III Capítulo da Confraria da Truta do Paul foi um “reiniciar de atividades” com vista a sede nova

O III Capítulo da Confraria da Truta do Paul, que se reuniu no passado sábado, recebeu 12 confrarias de vários territórios e foi, segundo Carlos Sobreiro, grão-mestre (presidente), um “reiniciar de atividades”, interrompidas foram pelos anos pandémicos, pouco depois do início da sua atividade.

A Confraria nasceu, segundo o seu presidente, com o intuito de “promover e divulgar a truta como elemento gastronómico característico da vila do Paul” em vários tipos de eventos “a realizar principalmente nos restaurantes locais e regionais”, sempre com o objetivo de “preservar a truta e o seu habitat”.


No entanto, Carlos Sobreiro deixa a ressalva: “é importante que os eventos-capítulos não se transformem em banquetes com demasiada opulência e custo, pois a preservação das tradições gastronómicas não se compadecem de cerimónias de ostentação, sob pena de o movimento confrádico se transformar num movimento para ricos”.

A Confraria da Truta do Paul, que surge no seguimento do Festival da Truta e finalmente se constituiu em maio de 2018, manifestou, pela voz de João Cunha, vice-presidente, o sonho de “criar as condições para ter uma sede nova”, uma vez que ainda estão sediados num local cedido pela junta de freguesia. Sonho, porém, que pode vir a ser realidade.

José Miguel Oliveira, vereador com o pelouro do associativismo e das freguesias da Câmara Municipal da Covilhã, afirmou que a autarquia “desde a primeira hora tem trabalhado com a Confraria e com a Junta de Freguesia do Paul para que esse sonho se possa concretizar”.

Para José Luís Adriano, compositor do hino da confraria, a truta “é um ser tal como nós” e que, por isso, “nos dá exemplos de como devemos olhar para o nosso viver e a atitude certa que devemos ter: resistir”. Tal como se canta no refrão do hino: “Ela é forte!… Corajosa!… / Faz da vida uma luta. / Não tem medo da corrente / Ou não fosse uma truta.”

Lembrou que o Paul é um território rico em tradições imateriais e que o seu espólio neste campo é “significativo, bem tratado, bem preservado e bem registado”, sendo a Confraria da Truta mais um ativo neste património.

Palavras que foram todas corroboradas no momento alto da Cerimónia Capitular, que ficou a cargo de Olga Cavaleiro. A presidente da Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal realizou a Lição de Sapiência, intitulada “Truta e Cultura Gastronómica”. Manifestamente encantada com o território do Paul e zona envolvente, Olga Cavaleiro afirmou que, “mais do que aquele alimento que hoje comemos e celebramos, é preciso conhecer a importância da truta para esta comunidade”.

Com a premissa de que “à mesa também se descobre a alma de um povo”, Olga Cavaleiro vincou que “o Paul não é um sítio qualquer” e que “esta truta não é uma truta qualquer”.

Lembrou que a truta era “dádiva de oferta” no território e que o foi não só entre a comunidade, mas também a Nossa Senhora. Fazê-lo – transformar a truta numa oferta – é fazer “com que ela seja sagrada para o povo do Paul”. É conferir-lhe um “significado simbólico de eterna gratidão” que a torna “mais do que um alimento”, declarou.

Por fim, Gabriel Gouveia, presidente da Junta de Freguesia do Paul, como tem vindo a afirmar, reforçou o “potencial enorme da ribeira” e adiantou que o Centro Interpretativo da Ribeira e da Truta já possa estar inaugurado aquando do próximo Capítulo da Confraria.

José Miguel Oliveira terminou relembrando a existência de quatro confrarias no concelho da Covilhã e destacando o papel das confrarias na “promoção das tradições, da história e da gastronomia, levando o nome do concelho da Covilhã além fronteiras”. Deixou claro que o seu papel “não é um papel menor dentro do associativismo”. “O associativismo e as confrarias têm de ser espaços de liberdade, de igualdade, de fraternidade, sítios de cidadania plena; aqui, nestas mulheres e nestes homens, há exemplo desta cidadania”, disse.