Ao longo de dois anos e meio a Coolabora, através do seu gabinete de apoio a vítimas de violência, trabalhou a escrita como arma para empoderar mulheres que foram vitimas. O projeto chegou ao fim mas deixou frutos, disse em declarações à Rádio Clube da Covilhã Graça Rojão, presidente da cooperativa.
No projeto, através da escrita autobiográfica, pretendia-se que as marcas, “profundas”, deixadas pela violência fossem esbatidas. Empoderar estas mulheres ajuda “à libertação desse fardo” e de certa forma também da culpa, porque muitas delas sente-na apesar de terem sido vítimas, explica Graça Rojão.
“Foi importante porque permitiu aprofundar o trabalho que já fazemos através do gabinete de apoio a vítimas de violência doméstica. Uma coisa é fazer o atendimento mais imediato que já fazemos no gabinete, de resolver os problemas que se está a viver na altura e outra é o que foi feito nas oficinas de escrita autobiográfica, que é um trabalho mais longo-prazo que permite trabalhar as marcas que ficam depois da violência”, vincou.
Graça Rojão destaca ainda a criação de uma peça de teatro, com base nas histórias destas mulheres, que esteve em cena em novembro pela Quarta Parede, e que se constitui como um elemento de sensibilização.
Considera ainda importante a formação que foi feita a profissionais de segurança, como a GNR e PSP, que estão sempre envolvidos nas questões de violência. A pandemia impediu que essa formação fosse ministrada aos profissionais de saúde, e este é o único aspeto em que o projeto ficou aquém do planeado, avançou ainda a responsável.
Para o futuro fica o guia prático de escrita autobiográfica que foi criado, ao longo destes dois anos e meio, e que está disponível online para que outras congéneres possam aplicar o mesmo método.
“Resulta de uma experiência de terreno que envolveu 40 mulheres, muitas horas de trabalho e de reflexão profunda, com a colaboração de especialistas de outras zonas do país que também trabalham esta área. É fruto de muita reflexão e muita experimentação. Já se tem a noção de como as atividades funcionam. É um documento muito útil para as estruturas que trabalham com vítimas de violência”, conclui Graça Rojão.
Rasgar Silêncios é um projeto de intervenção junto de mulheres sobreviventes de crimes de violência doméstica e de género, que tendo como objetivo o reforço do seu empoderamento através da escrita autobiográfica. É coordenado pela Coolabora em parceria com o Município da Covilhã, Quarta Parede e Universidade da Beira Interior – FCSH.