, na Covilhã. Já antes tinha sido lançado no Fundão e, segundo o autor, está a ter “uma aceitação excelente”.