245 vítimas de violência doméstica na Cova da Beira em 10 meses

Até ao final de outubro o Gabinete Prevenção e Combate à Violência Doméstica e de Género da Covilhã, Belmonte e Fundão tem em acompanhamento 245 vítimas. Em todo o ano de 2024 acompanhou 259.

Números avançados ontem ao final do dia, por Graça Rojão, diretora executiva da CooLabora, durante a cerimónia que assinalou o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra as Mulheres, que hoje se celebra.


No Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã, que encheu para assinalar a data, foi ainda sublinhado que destas vítimas mais de 90% são mulheres.

Graça Rojão também realça que em 2024 foram efetuadas 1327 articulações com entidades parceiras da Rede Violência Zero e que nestes primeiros 10 meses de 2025 foram efetuadas 1053.

Números preocupantes se se olhar, também, para o caso de crianças e jovens afetados pela violência doméstica.

A responsável frisa que em 10 meses há mais casos de acompanhamento, 114, que em todo o ano de 2024, 112.

Uma situação que não se vai alterar com leis só com a uma mudança cultural que tem que começar já.

“Não bastam mais leis, não bastam mais punições é necessária uma mudança cultural e essa tem de ser feita por todas e por todos nós”, disse.

“Nós, homens e mulheres, queremos acabar com a violência estrutural que nos atinge. Sabemos que qualquer mulher pode ser vítima, que a violência é transversal e que atinge todas as classes sociais e todas as regiões do país”, apontou.

Sublinha que é preciso “continuar a romper o isolamento das vítimas e a tecer redes de apoio. Precisamos de educar nas escolas e na comunidade para uma vida sem violência e para desmontar o que chamamos de masculinidades tóxicas que as redes sociais tanto têm difundido”, realçou.

Na sua intervenção recordou a estatística do Instituto Europeu para a Igualdade de Género, que sublinha que em Portugal 25% das mulheres, com 15 ou mais anos, sofreram de violência física ao sexual ao longo da vida, para questionar: “quantas mulheres ainda serão assassinadas em 2025, quantas violações ocorrerão, quantos casos de assédio?”.

Também realçou que relatórios do Conselho da Europa, sobre Portugal, sublinham que temos “sanções brandas, processos demorados e falta de formação para a magistratura”.

“Sabemos da persistência de crenças discriminatórias e moralistas, aliás, dizem que as mulheres exageram”, também destacou, para deixar outras questões: quantas queixas serão feitas até final do ano? Quantas serão arquivas?”

Também Hélio Fazendeiro, presidente da Câmara Municipal da Covilhã, apontou que é preciso tomar consciência que a causa principal de insegurança na nossa comunidade é a violência doméstica que tem origem no discurso de ódio alimentado, também, por alguns atores políticos.

“A principal mensagem que eu vos queria deixar é tomarmos, em primeiro lugar, consciência disto: hoje, a causa principal de insegurança na nossa comunidade é esta violência. E isto vem, porventura, muito também da sociedade que estamos a construir e desta ideia macabra que nos querem fazer crer que o outro é inimigo”, disse.

Vinca que o “discurso do ódio, este discurso de violência, este discurso de inveja que hoje é alimentado nas redes sociais, na imprensa, por muitos atores políticos no seu discurso é, porventura, também um contributo para este sentimento de violência, para esta concretização da violência no reduto que nós mais julgávamos sagrado, que é na nossa casa, que é o nosso lar, por aqueles que também nós julgávamos nos tornariam mais protegidos, os nossos filhos, os nossos pais, a nossa companheira, o nosso companheiro. Isso é, de facto, uma desgraça grande que todos temos que combater”, disse.

A CooLabora assinalou esta data com um conjunto de atividades a decorrer desde dia 13 em diversas escolas do concelho, com vista à sensibilização para a problemática.

Nas escolas do concelho está também a exposição itinerante “Grito”. Neste âmbito terá lugar, também, nas ruas da cidade uma campanha contra a violência machista.