A aldeia da Bouça, Cortes do Meio, está a aprender a agir em caso de incêndio. Sendo uma aldeia que corre um risco acrescido de perigo, torna-se importante que os habitantes saibam o que fazer e para onde se deslocar, de forma a ficarem em segurança, disse Luís Marques, coordenador municipal da Proteção Civil, à margem da apresentação do programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras”.
“A aldeia da Bouça é uma aldeia prioritária porque está inserida em território florestal. Tem apenas um ponto de entrada, que é também o ponto de saída e isso representa um risco acrescido. Se tivermos um incêndio entre Cortes do Meio e a Bouça, os meios de socorro podem não chegar a tempo e é preciso que as comunidades locais saibam o que fazer, saibam de que forma é que é que têm de agir nestas situações e consigam, dentro do espaço da sua aldeia, salvaguardar-se até que possam chegar os meios de socorro”, explicou.
Luís Marques enfatizou a importância de sensibilizar as populações para a limpeza à volta da aldeia, “um dos aspetos fundamentais da prevenção e da segurança das comunidades”. A título de exemplo, mencionou o caso recente dos incêndios nos Estados Unidos, onde não há regras implementadas e as casas estão construídas dentro da floresta, o que levou à destruição de muitas habitações.
O coordenador municipal da Proteção Civil referiu que o município da Covilhã tem vindo a adotar uma estratégia da limpeza de 10 metros à volta das vias de comunicação. “O ano passado realizaram-se 66km, este ano vão realizar-se mais 52km. Essa é a responsabilidade do município”, assegurou.
Ao nível de sinalética, Luís Marques mencionou os sinais espalhados pela aldeia, em pontos estratégicos, de modo a que os habitantes e os visitantes saibam para onde se dirigir em caso de perigo. Há, ainda, um mapa de evacuação que permite os turistas identificar o local exato onde estão e encontrar os locais de abrigo e de refúgio.
Relativamente aos mecanismos de aviso, o coordenador municipal da Proteção Civil destacou o trabalho do oficial de segurança local, o “responsável por emitir o aviso para a população, seja através do toque a sinos a rebate, seja porta-a-porta, seja através do megafone, para chamar toda a gente e avisar do perigo”. O oficial de segurança é alguém que conhece a aldeia e as pessoas e que tem a missão de as levar para um sítio seguro.
Ao oficial de segurança da aldeia da Bouça, nomeado no sábado, durante a apresentação do programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras”, foi entregue um kit de abrigo, que inclui um megafone, dois focos de energia e um kit de primeiros socorros. Este kit vai facilitar o encaminhamento das pessoas para o local de abrigo.
O abrigo e o refúgio, situados no Grupo Desportivo da Bouça e no largo junto ao Café, respetivamente, são considerados os “locais mais seguros”. Numa situação de incêndio, por exemplo, é para o abrigo que todos se devem dirigir. Em caso de evacuação, o refúgio é local onde as pessoas se devem concentrar, para que o processo decorra da forma mais rápida possível.
“Para local de refúgio definimos o largo, ao pé do café, porque é o sítio mais amplo, onde há menos risco, onde não há grande floresta à volta e para onde as pessoas se devem deslocar em caso de incêndio. Já o local de abrigo é a sede do Grupo da Bouça, onde as pessoas podem ficar durante algum tempo. Em conjunto com a junta de freguesia vamos operacionalizar ter cá águas, alguma coisa que as pessoas possam comer durante o tempo necessário a chegarem cá os meios de socorro”, disse Luís Marques.
Quanto à evacuação, o coordenador municipal da Proteção Civil explicou que este é um “processo muito difícil” e que se deve “evitar ao máximo”, sendo que obriga a muitos cuidados, mas, em caso de necessidade, destacou a importância do pré-evento, ou seja, a preparação para a eventualidade.
“Aquilo que nós queremos transmitir é que estamos a trabalhar no pré-evento e isso é a parte mais importante. Não esperar que venha o grande incêndio, não esperar que venha a grande inundação, não esperar que ocorra um sismo, para fazermos alguma coisa. Devemos planear e antecipar para que os cidadãos estejam cada vez mais seguros e para que consigamos minimizar as ocorrências. Mais vale prevenir do que remediar”, conclui o coordenador municipal da Proteção Civil.
No entanto, no caso da evacuação da aldeia ser a única opção, os habitantes da Bouça vão ser transportados para uma zona de concentração e apoio à população, nomeadamente no Pavilhão de Cortes do Meio, no Pavilhão do Unidos do Tortosendo ou, ainda, na Escola do Paul.
António Fonseca, em representação da Autoridade Nacional de Proteção Civil, salientou que “fugir da aldeia é o pior a fazer” e destacou o objetivo do programa em promover o espírito de organização e de entreajuda entre os habitantes, de modo a lutarem juntos em situações de crise.
“Isto não é mais do que tentar recuperar aquilo que as populações fizeram durante séculos, que era organizarem-se. A partir da II Guerra Mundial, sobretudo quando começou a haver uma emigração massiva das nossas aldeias, os laços de proximidade que havia entre as pessoas começaram a romper-se. E este programa tem como objetivo promover esse espírito comunitário de entreajuda”.
Jorge Viegas, presidente da Junta de Freguesia de Cortes do Meio, relembrou ou incêndios de 2017 e referiu a importância da existência de medidas de prevenção que permitam a proteção de pessoas e bens.
“Todos se lembram de uma das últimas catástrofes da nossa freguesia. Os incêndios de 2017 chamaram-nos muito à atenção para a necessidade de tomarmos medidas de prevenção. Não tanto de atuação, porque quando estamos a atuar as coisas já estão descontroladas, mas acima de tudo de prevenção e de proteção daquilo que são as nossas pessoas, a nossa comunidade e os seus bens”, disse.
Hélio Fazendeiro, em representação da Câmara Municipal da Covilhã, afirmou que as “pessoas são as principais responsáveis pela segurança”, destacou que “o comportamento e a consciência individual são essenciais” e pediu que se passasse a mensagem, uma vez que “toda a comunidade é determinante para a forma como se vive”.
“A Covilhã é uma terra segura, a Covilhã é um concelho seguro, preparado para dar resposta às necessidades e à segurança das pessoas que aqui estão, para fazer face às circunstâncias imprevistas. Como diz o ditado, preparando-nos para o pior, mas esperando o melhor. E nós, no nosso concelho, estamos preparados. Planeamos o que temos de fazer, procuramos ter os meios e os recursos para qualquer eventualidade e isso dá-nos confiança e segurança na forma como podemos enfrentar o futuro”, afirmou.
Recordar que o programa “Aldeias Seguras, Pessoas Seguras” foi implementado em Trigais há dois anos, e, no ano passado, em Casal de Santa Teresinha, Pereiro e Vale Cerdeira e nos Cambões. Este sábado, dia 29, foi a vez da aldeia da Bouça e vai ser, ainda durante o ano, uma realidade para Gibaltar, Atalaia e Relvas.