Numa das assembleias gerais mais concorridas de sempre, os sócios do Sporting Clube da Covilhã aprovaram, ontem à noite, com 140 votos favoráveis, 125 contra e 17 abstenções, a transformação da Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas, SDUQ, em Sociedade Anónima Desportiva, SAD.
A proposta da direção, que anula a decisão tomada na assembleia geral de 29 de dezembro, prevê um aumento de capital da SDUQ de 50 para 250 mil euros, sendo que 10% das ações ficarão no clube, 10% serão vendidos aos sócios, ficando os restantes 80% disponíveis para futuros investidores.
Os sócios podem subscrever, até cinco mil ações, a cinco euros cada, num total de 25 mil euros, tendo prioridade os associados mais antigos.
A discussão deste tema decorre desde dezembro, altura em que foi aprovado em assembleia geral, e de pronto contestado por grupos de associados que interpuseram uma providência cautelar para travar o processo e organizaram uma petição para convocar nova assembleia geral, frisando, em ambos os casos, que a assembleia geral de dezembro estava ferida de ilegalidade.
Processos que na reunião magna deste terça-feira foram considerados “fundamentais” para que esta nova assembleia geral se realizasse, mas também apontados como fracionários do clube, colocando em lados opostos os defensores da SAD e a direção e do outro que se manifestam contra.
José Mendes, presidente do clube e Paulo Rosa, vice-presidente, fizeram questão de sublinhar as acusações de que têm sido alvo ao longo deste tempo, vincando que não se trata de oposição à proposta, mas acusações graves contra a sua índole.
Quanto à proposta de criação da SAD, José Mendes frisou que “ao longo dos anos foi equacionando e maturando esta ideia para o clube”, e, face à diferença de orçamento para os clubes que têm investidores, e, “sentindo enormes dificuldades para competir com eles, não restou outra hipótese”, sublinhou.
Vincou que iria respeitar a maioria, independentemente do resultado, sublinhando que são bem-vindos os que criticam de boa fé, pediu “paz” para lutar pela manutenção da equipa profissional na II Liga.
Paulo Rosa, vice-presidente do clube, reforçou a necessidade de investidores para conseguir os objetivos da equipa profissional, vincando que até o futebol de formação irá beneficiar com a situação, realçando que no Sporting da Covilhã “nem os escalões de formação têm as condições mínimas” para a prática do futebol.
Destaca que a transformação da SDUQ em SAD foi “ponderada e pensada”, no sentido de “melhor defender os interesses do Sporting da Covilhã”.
Frisou que foram criadas cláusulas de salvaguarda para defender os direitos do clube, nomeadamente, que as quotas dos associados revertem na totalidade para o clube, a autonomia sobre a utilização do estádio, a partilha de receitas publicitárias, de patrocínios e da venda de jogadores ou treinadores. O não poder alterar os símbolos do clube, a localização da sede, a alienação de património ou cisão, fusão, transformação ou dissolução da sociedade, previstas no artigo 13º dos estatutos, e que terão que ser aprovadas sempre por unanimidade e com a presença de um representante do clube na assembleia geral.
Explanou o que considera virtudes da constituição da SAD, desafiando os que são contra a apresentarem outra solução, afirmando que “já não há tempo, nem paciência, para «o não porque não»”, disse.
Sublinhou que a futura venda de ações da SAD significa um encaixe financeiro de cerca de 3 milhões de euros para o emblema serrano, uma vez que o valor virtual da SAD é estimado em seis milhões.
Antes de ser posta à votação esta transformação foi, ainda, apresentado o parecer do revisor oficial de contas, que afirmou que a operação não merece nenhum reparo contrário, e o parecer do conselho fiscal do clube, que foi aprovado com o voto contra do seu vice-presidente Paulo Cunha Ribeiro.
Foram vários os associados que usaram da palavra para se manifestarem contra a operação.
Afonso Gomes disse que mantém a posição de há três meses porque “a SAD, nestes contornos, não assegura os interesses do Sporting da Covilhã”. Deixou a solução de alargar a abertura de capital aos sócios, porque o SCC “não pode ficar refém de ninguém”.
Carlos Feliciano falou “em cheque em branco para vender 80% do clube”, classificando a operação de há três meses “como uma bomba que caiu na cidade”. Teve a virtude de levar à discussão, sublinhou o associado.
Hugo Andrade manifestou-se a favor da transformação “desde que o clube seja sempre o sócio maioritário e não é o que se propõe. Independentemente de todos os mecanismos que queiram criar, fica claro que o clube vai deixar de ser maioritário”, tendo, por isso que votar contra. Sublinhando tudo o que se passou de dezembro até esta altura sublinha que “não é possível confiar nos órgãos sociais”.
Marco Gabriel sublinha que “a venda da SAD é a venda do clube e do seu maior património”, e que esta é “uma decisão irreversível”, disse, sublinhando que “o modelo de SDUQ não está esgotado”. Alerta que o novo regime jurídico das sociedades desportivas, “abre uma nova forma de sociedade” que poderá ser “uma possibilidade para o clube, não abdicando da maioria na sociedade”, disse.
Para Marco Gabriel em caso algum se pode passar “um cheque em branco como o que é proposto na ordem de trabalhos no ponto 5
Nas intervenções foi criticado o facto de a assembleia ser a uma terça-feira, e não no fim de semana como foi anunciado, bem como o não haver voto secreto, o que foi reclamado através de um requerimento subscrito por 60 associados.
Jorge Gomes, presidente da mesa, justificou o dia com o facto de que esta era a única data disponível no auditório da UBI. Quanto ao voto secreto assegurou que para estas matérias, os estatutos do clube, não o preveem.
Houve ainda outros associados que destacaram as virtudes da proposta da direção, mostrando-se favoráveis à transformação, em especial porque consideram que a defesa dos interesses do clube está assegurada com o facto de ser necessária a provação da assembleia geral sobre a venda das ações.
Um facto sublinhado por diversas vezes no decorrer dos trabalhos por Jorge Gomes, presidente da mesa da assembleia geral, que, logo no início propôs uma alteração à ordem de trabalhos, no ponto 5, para que se retirasse a palavra “maioritária” da sua redação.
“Nem que seja para vender 1% a assembleia geral tem que aprovar”, sublinhou, destacando que se não for aprovada a venda, “o SCC pode ser SAD eternamente, sendo que o capital será 10% dos sócios e 90% do clube”, sublinhou, vincando que esta “é a grande diferença da assembleia de dezembro para esta”.
Referir que esta autorização para que a direção possa alienar a terceiros até 80% do capital social da futura SAD, “até ao final do mandato”, com a obrigação de validação da assembleia geral do clube, foi, também, aprovada por maioria, com 92 votos a favor, 57 contra e 6 abstenções.
No final as decisões foram aprovadas em minuta.