O escritor covilhanense Manuel da Silva Ramos foi homenageado na Covilhã, a sua terra natal. Uma cerimónia promovia em conjunto pela Biblioteca Central da UBI e pela CISMA, Associação Cultural.
Ao longo da tarde desta quarta-feira, dia 22, a vida e obra do autor foram enaltecidas e comentadas por diversas personalidades do mundo académico.
O próprio esteve presente e, embora se confesse avesso a homenagens, gostou desta, porque falaram sobre a sua obra.
“Gostei porque falaram da minha obra e isso é importante. O escritor passa muito tempo só, é um eremita, e ver que há muita gente a falar da sua obra e poder estar presente é fantástico”, disse no final aos jornalistas.
Na sua intervenção, que encerrou a cerimónia, recordou a infância e os momentos na oficina de alfaiate do pai.
Falou sobre o tempo em que decidiu ser escritor, ainda muito novo, tendo escrito a primeira “obra” aos 12 anos, o que lhe valeu um prémio da professora de português.
Aos 14 escrevia poesia e contos. Foi para Lisboa cursar direito, mas não abandonou a escrita. Sai então o seu primeiro livro, “Os três Seios de Novélia”, recebe elogios e prémios.
Catapultou-o para a ribalta dos escritores, mas tudo foi efémero, recordou o escritor. O fascismo obrigou-o a exilar-se em França e aí passou 27 anos, “terríveis e ao mesmo tempo belos”, sobre os quais “um dia” irá escrever, disse.
Por tudo o que não pode escrever e publicar diz-se “injustiçado”. Foi-lhe retirada “a oportunidade de continuar no primeiro plano da literatura”.
“Eu aos 20 anos era muito conhecido, comecei a escrever antes do Lobo Antunes, mas o regime obrigou-me a ir para o estrageiro. A minha primeira obra foi completamente esquecida”, lamenta.
Quando regressou, em 10 anos publicou 10 livros, tem perto de trinta livros publicados e promete não parar de escrever.
“Continuo a escrever, nunca deixarei de escrever, não pararei nunca. Se a minha mão direita parar, passarei para a esquerda. Escrever é a minha salvação”, concluiu
O escritor está nesta altura a escrever uma obra autobiográfica, sobre os anos em que estudou em Lisboa e que antecederam o seu exilio em França.
Na sessão de abertura desta homenagem, João Ferreira da CISMA e Luís Pires, diretor da Biblioteca, sublinharam a importância, e a oportunidade, desta homenagem.
O diretor da CISMA frisa que o desafio partiu da Biblioteca e a associação tinha de dizer sim: “Uma homenagem justa e, sendo nós quem reeditou o “Café Montalto” metemos a nossa força e fomos para a frente”, disse.
Luís Pires realça que este é um evento importante para a Biblioteca e para a própria UBI, realçando o facto de se realizar na presença do próprio escritor, ao contrário de outras que acontecem “tarde demais”.
Uma homenagem “a um escritor surpreendente”, disse Regina Gouveia, realçando a “irreverência de trazer para as suas obras o que não é coletivamente aceite”.
A autarca realça que, apesar de tudo o que conquistou e dos créditos firmados, “mantém-se humilde e simples”, sublinhando que este “diz sim aos mais variados desafios, o que não acontece com todos”. “Uma pessoa e um escritor interessante, sempre a descobrir. Vai sempre surpreender-nos”, disse.
Anabela Dinis, Pró-reitora da UBI, sublinhou na sessão de abertura a “mais que merecida homenagem” a um “autor do mundo”.
Para a Pró-reitora “os santos da casa têm que fazer milagres” e, neste caso, celebra-se o milagre da produção cultural de Manuel da Silva Ramos. “Um filho pródigo que regressou a casa”, a quem, com esta homenagem, “queremos mostrar que o sabemos receber”, disse.
O próximo livro de Manuel da Silva Ramos é lançado no sábado, num evento promovido pela CISMA, na discoteca Companhia, na Covilhã, a partir das 21:30.
Trata-se de um livro “A Mulher do Periquito e Outras Estórias”, com 26 contos “muito interessantes” revela o escritor. Este é o quarto livro de contos de Manuel da Silva Ramos.