Ferrovia: “A linha da Beira Baixa representou o quebrar da interioridade”

Na sequência da conferência “Ferrovia – Presente e Futuro”, que assinalou os 131 anos da inauguração da linha da Beira Baixa, Hélio Fazendeiro, moderador do debate e chefe de gabinete de Vítor Pereira com competências delegadas no âmbito dos Transportes e Mobilidade, afirmou que “o Município da Covilhã está, há muito tempo, na mobilização pelo debate e defesa da ferrovia”.

“Reconhecemos a importância que tem a ferrovia, não só no desenvolvimento do território, como também nas questões ambientais”.


No início da conferência, António Pinto Pires, fundador da Associação 6 de setembro, sublinhou a relevância da construção da linha da Beira Baixa, que “representou o quebrar da interioridade, permitindo a existência de um canal direto para o Litoral”.

Durante o seu discurso, António Pinto Pires abordou a questão relativa à velocidade em determinados locais do trajeto, afirmando que, no traçado renovado, “não temos velocidades que ultrapassem os 80km/h”.

Relativamente ao Plano Ferroviário Nacional, o fundador da Associação 6 de setembro, afirmou ser possível “retirar 10 quilómetros ao trajeto e aumentar a velocidade” com a “construção de um túnel semelhante ao que foi feito na A23”.

Em última nota, António Pinto Pires disse ser “inadmissível que, desde Castelo Novo até Sarnadas, o comboio não atinja uma velocidade média de 140km/h ou 150km/h”, acrescentando que “a grande preocupação é ganhar uma hora no trajeto Covilhã-Lisboa”.

Neste sentido, Hélio Fazendeiro salientou que o Município da Covilhã deixou um conjunto de recomendações ao Governo, no sentido de “reforçar e melhorar o serviço de transporte ferroviário”.

Entre as várias medidas, destacam-se a “diminuição do tempo de viagem Covilhã-Lisboa para duas horas e 45 minutos”, a reivindicação do transporte suburbano, “que permita ligar Guarda, Belmonte, Covilhã, Fundão e Castelo Branco”, e “a questão relativa às ligações para Espanha”.

Neste sentido, Frederico Francisco, coordenador do Plano Nacional Ferroviário 2030, realçou os custos de construção do transporte ferroviário.

“Podem contar com valores de dez mil euros por quilometro e, em zonas montanhosas, cerca de 20 mil euros”, avançou o coordenador, frisando que os custos mais elevados são relativos às infraestruturas, sendo que “os custos do material circulante fixam-se apenas em 10% destes valores”.

“Só vale a pena investir na ferrovia se for para a mesma ser competitiva com o automóvel”, concluiu Frederico Francisco.

Carlos Cipriano, jornalista e especialista em transporte ferroviário, admitiu não acreditar que existam alternativas a médio prazo.

“Seria possível construir o túnel na Gardunha, fazer cruzamentos de comboios, de modo a aumentar a fluidez do tráfego, e seria desejável equacionar a variante pelo planalto”, sublinhou Carlos Cipriano, reconhecendo, no entanto, que tal não deverá acontecer nos próximos anos.

O especialista destacou, ainda, que “o Plano Nacional Ferroviário não contempla aumentos de velocidade” e que “as alterações que estão a ser feitas agora, deveriam ter sido feitas nos anos 70”, aquilo que, para Carlos Cipriano, “é um erro”.

Quanto às soluções, o especialista em transporte ferroviário questionou o porquê de não se venderem bilhetes a um euro, de modo a aumentar a adesão, justificando-se com “o facto de os comboios andarem vazios”.

Carlos Cipriano sublinhou, ainda, que as pessoas que pretendem ir da Covilhã para o Fundão, por exemplo, “saem prejudicadas, porque não podem usufruir de um comboio intercidades, mas apenas de um regional”.

Equiparando o comboio ao autocarro, o especialista afirmou que o primeiro “apenas pode competir com o meio rodoviário se aumentar a frequência e diminuir os preços e o tempo das viagens”.

O debate, integrado no programa comemorativo do 152º aniversário do Dia da Cidade, teve como oradores convidados Frederico Francisco, coordenador do Plano Ferroviário Nacional 2030; Carlos Cipriano, jornalista/especialista em transporte ferroviário, e António Pinto Pires, fundador da Associação 6 de setembro.

“Ferrovia – Presente e Futuro” foi o tema genérico da conferência que teve lugar ontem, dia 14, no Museu da Covilhã, promovida no âmbito da exposição “Rails do Progresso”, que se encontra naquele museu, para assinalar os 131 anos da inauguração da linha da Beira Baixa.