“Estórias” do sótão do Tribunal da Covilhã em novo livro. Apelos à preservação do arquivo continuam

O segundo livro do juiz José Avelino Gonçalves, que dá vida a “estórias” recolhidas em processos que o próprio recupera e investiga no sótão do Tribunal da Covilhã, foi apresentado à cidade no último sábado. Uma cerimónia marcada pelos apelos à preservação e inventariação adequada daqueles documentos.

Recordar que José Avelino Gonçalves foi juiz presidente da Comarca de Castelo Branco e dedicou muito do seu tempo livre a pesquisar o arquivo do Tribunal da Covilhã onde encontrou “verdadeiros tesouros” que contam a história da Covilhã e da Cova da Beira, tendo por base os casos que, à época, chegavam à barra dos tribunais.


Nos seus livros o juiz dá um cunho pessoal às histórias, que “romanceia ligeiramente”, mas sem nunca perder a base histórica.

Vítor Pereira, presidente da Câmara Municipal da Covilhã disse na apresentação que José Avelino o faz de forma “magistral”.

“De forma magistral e muito oportuna faz incursões pela nossa história”, disse o autarca, frisando que na narrativa “desconstrói mitos” que giram em torno de personagens da história local, “às vezes apimentando-a”, mas sempre aguçando a curiosidade de quem lê.

Também Francisco Geraldes, apaixonado pela história da Covilhã e que desde a primeira hora colabora que José Avelino Gonçalves, evidenciou o seu trabalho de pesquisa e recuperação dos processos.

Um trabalho que não pode ser feito “por um homem só”, disse, apelando para que seja feita uma intervenção pela Câmara Municipal da Covilhã e UBI para salvar “estes doentes em fim de vida”, nem que seja “à margem da lei”, referindo-se ao facto de estes pertencerem ao Tribunal Judicial e por isso constituírem espólio daquele arquivo.

Diz que o sótão do Tribunal da Covilhã “é uma espécie de hospital de campanha com muitos doentes em estado terminal de que é preciso tratar”.

José Avelino Gonçalves mostrou-se feliz por ver o salão Nobre dos Paços do Concelho com lotação esgotada, para conhecer mais uma das suas obras, resultado da sua “loucura/paixão”.

“Só alguém louco, ou que gosta muito da história e de abrir a justiça, é que se metia numa aventura destas”, começou por afirmar.

Dedicou grande parte da sua intervenção a mostrar os processos originais, “autênticos tesouros históricos”, que a Covilhã tem que preservar “porque há aqui pormenores da história que não estão em mais lado nenhum”, alertou.

O antigo Juiz Presidente da Comarca, agora a exercer na Relação de Coimbra, recorda que nestes processos, “nas assentadas” conseguem-se informações, “como a forma como as pessoas se vestiam, se sabiam ler ou escrever, se havia mais homens e mulheres em tribunal e como eram tratados”, que “infelizmente não estão a ser utilizadas a nível nacional”, lamentou.

Vincando que muitos dos processos que encontrou dizem respeito à construção do troço da Linha da Beira Baixa na Cova da Beira, assim como a outras grandes obras, avança que “há processos que já estão limpos e tratados, com documentos históricos únicos”, lançando o repto à Câmara Municipal da Covilhã que organize uma exposição sobre a matéria.

De luvas postas para manusear estes tesouros que mostrou ao público, José Avelino Gonçalves prometeu mais “estórias” da devassa da Covilhã no próximo volume.