Depois de um primeiro estudo lançado em 2022, a UBI atualizou os dados sobre “desertos de notícias a 1 de junho de 2025 e pode concluir-se que o cenário, embora de forma ligeira, piorou.
O mais recente estudo sobre “desertos de notícias” em Portugal revela que a crise do jornalismo de proximidade em Portugal mantém padrões já identificados em 2022. O estudo, pioneiro na temática e abrangência, visa indagar as alterações que ocorreram e atualizar o mapeamento dos concelhos onde se verifica a ausência ou escassez de meios de comunicação social de informação geral e de natureza jornalística.
Os dados apurados a 1 de junho de 2025 indicam que 171 concelhos (55,5%) apresentam algum nível de problema na sua cobertura noticiosa local, um ligeiro aumento face aos 166 concelhos registados em 2022.
No caso da Beira Baixa são identificados 19 meios de comunicação (1 meio para 5,3 mil habitantes). Em meios impressos são considerados “desertos” Penamacor, Vila de Rei e Vila Velha de Ródão e como semi-desertos Idanha-a-Nova, Proença-a-Nova e Oleiros. No digital são apresentados como desertos Idanha-a-Nova, Penamacor, Sertã e Vila Velha de Ródão. Como semi-deserto Vila de Rei.
No setor Rádio são desertos Idanha-a-Nova, Oleiros, Penamacor, Proença-a-Nova, Vila Velha de Ródão e Sertã e semi-deserto Vila de Rei.
Um concelho é classificado como Deserto de Notícias quando não possui qualquer tipo de noticiário local, semi-desertos são aqueles que contam apenas com noticiários não frequentes ou ocasionais. São classificados como ameaçado, os concelhos com apenas um meio produtor de noticiário local regular.
O total de concelhos em algum tipo de deserto (desertos totais e semi-desertos) subiu de 78 para 83.
Portugal conta com 45 concelhos classificados como desertos totais (14,6%), uma redução em relação aos 54 registados em 2022. O número de semi-desertos aumentou de 24 para 38 concelhos (12,3%), indicando uma transição na fragilidade da cobertura. Mantiveram-se estáveis 87 concelhos ameaçados (28,3%) entre 2022 e 2025.
No total, mais de metade dos concelhos portugueses (53,9% no estudo inaugural de 2022) enfrentava ou já se encontrava em algum grau de risco de se transformar em desertos de notícias.
As desigualdades territoriais persistem como um desafio significativo. A ausência de meios de comunicação social concentra-se acentuadamente no interior do país, com destaque para as regiões do Alentejo e Trás-os-Montes. Em contraste, o litoral e as áreas metropolitanas, como Grande Lisboa, Porto e Península de Setúbal, apresentam-se praticamente sem desertos.
A sub-região do Alto Alentejo é destacada como crítica, com apenas 9 meios para 103 mil habitantes (dados de 2024). O Alto Tâmega apresenta 15 meios para 78 mil habitantes, ostentando o maior rácio de meios per capita. A Grande Lisboa não registou desertos ou semi-desertos, sendo a Amadora o único concelho identificado como ameaçado.
Em termos de evolução do panorama mediático, o relatório sublinha que o digital se assume como suporte dominante e em crescimento. Desde 2022, verificou-se a criação de 76 novos meios digitais (65 exclusivamente online). À data de levantamento dos dados, 1 de junho de 2025, Portugal contabilizava 891 meios regionais, dos quais 409 são digitais, 399 impressos e 263 rádios.
O relatório reforça a urgência de fortalecer o jornalismo de proximidade, que tem um papel vital na esfera pública.
A crise do jornalismo local, marcada por constrangimentos financeiros e pela migração de receitas para grandes plataformas digitais, compromete o escrutínio político e a promoção da identidade local. A ausência de cobertura noticiosa cria condições favoráveis à proliferação de desinformação.
O relatório, que utilizou a metodologia baseada em registos oficiais da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, propõe-se a ser um instrumento de apoio à formulação de políticas públicas e ao desenvolvimento de práticas profissionais.
O estudo “Desertos de Notícias Europa 2025: Relatório de Portugal” é da autoria de Pedro Jerónimo, Giovanni Ramos, Luísa Torre e Inês Salvador, investigadores do LabCom – Laboratório de Comunicação da Universidade da Beira Interior, Covilhã.