Fim das SCUT em 2011 teve impacto negativo nas vendas e lucros das empresas

A introdução de portagens nas antigas SCUT em 2011 teve um impacto negativo nos lucros das empresas destes territórios, afirmou João Pereira dos Santos, investigador da Universidade de Lisboa, durante o Fórum de Participação Cívica promovido esta segunda-feira, com organização da Plataforma P’la Reposição das SCUT’s nas autoestradas 23 e 25.

O investigador explica que no estudo são analisados os dados de cerca de 300 mil empresas, no período pós-portagens, entre 2011 e 2016, comparando-os com os anteriores a essa ocorrência.


Segundo afirmou durante a sua comunicação on-line, os dados de que dispõe permitem afirmar que “houve impacto no desempenho” das empresas.

“Quando comparamos as empresas que estão nos concelhos mais afetados, com empresas muito parecidas que estão em outros concelhos, nós encontramos efeitos muito significativos de redução nas vendas, nos lucros e nas importações e exportações”, afirma o responsável, concluindo que “as empresas foram afetadas e tentaram reagir”.

Segundo relatou a reação foi de “redução das despesas e de redução de parte do emprego”, sustentado, no entanto, que “o salário médio não foi reduzido”.

O investigador alerta ainda que do estudo feito pode concluir que este efeito “se deteriora ao longo do tempo”. “O efeito ao nível das vendas é cada vez mais negativo”, afirma.

Dá ainda conta que o emprego nestas regiões pela introdução de portagens diminuiu cerca de 2%, um indicador que “se foi agravando com o passar dos anos”, destacou.

“O emprego baixou significativamente. Pela introdução de portagens baixou 2% e mais uma vez este efeito parece ter vindo a acentuar-se ao longo do tempo”, afirma.

Helena Freitas, professora da Universidade de Coimbra e ex-coordenadora da Unidade de Missão para o Interior, que também participou nos trabalhos on-line, enalteceu o estudo apresentado e frisou que, mesmo que não se tivesse estes dados, se pode afirmar que é evidente a desigualdade no país, e no plano da mobilidade deve “lutar-se por um modelo mais justo”.

“Mesmo que não existissem dados, é óbvia a desigualdade de que o país enferma e a crescente complexidade dos problemas que estamos a criar pela incapacidade de reequilibrar o país”, disse  

Afirmando que deixou a Unidade de Missão, mas não a missão de exigir o que sempre defendeu, vinca que o governo deve olhar para esta matéria como “algo estruturante e central para o desenvolvimento económico do país”.

Não tem dúvidas que a mobilidade é o maior custo para as empresas no interior, e que, no curto prazo, não haverá soluções alternativas, defendendo por isso medidas de discriminação positiva para estes territórios, mostrando “solidariedade” e “empenho para lutar por esse caminho”.

O Fórum de Participação Cívica reuniu, no Hotel Pura lã, na Covilhã, diversos empresários, autarcas, dirigentes de vários partidos, sindicalistas e publico anónimo. No final aprovou, por unanimidade, uma deliberação que volta a exigir a suspensão imediata do pagamento de portagens nas ex-SCUT e que a sua abolição conste no Orçamento do Estado para 2023.