Uma tertúlia sobre “Direitos Laborais e Sindicais” foi o mote para Carvalho da Silva, ex-Secretário-geral da CGTP, defender na Covilhã que é preciso preparar o país para uma nova realidade, em que um quinto da população ativa é imigrante, salientando que há setores que não estão preparados como a edução e a saúde.
“Muitas das questões que hoje temos que discutir, seja o Serviço Nacional de Saúde, a Escola, a Segurança Social, o Sistema de Proteção Social, é para um país que nós não estamos a considerar. Nós somos um país com um quinto da população ativa imigrante”, disse, exemplificando que nas “urgências de um hospital, em alguma zonas, já vê mais estrangeiros do que portugueses”.
A escola é outra das situações. “Eu passei nos últimos meses por dezenas de agrupamentos escolares. Não encontrei nenhum com menos de 14 nacionalidades e encontrei um com 44. Esta não é a escola para que os nossos professores foram preparados, a exigência é outra. O SNS é outro, há discussões que estão atrofiadas. Nós precisamos de ter noção disto”, sublinhou.
Carvalho da Silva falava na Covilhã, durante a tertúlia “O 25 de Abril e os Direitos Laborais e Sindicais”, promovida pela Câmara Municipal da Covilhã a propósito das comemorações dos 50 anos da revolução dos cravos.
Na sua intervenção o sindicalista relembrou as grandes conquistas dos trabalhadores no pós-revolução, muito por força da organização que já existia antes de 1974.
Sublinhando que uma das maiores conquistas da humanidade foi o aumento da esperança de vida, vinca que na área do trabalho é preciso acompanhar essa conquista.
“A sociedade atual lida mal com o envelhecimento. A maior conquita da humanidade é o aumento da esperança de vida, mas no trabalho, nós estamos a léguas de responder a essa conquista. Quando evocamos o 25 de Abril, evocamos a revolução e esta não é só o imediato, é tudo o que se projeta e uma das transformações é que ganhámos, em termos médios, mais 20 anos de esperança de vida e a sociedade vai ter de responder a isto”.
Olhando ainda para as transformações atuais, Carvalho da Silva, critica a falta de formação para profissões que estão a desaparecer.
Defende que “o emprego e o trabalho” continuam a ser questões centrais, mas a escola “não está a dar atenção” a esta questão.
“Usa-se o chavão: Temos a geração mais preparada de sempre. Foi um salto extraordinário do ponto da educação e formação, mas qualificação escolar e qualificação profissional não são uma e a mesma coisa, são dimensões distintas. As profissões precisam de ser preparadas na escola e, também, no espaço do trabalho. Se não se prepara isto estamos a dar tiros nos pés”, concluiu.
Defendeu que no mundo laboral a “intermediação coletiva” que os sindicatos fazem continua a ser essencial, também para contrariar o ataque do “hiperliberalismo que defende que patrão e trabalhador estão em pé de igualdade, para discutir o seu contrato de trabalho”.
Na tertúlia participou também Joaquim Dionísio, ex-dirigente sindical e advogado.
Relembrou o passado e sublinhou que “o que melhor exemplifica o que é o 25 de Abril é a explosão de liberdade. As pessoas sentiram-se livres para lutar”, disse, realçando que uma das “grandes mudanças” foi “o funcionamento livre dos sindicatos e a possibilidade de atuarem livremente”, vincando que as restantes conquistas, como o salário mínimo, escolaridade, SNS estão relacionadas com esse facto.
António Casimiro Ferreira, professor e investigador, alertou para a normalização de determinados autoritarismos que se está a realizar, realçando que de um lado há um Estado que devia defender a negociação coletiva e a ideia dos impostos progressivos e do outro lado a ideia de um contrato único e pagar todos os mesmos impostos.
Luís Garra, que integra a comissão organizadora das comemorações na Covilhã, e dirigente sindical, moderou a tertúlia que se realizou no último sábado, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, inserida nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e no ciclo que eventos de igual natureza que vão decorrer até abril de 2025.