O ex-jogador de futebol Tarantini tornou-se ontem o primeiro atleta profissional da modalidade em Portugal a conseguir o grau académico de doutoramento. O antigo médio, de 38 anos, viu a sua tese, apresentada na Universidade da Beira Interior, ser aprovada por unanimidade, por um painel de seis docentes.
Depois de ter feito a formação base no Amarante Futebol Clube até ao primeiro ano de júnior, Tarantini iniciou o seu “sonho” no Sporting da Covilhã, onde jogou entre 2001 e 2006, tendo passado também pelo Amarante Futebol Clube, Gondomar Sport Clube, Portimonense Sporting Clube e Rio Ave Futebol Clube. Após terminar a carreira, em 2021, assumiu o cargo de treinador-adjunto da equipa do Famalicão, da I Liga.
Tarantini, que em 2006 tinha tirado a licenciatura, e em 2014 concluiu o mestrado, esteve nos últimos cinco anos a desenvolver esta tese de doutoramento, subordinada ao tema ‘O perfil atlético dos jogadores de futebol portugueses nos últimos 50 anos’.
O trabalho de investigação, com três artigos já publicados em revistas internacionais da especialidade, aborda o desenvolvimento das carreiras dos jogadores de futebol e o planeamento do final das mesmas, na sequência do projeto que criou sobre a temática, apelidado “A Minha Causa”.
“Verifiquei que não haviam dados sobre o percurso de carreira do futebolista português e procurei obter ferramentas e conhecimento para criar um projeto de investigação, que me permitisse a ajudar os outros”, começou por explicar Tarantini à agência Lusa.
O trabalho académico agora apresentado por Tarantini, sustentado de forma quantitativa, aborda “os indicadores de carreira dos atletas e o nível competitivo e de idade com que abandonam a modalidade”.
“Ao perceber a identidade atlética e empenho que o jogador coloca na sua profissão, podemos verificar a influência e consciência colocada no planeamento na carreira, e na preparação do seu término, para que a transição, no final, seja feita com mais qualidade”, acrescentou o antigo atleta.
O ex-médio, e agora treinador, lembra que a dedicação aos estudos, sobretudo universitários, começados ainda na sua etapa de jogador, visou dotar-lhe “de ferramentas para abraçar outras áreas em caso de não vingar na modalidade”.
“Sempre quis acrescentar algo mais à minha carreira, e mostrar que era possível fazer um percurso profissional no futebol, mas ao mesmo tempo estudar. Claro que não foi fácil, passei por algumas privações pessoais, mas senti que através do conhecimento académico estaria mais preparado para qualquer cenário no futuro”, partilhou.
Tarantini diz que, por enquanto, não tem dúvidas que quer continuar a prosseguir e evoluir na carreira como treinador, iniciada em 2021, como elemento da equipa técnica do Famalicão, mas também se sente preparado para abraçar outros desafios, nomeadamente no dirigismo, onde tem estado a acumular experiência como vice-presidente da Sindicato dos Jogadores, responsável pela pasta da educação.
O novo ‘doutor’ do futebol nacional reconhece que está a ser um pioneiro nesta vertente académica, e espera que o seu exemplo de dedicação aos estudos possa “inspirar as novas gerações”.
“Há alguns anos atrás não me sentia bem com esse rótulo, mas agora percebo que deixei uma marca no futebol português. Espero colocar os jogadores a pensar e a planear o seu final de carreira. Desportivamente não atingi a seleção ou um clube de topo, mas deixar este exemplo é um orgulho”, concluiu Tarantini.