Um STARt no mundo do trabalho

A STAR Junior Enterprise, que completou no dia 12 de março o seu primeiro ano de existência, é uma Júnior Empresa de consultoria tecnológica dinamizada por uma equipa multidisciplinar com mais de 20 alunos da Universidade da Beira Interior (UBI). Tendo como uma das suas missões ajudar os alunos que não se sentem prontos para dar o próximo passo a nível profissional, entrar no mercado de trabalho. A STAR funciona como um laboratório, no qual os estudantes envolvidos conseguem desenvolver-se pessoal e profissionalmente,  num ambiente muito semelhante a uma empresa comum do mercado de trabalho.

Ao conquistar o Status de Júnior Empresa (JE) no início do mês de março, a STAR é a primeira JE da UBI e é a segunda Júnior Iniciativa mais rápida a atingir este patamar, entre as empresas criadas em contexto universitário. Para falar um pouco mais sobre esta conquista e sobre os desafios e processos da STAR, o +Academia entrevistou Pedro Silva, estudante do Mestrado em Engenharia Informática, que é um dos fundadores e, atualmente, o CEO da empresa.



+Academia: Como é que surgiu a empresa STAR Junior Enterprise?

Pedro Silva: Eu estava no meu terceiro e último ano da licenciatura, e deparei-me com duas opções: ou ia trabalhar ou tirava o mestrado. No entanto, ainda me sentia pouco apto para o mercado de trabalho e reparei que isso não era um medo só meu. Ou seja, o medo de não ter as competências suficientes para um emprego ou de ser recusado em imensas entrevistas de emprego é normal. Então, resolver esse problema tornou-se quase como uma missão pessoal para mim.

No início, juntei uma equipa de amigos, fizemos um estudo, em fevereiro do ano passado (2020), onde pudemos verificar que apenas 45% dos estudantes se sentiam aptos para o mercado de trabalho. Então achámos que a solução seria fundar uma Júnior Empresa, conceito que ainda não existia na UBI.

Foste tu que começaste este projeto?

Sim. Durante o primeiro semestre, do ano letivo passado (2019/20), o meu pensamento foi de – ok, o que é que eu vou fazer para resolver este problema? O que é que eu posso fazer? Posto isto, no final do primeiro semestre, reuni-me com alguns professores, com quem me dava bem, e decidi – Vai ser uma Júnior Empresa, mas agora preciso também do apoio da Universidade… – Então falei com algumas pessoas, falei com o Departamento de Informática, com a Reitoria, com alguns vice-reitores e todos eles pareceram bastante motivados com a ideia.

Vimos numa notícia que, no princípio de março, conquistaram o Status de Empresa Júnior, certo?

Sim! Qualquer pessoa ou estudante universitário, pode criar uma Júnior Iniciativa. Isto faz parte de um movimento global, que é o movimento Júnior, onde várias Universidades, de todo o mundo têm empresas com a missão de fornecer aos estudantes a experiência de poderem estar numa Júnior Empresa, prestarem serviços e aproximarem-se do mercado de trabalho, porque a sua estrutura e funcionamento são muito parecidos às de uma empresa normal. Uma Júnior Iniciativa consiste, num qualquer grupo de amigos que queira formar uma Júnior Empresa estando em contacto constante, com as Federações de cada país, que no nosso caso foi a Federação Portuguesa. Ou seja, nós como Júnior Iniciativa, temos de ter uma série de requisitos e passar por uma auditoria muito rígida, para assim conseguirmos passar a Júnior Empresa. Acho que, em Portugal, fomos a segunda Júnior Iniciativa mais rápida a passar a Júnior Empresa. Ou seja, a Federação Portuguesa entrou na nossa Júnior Iniciativa, viu como funcionava todo o nosso processo, e deram-nos um parecer positivo. Fomos à Assembleia da Federação, fizemos um pitch de cinco minutos às outras Júnior Empresas, foram-nos feitas algumas perguntas com um grau de complexidade elevado,  essa foi a parte stressante (diz entre risos), e no final todas votaram que deveríamos passar.

Isso é incrível e motivador, não?

Sim! Muito. Na Assembleia Geral, quando soubemos o resultado, apercebemo-nos que isto vai muito para além de nós. Isto é uma grande oportunidade para os alunos da UBI, pois agora, como Júnior Empresa, nós temos muito mais vantagens. Temos acesso à rede global de Júnior Empresas, podemos ir aos eventos noutros países e organizar eventos aqui na Covilhã. Por exemplo, se o evento mundial das Júnior Empresas acontecer na Covilhã, isso trará milhares e milhares de alunos aqui à UBI, o que é bastante interessante. Para falar a nível nacional, estamos agora num patamar muito mais acima e muito mais rigoroso.

Como é que funciona a empresa, e com esta conquista o que é que mudou na vossa prática e gestão?

Nós apesar de sermos uma associação sem fins lucrativos, funcionamos exatamente como uma empresa. Isto com o objetivo de qualquer membro ou candidato associado à STAR, ter um ambiente mais corporativo e empresarial. Temos uma administração que é composta por seis pessoas, neste caso, sou eu que sou o CEO, o COO, que é o responsável pela parte das operações e qualidade, e depois temos quatro departamentos, Marketing, Tecnológico, Financeiro e Recursos Humanos, que é composto pelas outras quatro pessoas da administração. Quanto ao nosso funcionamento, é igual ao de uma empresa, onde cada departamento tem várias tarefas para realizar, por exemplo, o departamento Tecnológico é um dos departamentos com mais trabalho, porque o nosso foco, é a nível tecnológico. Nós fazemos aplicações, websites e consultorias tecnológicas, o que faz com que esse departamento precise de mais membros. E é uma grande experiência os membros desse departamento estarem em contato com clientes reais e fazerem projetos que depois são mesmo levados lá para fora, ou seja, há aqui uma grande responsabilidade dos nossos membros ao executarem os projetos.

A nível do que mudou com a passagem para Júnior Empresa, foi o facto de agora estarmos mais em contacto com outras Júnior Empresas em Portugal e outros países, com a Federação Europeia e com o Movimento Júnior Global. Nós agora, podemos, não só, participar, no evento global e nos três europeus que existem, como também podemos organizar esses eventos aqui na Covilhã, ou seja, é essa internacionalização da UBI que é interessante. Para além disso, também podemos fazer outras coisas muito engraçadas, como por exemplo, fundar uma Júnior Empresa noutro país. É algo que acredito ser muito desafiante e enriquecedor! Conhecer um país, saber como é o ambiente académico daquela universidade e começar uma Júnior Iniciativa de raiz, tal como começamos aqui.

O vosso projeto é totalmente composto por alunos da Universidade da Beira Interior?

Sim, todos. Nós temos, neste momento, 23 membros ativos e temos membros alumni, que são ex-alunos da STAR, e isso é bastante importante para manter a continuidade para os próximos mandatos. No próximo ano, por exemplo, eu não vou estar cá, uma vez que vou estar no segundo ano de mestrado, mas vou continuar perto da administração para garantir que a transição e a passagem de pastas, é contínua e não vai para uma direção completamente diferente daquela que tínhamos planeado a longo prazo. Ainda temos também um Conselho Consultivo, que é composto apenas por professores da UBI. São eles que nos ajudam, por exemplo, a finalizar um projeto, ou seja, o Conselho Consultivo, tal como o nome já diz, é para consultarmos quando temos alguma dúvida e quando precisamos de apoio da Universidade.

Como é que é feito o recrutamento e seleção dos vossos membros? Como é que os alunos podem chegar até vocês?

Ocorre exatamente igual a uma empresa. Nós divulgamos, nas nossas redes sociais e por email, pois também há alunos que, no decorrer do ano, deixam o email no nosso website porque querem saber novidades. Nós abrimos várias vagas para vários cargos, e divulgamos o tipo de cargos que estamos à procura para todos os departamentos, de acordo com as nossas necessidades. A cada recrutamento, divulgamos um Guia dos Candidatos, para ajudar os alunos a candidatarem-se e a passarem nas nossas entrevistas. Esta é uma boa oportunidade para os alunos se prepararem para as entrevistas no mercado de trabalho real, porque, a experiência do recrutamento da STAR é muito parecida com o recrutamento de uma entrevista de emprego normal. É uma boa oportunidade também para errar nessa entrevista, já que não é uma empresa real. Qualquer pessoa se pode candidatar, o que nós estamos à procura é de alunos que queiram aprender mais. Não têm de saber tudo, mas têm que ter uma vontade enorme de querer aprender e de pôr as mãos na massa. Escolhemos pessoas que fazem feat com a nossa cultura, que têm uma “mentalidade STAR” e que têm uma vontade enorme de aprender. Nem sempre são os alunos mais competentes, são alunos com pouca experiência profissional, mas que mostraram proatividade e um interesse enorme em aprender mais.

Quanto à vossa Missão, Visão e Valores, em que se diferenciam das outras Empresas Júnior?

Nós diferenciamos, pelo facto de sermos a primeira da Beira Interior, somos a primeira da UBI. Existem outras Júnior Empresas tecnológicas, mas de outras universidades. E também pela forma como nós continuamos a ter muita qualidade, apesar de sermos estudantes. Nós temos muita formação por outras empresas, e estamos sempre a pesquisar o que as outras empresas fazem a nível de desenvolvimento de websites e de aplicações, para melhorar os nossos serviços. Também temos muita criatividade e ajustamos os serviços ao cliente. Para além disso, também apresentamos preços muito mais reduzidos que uma empresa normal, tendo em conta que não pagamos salários. Tenho aqui agora que deixar uma nota que é a dúvida mais habitual – para onde vai o dinheiro? – O dinheiro é todo investido no desenvolvimento pessoal dos estudantes, para pagar formações, ferramentas, idas a eventos de educação, entre outras. Temos também alguns custos, como manutenção de websites, mas a maior parte do nosso lucro vai para o desenvolvimento pessoal dos estudantes.

  • Cátia Sabino
  • Malu Araújo