Haja Saúde é o nome do projeto que será coordenado pela Coolabora, em parceria com a ULS Cova da Beira e a Associação Humanitária Beira Aproxima, com o objetivo de promover hábitos saudáveis na comunidade cigana do Tortosendo, contribuindo para esbater o medo de ir ao médico, melhorando a comunicação entre as partes.
O projeto foi hoje apresentado em conferência de imprensa, e, segundo disso André Barata, presidente da direção da cooperativa de intervenção social, Coolabora, pretende-se, também, “combater estereótipos que segregam esta comunidade no acesso aos serviços de saúde”.
“Há barreiras que dificultam o acesso aos serviços de saúde, mas também pretendemos empoderar e capacitar e para isso é fundamental trabalhar a comunicação, seja pelo lado dos profissionais de saúde, seja pelo lado da própria comunidade”, disse.
No fundo, pretende-se identificar as barreiras que levam a comunidade a afastar-se dos cuidados de saúde e esbate-las.
Segundo explica a Coolabora, que será responsável pela coordenação do projeto, embora sem dados específicos sobre a saúde das comunidades ciganas no território, “são vários os estudos que mostram que a sua saúde é um fator de exclusão social grave”, apontando “que a esperança média de vida é nesta comunidade 15 anos abaixo da das pessoas da sociedade maioritária e esse facto está relacionado com vários fatores, entre eles as hábitos alimentares, evitamento da medicina preventiva, falta de condições das habitações e consanguinidade”.
O projeto irá desenrolar-se ao longo de um ano e, da parte da ULS Cova da Beira, João Casteleiro garantiu, na conferência de imprensa, que haverá total empenho para melhorar a comunicação entre profissionais de saúde e a comunidade.
“Como já foi identificado, e disseram aqui, há dificuldades de comunicação entre a vossa comunidade e os profissionais de saúde. Vocês têm uma cultura própria e é preciso interpreta-la e saber como melhorar esta comunicação. Temos de melhorar a ligação com os profissionais de saúde e entender que somos todos iguais, mas diferentes”, disse.
João Casteleiro recorda que na comunidade há o gesto solidário de todos se dirigirem ao hospital para se ajudarem mutuamente. Sublinha que neste caso é preciso formação e criar “uma série de normas em que possam haver uma melhor relação. Um código que sirva para a comunidade e para os próprios profissionais de saúde”.
A ULS será responsável pela conceção de um guião de boa comunicação entre as partes e pela sua disseminação entre os seus profissionais.
A Associação Beira Aproxima, composta por jovens estudantes de medicina, terá a seu cargo muito do trabalho de campo junto da comunidade, em visitas domiciliárias, nomeadamente para informação e prevenção. Sara Dias vinca que este projeto é uma “enorme oportunidade de ir além do que é curso, contribuindo para ser melhores médicos no futuro”.
Criar pontes entre a comunidade cigana e os profissionais de saúde da Covilhã, melhorando a comunicação, mas sobretudo fazer com que a comunidade cigana deixe de ver o hospital como “o bicho papão que lhe vai dar más notícias”, é o objetivo final, disse Rosa Carreira, sublinhando que a comunidade tem medo de ir ao médico e por isso não usa a medicina preventiva, “deixando-se andar a sofrer por medo”.
Por outro lado, também é objetivo dar formação à própria comunidade “sobre como se comportar em espaços públicos, para evitar situações de segregação”, sublinhou a responsável da Coolabora.
Para atingir estes objetivos o projeto assenta em cinco atividades, foi também explicado.
A primeira a desenvolver-se é a “Casa a Casa – Caso a caso” que prevê a visita a casa das famílias ciganas do Tortosendo fazendo um diagnóstico dos seus hábitos e levando informação de prevenção.
A segunda, “Prevenir para Não Remediar”, funcionará como uma continuidade do trabalho realizado durante o levantamento feito nos domicílios.
Criação de Guião de Boa Comunicação é a terceira atividade para melhorar a interação entre profissionais de saúde e a comunidade cigana.
Serão também realizadas sessões de sensibilização sobre cultura cigana, dirigidas aos profissionais de saúde, por forma a melhorar o entendimento desta etnia.
A última atividade prevê um encontro entre todos os intervenientes.
Trata-se de um projeto “inovador e pioneiro”, foi explicado durante a conferência de imprensa, vincando que se pretende alterar hábitos de vida menos saudáveis da comunidade, apostando na medicina preventiva, encaminhamento para consultas de planeamento familiar e para saúde infantil e juvenil.
O projeto é financiado pelo FAPE – Fundo de Apoio à Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas.