Ferrovia: Covilhã exige menos tempo na ligação a Lisboa e “metro de superfície” até ao Fundão

A Câmara Municipal da Covilhã, no que respeita à ferrovia, continua a reivindicar junto do Governo um “investimento justo e adequado”, com destaque para intervenções na Linha da beira Baixa que permitam encurtar o tempo na ligação a Lisboa e o projeto piloto de metro de superfície até ao Fundão.

As ambições da Covilhã foram sublinhadas ontem, ao final da tarde, por Hélio Fazendeiro, chefe do Gabinete do Presidente da Câmara Municipal da Covilhã, na conferência “Linha da Beira Baixa nos carris de um futuro mais verde”, que decorreu no Auditório Municipal da Covilhã.


O também líder da bancada socialista na Assembleia Municipal relembrou a inúmeras moções aprovadas sobre a matéria e os contributos da autarquia para o Plano Ferroviário Nacional, que foram ignorados.

Foi também muito crítico da opção vertida no documento que coloca a requalificação da Linha da Beira Baixa à espera da conclusão da ligação Aveiro – Vilar Formoso, que não se sabe quando irá acontecer.

“O melhor que hoje a Linha da Beira Baixa pode esperar é que, depois da linha de ligação Aveiro – Vilar Formoso acontecer, que não se sabe quando é, os responsáveis políticos olhem para a Linha da Beira Baixa. Isto é um absurdo, não faz nenhum sentido”, disse.

Sublinha que a “ferrovia é um instrumento extraordinário para a mobilidade de pessoas e mercadorias”, vincando que a Câmara Municipal da Covilhã “tem reivindicado a redução do tempo de viagem Covilhã – Lisboa em 45 minutos, para 2 horas e 45, o que será interessante para competir com o transporte individual”, disse

Hélio Fazendeiro sublinhou que se “mantém a expectativa” de que a as obras “necessárias e urgentes” para manutenção na Linha, que está sobrecarregada com o encerramento da Linha da Beira Alta, sejam “utilizadas para requalificar e rever determinados aspetos na linha que permitam reduzir este tempo de viagem”.

Para além destas reivindicações na linha, que requerem mais investimento, Hélio Fazendeiro também recordou propostas “exequíveis e concretizáveis, sem necessidade de grandes condições de financiamento”, entre elas o “metro de superfície Covilhã/Fundão”.

“Com investimento relativamente reduzido, e eu diria até que se o problema é de investimento as Câmaras conseguirão organizar-se para ajudar na causa, que é o metro de superfície”, disse, apontando que as Câmaras da Covilhã e do Fundão propuseram o projeto piloto à CP e à IP, para “demostrar a utilidade a viabilidade financeira deste transporte”.

Sublinha o “extraordinário movimento pendular” entre as duas cidades, vincando que se justifica “pelo menos nas horas de ponta, de manhã e final do dia, um serviço urbano que seja “frequente, fiável e a um custo aceitável”.

Foi também sublinhado que a CP deveria explorar mais o pendor turístico da região, como o pessegueiro e as cerejeiras em flor, ou a neve e os desportos de natureza. Hélio Fazendeiro deu conta que, da parte da Câmara Municipal da Covilhã, há essas propostas, para além da adequação de horários de autocarro às chegadas de comboio.

Frisa também que, após a reabertura da Linha a Beira Alta, é fundamental haver intercidades que liguem esta região ao Norte.

“Temos de ter um serviço de intercidades que liguem a Covilhã a Norte, a Coimbra, a Aveiro, ao Porto ou a Braga. Temos francas expectativa de que, quando reabra a Linha da Beira Alta, esse serviço possa ser prestado”, disse.

Na conferência participou também Susana Batista, Diretora de Supervisão na AMT (Autoridade da Mobilidade e Transportes) que apresentou o estudo que a entidade está a realizar sobre a mobilidade integrada na Beira Interior, em que se aponta a ferrovia como solução, mas alertando para outros aspetos como a flexibilidade, quer nos percursos quer nos horários.

“O estudo destaca a necessidade de desenvolver soluções ao nível da oferta de serviços de transportes, incluindo os vários modos: coletivos, individuais, regulares e flexíveis. A informação, como espeto fundamental e o acesso facilitado por via do tarifário e da bilhética”, disse

Designando a região como “Bacia de mobilidade”, propõe-se que a acessibilidade para a Beira Interior seja organizada em três camadas.

“O eixo principal que liga as cinco sedes de município, Guarda, Belmonte, Covilhã, Fundão e Castelo Branco. Depois o acesso às sedes dos municípios e por fim a distribuição no restante território”, disse.

Propõe-se, no estudo, que seja criado um serviço ferroviário expresso, que ligue os 5 municípios e com paragem nessas estações, com tempo de viagem próximos da rodovia, e que seja complementar aos regionais com mais paragens.

Um estudo ainda em fase preliminar e que carece de maior aprofundamento, disse também a responsável.

Filipe Santos, da Associação Move Beiras, deixou clara a importância da ferrovia no desenvolvimento da região, apontando a importância dos apeadeiros para as pequenas populações.

“Na Benespera, à conta da ferrovia, conseguiu-se criar uma base regional de escuteiros e num ano e meio recebemos mais de mil jovens sempre através do comboio. Para uma aldeia que está despovoada a ferrovia vem trazer um serviço que é fundamental: dar vida e dar capacidade para as pessoas irem a algum lado”, disse.

O presidente da associação que tem sede na Benespera apontou a necessidade de adequar horários de autocarros aos comboios, pois só assim a ferrovia pode ser alternativa.