No concelho do Fundão, no incêndio que começou a 13 de agosto em Piódão, arderam perto de 10 mil hectares de florestas e campos agrícolas, com os prejuízos já contabilizados a ascenderam a 20,8 milhões, na área agroflorestal privada.
Aqui falta ainda somar a parte pública e habitações, podendo chegar-se aos 50 milhões de euros, avançou Paulo Fernandes.
“Nos levantamentos da parte privada (agrícola e florestal) atingimos um valor de 20 milhões 815 mil euros, na vertente associada a áreas como pastagens, arvores, vinhas, pomares, olivais, cerejais, diferentes tipos de florestas e equipamentos relacionados com a vertente agrícola. Tudo isto, sem estruturas de perfil coletivo, público e habitações. Este é o limiar mínimo”, sublinhou.
Dá conta que “falta ainda apurar muitas vertentes” e por isso mantém que o prejuízo pode chegar aos 50 milhões de euros.
O presidente da Câmara Municipal do Fundão falava a reunião pública da autarquia, esta terça-feira, dia 2.
Aponta que o incêndio afetou 15 aldeias e lugares do concelho, que foram “trespassados pelo fogo”. Paulo Fernandes apontou ainda que destes prejuízos já contabilizados cerca de 14 milhões são de florestas e estes deveriam ter também apoios.
“Temos o triste marco na nossa história que é estar no maior fogo de sempre no país”, disse, mostrando solidariedade para com os restantes concelhos que foram afetados pelo incêndio que começou em Piódão.
Paulo Fernandes alertou ainda para os riscos ambientais e para o que poderá acontecer com as primeiras chuvas, que para além de prejuízos podem por em causa a qualidade da água nas bacias dos rios Zêzere, Tejo, Mondego e até do Douro.
“Temos o enorme problema que tem a ver com a sustentação nas cumeadas e vertentes declivadas, de cinzas e terras que, aquando das chuvas, se podem transformar em armadilhas do ponto de vista da segurança, mas também devido à sua vertente destrutiva no ecossistema e no transbordo”, alertou.
“Vamos ter situações muitíssimo graves se nada for feito, porque está em causa a bacia do Zêzere, do Tejo, do Mondego, e até do Douro com o rio Coa, embora de forma mais indireta, mas também está afetado”, apontou.
Reconhecendo que a força de combate a este incêndio esteve no povo, sublinhou que, como autarca, e fazendo por isso parte do Estado que falhou à população, tem de pedir desculpa. Houve ajuda de forças no terreno em especial da GNR, “que salvou muitas vidas”, mas o efetivo não chegou a todo o lado.
“Quando o Estado falha, falhamos todos, e só o povo não falhou. O povo bravo esteve sempre lá. Quando o resto não estava, não existia, não acudia, quando não havia mais nada, lá estava o povo que é absolutamente incrível”, disse.
Durante a reunião, Joana Bento, vereadora eleita pelo PS, visivelmente emocionada, relatou os momentos de aflição, ao ver a sua terra a arder, criticando a “politica do deixa arder”.
“Peço aqui que olhem para o Pinhal como se de alguém se tratasse. Cada pinheiro que arde é um golpe duríssimo na vida de alguém. Um golpe duríssimo na nossa identidade. O Pinhal, a zona do Pinhal, não é uma área protegida, fica à mercê da sua sorte, sempre foi assim. Até quando? Olhem com urgência para o Pinhal Interior. A floresta sangra. Perdemos a fauna, a flora, abelhas aos milhares. Perdemos e sangramos demasiadas vezes de forma injusta”, relatou.
“A floresta é vida e não se pode continuar a deixar as pessoas entregues a si próprias”, disse.
Realça ainda que o Município do Fundão deve pugnar por ter unidades de proteção civil locais, em especial na zona do Pinhal e que o posto da GNR de Silvares deve ter os seus meios reforçados.
“O concelho do Fundão tem de ter, pela sua especificidade, meios de defesa e de combate estrategicamente colocados. Seria Importante que o Município do Fundão fosse ao encontro das comunidades na vontade de terem ao seu dispor unidades de Proteção Civil Local”.
Sublinhou também que é necessário “reforçar os meios da GNR de Silvares, que serve com prontidão uma extensa área de território de dois concelhos”.
O incêndio que deflagrou em Arganil no dia 13 de agosto apresenta a maior área ardida de sempre em Portugal, com 64 mil hectares consumidos, segundo o relatório provisório do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas.
Afetou também os concelhos de Pampilhosa da Serra, Oliveira do Hospital, Seia, Covilhã, Fundão e Castelo Branco.