Missão acolhimento Covilhã – Ucrânia: “É tão bom sermos um porto seguro”

“Nunca poderíamos deixar de responder a um desafio que tem a ver com salvar pessoas. É tão bom sermos um porto de abrigo”. É desta forma emotiva que Regina Gouveia, vereadora com o pelouro da ação social da Câmara Municipal da Covilhã, descreve a missão de acolhimento Covilhã – Ucrânia. A autarca falava ao início da tarde de ontem, na conferência de imprensa, em que fez o balanço da missão que se iniciou em março.

Uma missão “difícil”, pois trata-se de acolher pessoas que fogem de um conflito e que procuram “um porto seguro” e “é bom que esse lugar seguro esteja no nosso território”, vincou a autarca. “Quem me dera sermos sempre porto de abrigo”, reforçou.


Regina Gouveia afirma que este é o principal objetivo da missão, mas não se pode alhear ao facto de que estamos no interior desertificado. “Se dizemos que o interior precisa de reverter a tendência demográfica que está a deixar aldeias quase sem gente, como é que poderíamos deixar de encarar, também, como uma oportunidade o ter pessoas que vêm de outro país e precisam de outro lugar para recomeçar?” questiona, para ela própria responder, “nunca”, reforçando que esta missão “é, no entanto, mais do que isso, é também dar oportunidades”.

A Missão funciona como grupo de trabalho multidisciplinar, coordenado pelo Município e que engloba múltiplas entidades ligadas a diversos campos, como o Aces Cova da Beira e Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira na área da saúde, bem como a outros setores como o Instituto de Emprego e Formação Profissional, a Segurança Social, escolas, a UBI, Juntas de Freguesia, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a Autoridade Para as Condições do Trabalho, forças de segurança como a GNR e PSP, entre outros, que reúnem semanalmente para analisar as necessidades dos deslocados acolhidos no concelho e tentar colmata-las.

No concelho, segundo os dados divulgados na conferência de imprensa, estarão, atualmente, cerca de 80 indivíduos deslocados por causa do conflito na Ucrânia, sendo que são acompanhados por esta missão 30 (de um grupo inicial de 41 que se instalou no Seminário do Verbo Divino no Tortosendo) e mais 21 pertencentes a 14 famílias que foram acolhidos por particulares. Os restantes estão a ser acompanhados pela Santa Casa da Misericórdia e pela Mutualista Covilhanense que têm mecanismos próprios de acolhimento.

O grupo recebido, e que reside no Seminário do Verbo Divino é na sua maioria de jovens adultos, masculinos, estudantes do ensino superior, e de diversas nacionalidades.

Todos têm acesso a exames de saúde em articulação com o ACES Cova da Beira e CHUCB, entidade que também fornece as refeições diárias, com as especificidades culturais de cada um.

Há também 12 crianças a frequentar as escolas do concelho, “integradas e felizes”, afirma Regina Gouveia, reconhecendo que tanto neste caso, como nos adultos “a língua seja a principal barreira”, razão pela qual a grande aposta do IEFP passe, em primeira instância, pela formação em português.

Já está a funcionar uma turma de formação e no dia 27 vai abrir nova sala, no próprio Seminário, em horário laboral e pós-laboral para ultrapassar esta dificuldade, uma vez que na sua maioria apenas falam russo ou ucraniano e alguns francês, mas, contrariamente, ao que se esperava “muito poucos falam inglês”, disse.

Outra estratégia criada pela Missão foi conseguir passes sociais para acesso aos transportes públicos, sem identificação, para que possam transitar para outros utentes no caso de desistência. “Uma medida que ajuda na autonomia destes cidadãos”, vinca a vereadora.

Neste balanço do acolhimento feito a estes cidadãos destaque também para o papel do movimento associativo, nomeadamente, na área cultural e desportiva, frisa ainda a vereadora, explicando que há um grupo de 11 jovens que já está a praticar basquetebol, 6 estão inscritos na área da música e 4 vão integrar grupos que irão participar nas Marchas Populares Cidade da Covilhã.

Quanto ao emprego, embora haja múltiplas ofertas, a formação na língua está a ser a prioridade, no entanto, referir que dois cidadãos já estão a trabalhar e 8 vão iniciar os seus contratos no dia 1 de junho, estando outras candidaturas em análise.

Quanto á questão dos apoios sociais, em breve todas as formalidades que se põem para que possam estar aptos a receber rendimento social de inserção e outros apoios previstos na segurança social, “estarão ultrapassadas” foi também revelado neste encontro com os jornalistas.

Regina Gouveia reforçou que desde o início esta Missão trabalha de forma estreita com a Alto Comissariado para as Migrações, foi, e é, “um trabalho difícil”, mas “muito gratificante”, reforçou, agradecendo, também, o contributo de diversas instituições, como o CHUCB que trata da higienização de roupas de cama e atoalhados, para além das refeições, bem como de empresas e particulares que ajudam com bens alimentares, roupas e outros, que irão permitir a autonomização de algumas famílias.