Sérgio Godinho é doutor pela UBI. Reitora avisa que UBI “não se acomoda”

A cerimónia de Abertura Solene do Ano Académico na UBI ficou marcada pela atribuição a Sérgio Godinho do Doutoramento Honoris Causa. Na sua intervenção a Reitora da instituição também falou de futuro e garantiu que a UBI “não se vai acomodar” nem será “mera executora de políticas determinadas ou impostas pela tutela”.

A sessão decorreu ontem à tarde, no grande auditório da Faculdade de Ciências da Saúde, com Ana Paula Duarte, Reitora da UBI, a realçar que se trata de um momento de “celebração da academia e da cultura”, como espelha a homenagem a Sérgio Godinho.


“É motivo de felicidade a UBI associar-se a este reconhecimento. Músico, compositor, poeta, escritor, voz ativa na defesa de um Portugal mais justo, mais inclusivo, mais livre, num momento em que pairam algumas nuvens sobre as conquistas civis, políticas e sociais alcançadas nas últimas décadas. Sérgio Godinho é um exemplo do engenho e da arte, da capacidade de criar, de inovar, de pensar, de ousar, de agir. Ou seja, um exemplo do que procuramos diariamente transmitir aos nossos estudantes”, disse.

Também deu as boas vindas aos novos estudantes e aos alunos internacionais que “transformam a vida da UBI e da cidade numa mescla cultural, étnica e linguística ímpar”.

Sublinhou que a “solidez do projeto da UBI é uma mais-valia inquestionável para toda a região, transformando a Beira Interior num polo de conhecimento, inovação e atração para cidadãos e empresas”.

Com 1.250 novos estudantes neste ano letivo, frisou que a universidade “é atrativa, viva e com uma oferta académica diferenciada e de excelência”.

Uma oferta que será sempre adaptada ao mercado de trabalho, às exigências da sociedade e aos avanços tecnológicos, sublinhou também a reitora.

“A universidade não se pode acomodar, é uma instituição, pela sua natureza, inquieta e em constante transformação”, disse, acrescentando que o seu crescimento não acontecerá “numa lógica mercantilista, mas num quadro que concilie, de forma harmoniosa, a história e a identidade da UBI e os desafios que se colocam ao ensino superior”.

Alertou que a UBI não será uma mera executora de políticas impostas pela tutela, frisando que o ensino superior tem uma palavra a dizer sobre o seu futuro.

“A Universidade não se pode transformar em mero executor de políticas determinadas ou impostas pela tutela. A Universidade enfrenta, com capacidade e resiliência, múltiplas mudanças tecnológicas, digitais, sociais, organizacionais, entre outras. No entanto, o ensino superior precisa de estabilidade, de planeamento, mas, acima de tudo, de ser integrado nos processos de decisão”, disse.

Entre estes processos deu como exemplo “a necessidade de obter da tutela compromissos claros e definidos no tempo sobre o financiamento do ensino superior, as regras de funcionamento e da articulação entre o ensino e a ciência, as condições de promoção para fixar e atrair talento científico para regiões, como a nossa, de menor densidade populacional. Também as regras que pautam o funcionamento e a avaliação da nossa investigação. E, num contexto mais imediato, as regras de acesso ao ensino superior”.

Frisa que “não se advoga uma via de facilitação, alertando que “não cederemos em caminhos que possam significar o estrangulamento e a inviabilidade de instituições localizadas longe dos grandes centros urbanos”.

“Não deixaremos de ser uma voz ativa, por vezes incómoda, na defesa dos interesses da UBI”, garantiu Ana Paula Duarte, salientando a preocupação com a definição de algumas estratégias governativas para o ensino superior, vincando que estas só podem ser definidas ouvindo as instituições de ensino superior.

Sérgio Godinho, o homenageado do dia, sublinhou o orgulho de receber esta distinção na UBI, na Covilhã, uma cidade “próxima, por razões afetivas e familiares”, disse.

Num agradecimento em que enalteceu o papel da palavra nas canções e o poder da música, realçou os que o acompanham neste percurso, rico e enriquecedor.

“Mas quem diz que a música portuguesa não é pujante, não sabe do que está a falar. Não vim até aqui sozinho”, concluiu.

Num rasgo de humor falou da idade e da formação: “Fiz, no final de agosto, 80 anos e, enfim, dois doutoramentos”.

Garante que continua ativo: “Por um lado, editei no ano passado o meu terceiro romance e, nesta primavera, um novo livro de contos, «como se não houvesse amanhã». “Estou já envolvido numa nova aventura literária. Por outro lado, continuo com prazer a pisar os palcos, a usar a voz e o corpo nas canções, a renovar o repertório, e a sentir aquele momento em que a corrente passou e a vida da canção nunca mais será a mesma. Continua assim esta vida de artista, sem saber como parar, mas esperando saber quando parar. Está tudo em aberto”, disse.

Na sessão usaram ainda da palavra João Nunes, presidente da Associação Académica, que, depois de apresentar os vários projetos em que a associação está envolvida, entre eles o apoio social e psicológico aos estudantes bem como o desporto, deu as boas vindas ao novo ubiano.

“Faz sentido relembrar as suas palavras «hoje é o primeiro dia do resto da tua vida». Hoje marcamos o primeiro dia do resto do nosso percurso, que seja um ano repleto de desafios que nos façam crescer, de oportunidades que nos façam brilhar e de momentos que nos façam lembrar o quanto vale a pena pertencer à UBI”, salientou.  

João Casteleiro Alves, presidente do Conselho Geral da UBI, realçou que Sérgio Godinho é a partir de agora “mais um ubiano distinto”, dando-lhe as boas vindas “com um brilhozinho nos olhos”.

Alertou que o sucesso da UBI está indissociavelmente ligado ao contexto que a acolhe, sublinhando que a Covilhã é o seu porto de abrigo, afirmando que “é preciso que os órgãos de governo local e nacional, preparem a cidade para superar as adversidades atuais”. Conclui que tal como as árvores precisam de solo fértil para prosperar, a UBI precisa da região que a acolhe para se afirmar e prosperar.