A família RCC está de luto. Faleceu, aos 91 anos, José Gouveia, fundador e cooperante nº 1 da instituição.
“Um mestre”, como é descrito por todos quantos com ele trabalharam, e aprenderam, ao longo da vida. Um espírito inquieto, inventor nato, autodidata e, como pessoa, “um amigo”.
“Um mestre para todos”, começa por descreve-lo Viriato Mogo, que com ele lançou a RCC há 40 anos atrás.
“Falar de José Gouveia é falar de um mestre para todos nós, para todos os que conviveram com ele. Sempre amigo, sempre pronto a ajudar, a ensinar, foi um ser extraordinário. Um Autodidata, onde se metia procurava sempre entender tudo o que relacionava com o assunto, um homem inteligente, sempre amigo do amigo, um homem reservado. Todos perdemos um amigo e ficámos mais pobres”, relata.
Paulo Braz, atual jornalista da RTP que, junto com outros jovens fundou o Núcleo Experimental de Rádio da Covilhã, NERC, que mais tarde com José Gouveia e Viriato Mogo viria a fundar a Rádio Clube da Covilhã, destaca que a José Gouveia se deve a Rádio na região.
“O José Gouveia marcou uma época, foi um dos que proporcionou uma viragem na nossa forma de comunicar, abriu as portas da antena para que muitos, como eu, tivessem um caminho feito na área do jornalismo e da comunicação. Foi um dos que lutou contra tudo e contra todos, numa altura em que a “rádio pirata” fazia o seu caminho e a legislação ainda era uma miragem.
Recorda que “escondidos, ameaçados, mas ainda assim nunca desistiu das suas intenções, ajudou-nos a vencer, foi em frente e consegui abrir o caminho para uma rádio livre, democrática e uma enorme mais-valia para região”.
Destaca, ainda, que “as suas capacidades técnicas foram meio caminho andado para o sucesso”. Conclui que “perdemos uma referência, um entusiasta, um magnifico ser humano que certamente não iremos esquecer”, vinca Paulo Braz deixando as condolências a toda a família.
João Flores Casteleiro, presidente do Conselho de Administração da RCC, na hora difícil da despedida, lamenta a perda que o seu desaparecimento significa para a família, amigos e comunidade em geral e recorda as suas capacidades técnicas, destacando também as suas qualidades humanas.
“Em José Gouveia destacam-se, antes de mais, os seus avançados conhecimentos técnicos e a sua incomum disponibilidade, e até vontade, em partilhá-los com quem o solicitava, denunciando, desde logo, parte das suas qualidades humanas.
Sobressai igualmente a sua coragem, como pioneiro num projeto regional que, recordo, era totalmente ilegal à época.
No entanto, o seu principal legado resultará sempre do papel essencial que teve, e continua a ter, na concretização do Sonho da Rádio para muitos jovens, boa parte deles hoje profissionais na área da comunicação. Apenas com José Gouveia teria sido possível a criação de uma rádio na Covilhã no princípio dos anos 80, que ao longo da sua história acolheu centenas de interessados por esta forma de comunicar, procurando sempre contribuir ativamente na formação de novos comunicadores.
José Gouveia foi, portanto, muito mais que um simples fundador da Rádio Clube da Covilhã, devendo ser recordado como uma das principais referências da inovação tecnológica e impulsionador da radiofonia do final do século XX.
Com o desaparecimento de José Gouveia perdemos todos os que de alguma forma estão ou estiveram ligados à comunicação na região e, naturalmente, à RCC nos últimos 40 anos, seja na qualidade de dirigente, funcionário ou colaborador”.
As cerimónias fúnebres decorrem hoje, a partir das 14:30, na igreja da Santíssima Trindade, na Covilhã.