Podão: Quase com 97 anos mantém vivas as memórias e a emoção de vestir a camisola do SCC

Joaquim Batista Podão, para o futebol conhecido como Podão. Faz 97 anos em setembro, quase tantos como os do clube “onde andou” cerca de 20 anos. Disse à nossa reportagem, em pleno estádio Santos Pinto, com orgulho, mas também com algum lamento, que é o único que ainda vive. É o mais antigo jogador da Covilhã ainda vivo.

Mantém a memória, é independente, avisa logo que “faz tudo sem precisar de ajuda”. Vive no Lar de S. José, na Covilhã, e assegura que o que mais lhe custa “é ver colegas a depender de outros, eu gosto de me mexer”.


Vivências à parte, a grande paixão é o Sporting da Covilhã e por isso, em dia de festa dos 100 anos, um dos funcionários do Lar acedeu a levá-lo ao estádio e claro, estava encantado.

Quando o desafiámos a comparar com o que ali viveu rápido atirou: “Isto nem se compara”

“Eu estou admirado com isto, maravilhoso isto aqui, agora. No meu tempo era terra e areia, já viu, era uma bola cheia de sebo e depois cheia de terra e areia que era atirada para a cabeça? Hoje é uma canja! Com o equipamento que eles têm hoje eu era uma vedeta! Disse, sem papas na língua.

Contou-nos que começou a frequentar o estádio, o campo daquela altura, aos 9 anos como apanha bolas.

“Nada disto era vedado e quando a bola ia para o Poço Grande ou para a mata eu ia lá”, recorda. “Comecei a acompanhar, depois fui para os juniores aos 16 anos, na época 43/44, estive lá durante 3 anos, sempre campeão distrital, depois passei para as reservas, fui campeão distrital e jogava também na primeira categoria, depois fui para o nacional e fui campeão pelo Sporting da Covilhã”. É desta forma que resume a sua passagem no clube, que apesar de parecer, não foi breve.

Jogava a médio, vestia a camisola 7 ou 11, conforme as necessidades da equipa, integrou o plantel que na época 47/48 venceu a 2ª divisão, subindo à primeira.

Recordando o passado, por um lado lamenta que o desporto esteja diferente e já não haja “amor à camisola”, mas por outro fica agradado com as melhorias. “No meu tempo as botas eram uns tamancos”, recorda.

Foi um dos jovens fundadores dos Leões da Floresta para aí continuar a sua carreia de futebolista, nos campeonatos do INATEL, quando terminou, aos 35 anos, a sua passagem pelo Desportivo, para onde foi jogar depois do SCC, sendo o sócio número 1 dos Leões.

Do Covilhã não é sócio porque quando foi para o Desportivo “passou a filha para sócia, porque ela é que ia aos jogos”, justifica, contando que desistiu.

Mas sócio ou não, segue os relatos dos jogos e afirma que o sofrimento é tanto que “já uma vez ia morrendo”, recordando o jogo em que o Covilhã conseguiu a manutenção já para lá do tempo regulamentar. “No fim nem conseguia falar, estava muito emocionado”, diz.

Recorda os golos que marcou, mas afiança que “não ganhou nada com isso, só nariz partido, pés lesionados, mas também alguns nomes e aplausos, o normal no futebol. Diziam que eu corria mais que uma lebre”.

Podão, uma história quase tão centenária como o Sporting da Covilhã. Ao falar com ele, fica-se com a certeza que praticar desporto é o segredo. “Parar é morrer”, concorda o antigo atleta.