A atuação da Câmara Municipal da Covilhã durante o grande incêndio na Serra da Estrela, e da comissão criada para analisar este tema na última Assembleia Municipal, foram um dos temas em destaque, no período antes da ordem do dia, da reunião daquele órgão autárquico realizada esta segunda-feira.
A bancada do PSD foi a primeira a abordar a questão pela voz de Vanda Ferreira. A eleita frisa que o seu grupo municipal não pode, nem deve, “consentir que a calamidade que os incêndios do verão passado nos trouxeram se esfume na espuma dos dias. Por isso iremos a cada assembleia municipal relembrar que temos este desígnio por cumprir e que todos, mas mesmo todos, seremos responsáveis da nossa inação se no próximo verão a situação se repetir”, disse
A eleita questionou a comissão criada na última assembleia para analisar esta situação, e o que foi feito desde então.
“Uma Comissão aprovada por unanimidade, ou seja, também pelo partido socialista, que fez questão de referir que esta comissão não podia, como outras, ser inconsequente. Por isso, meus senhores, todos aqui presentes somos responsáveis por ela. Espero ouvir aqui neste púlpito as outras bancadas a intervir sobre este tema em particular a bancada do partido socialista. Passaram, meus senhores, quase 3 meses, quantas vezes esta comissão reuniu? que trabalho de acompanhamento fez? que relatórios criou? o que questionou? O que sugeriu?…nada …zero. Não contem com o PSD para isto. Não contem com o PSD para enganar as pessoas. Não contem com o PSD para fingir que se faz e que estamos todos cheios de boas intenções”, disse
Sob a forma de requerimento Vanda Ferreira entregou à mesa uma série de questões dirigidas à CMC, onde aborda os apoios previstos pelo Governo neste âmbito, perguntando o que já foi recebido e que candidaturas já elaborou a autarquia.
Adolfo Mesquita Nunes (CDS) foi outra das vozes críticas. O eleito começou, também, por criticar o facto de a comissão criada ainda não ter reunido, mas fundamentalmente condenou a atuação da Câmara Municipal da Covilhã, antes, durante e depois do incêndio.
Relembra a “não conclusão da rede primária de proteção de incêndios e gestão de combustíveis, precisamente na zona mais favorável ao combate ao incendio”, “a inexistência de pontos intermédios de abastecimento de água, que permitissem aos meios aéreos (helicópteros) uma atuação mais célere e eficaz, a não ativação do Plano de Emergência da Proteção Civil, que só foi ativado no quarto dia do incêndio” e da “decisão política de concentrar na mesma pessoa o cargo de responsável de proteção civil e de comandante dos bombeiros”, afirmando que se trata de “factos que justificam reprovação politica por más decisões ou por inação”.
O eleito frisa que há decisões que deveriam ter sido tomadas pela Câmara e não foram. Para Adolfo Mesquita Nunes o “incêndio poderia ter sido travado em dois dias e levou 10 até ser verdadeiramente combatido”. Razões que levaram à apresentação de uma moção de reprovação da atuação da autarquia e de louvor ao trabalho dos bombeiros, que acabou chumbada com 28 votos contra (PS e alguns presidentes de junta), 5 abstenções (PCP, Covilhã tem força e presidentes de junta) e 7 votos a favor (CDS e PSD).
Vítor Tomás Ferreira (Covilhã tem força), na declaração de voto desta moção, em que se absteve, realçou o trabalho feito pelos bombeiros durante a tragédia, bem como o da autarquia, vincando que o importante “é que uma tragédia desta natureza não se repita”.
O PCP também se absteve nesta moção. Marco Gabriel recorda as explicações que foram dadas pelo comandante dos Bombeiros Voluntários da Covilhã e responsável pela proteção civil municipal, cuja intervenção mereceu aplauso de pé da Assembleia Municipal. Frisa que algumas das questões levantadas dizem respeito ao Estado, “outras poderão ter a ver com a autarquia, mas não se devem confundir com a questão do combate, nem com a questão mediática. Não reprovamos, como aqui está proposto, o comportamento da autarquia”, disse, vincando que a Assembleia “deveria passar mais tempo a falar de prevenção e menos de combate”.
As vozes mais críticas às intervenções da direita chegaram dos eleitos do PS.
Sobre a comissão Hélio Fazendeiro frisa que o PS indicou no dia seguinte à sua constituição o nome do representante, deixando no ar a dúvida “se todas as bancadas já teriam feito o mesmo”.
Já sobre a moção, afirma que assenta “em pressupostos errados”, que pretendem “retirar dividendos políticos e partidários de uma tragédia que não deveria ser utilizada”. O líder da bancada socialista vinca que o seu grupo municipal prefere fazer o já tinha feito no passado, proferindo palavras para “agradecer o empenho” de todas as forças envolvidas no combate.
Já antes, Pedro Bernardo, usou da palavra para responder às intervenções do CDS e PSD.
Recordou a assembleia municipal de setembro, afirmando que se assistiu na altura a um “verdadeiro folclore político com direito a sessões cinematográficas” que continuaram na sessão desta segunda-feira de “forma mais grave”.
O eleito lamentou que Adolfo Mesquita Nunes não estivesse na sessão de setembro, pois poderia ter questionado os intervenientes diretos, “tenho pena alguma destas questões que aqui fez poderiam ser respondidas nessa altura”, disse
Sobre a intervenção de Vanda Ferreira considerou “de uma profunda demagogia” a defesa que esta fez de “uma reportagem televisiva sem cara”, quando na última assembleia “esteve o responsável da proteção civil, e comandante dos BVC, a dar todas as explicações”. Acusa a aleita de usar declarações do presidente dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, fora de contexto. Realçar que Vanda Ferreira recordou na sua intervenção declarações em que Joaquim Matias “diz taxativamente que o incêndio deve ser investigado porque há muito por se saber”, o que para o eleito socialista é grave, uma vez que esta “não contextualizou” que o presidente dos bombeiros usou a expressão para condenar a reportagem televisiva que esta elogiou.
Recordar que a nível nacional foi criada uma comissão independente que está a estudar o combate ao incêndio de agosto na Serra da Estrela e que a Assembleia Municipal da Covilhã criou uma comissão para acompanhar este dossier.