Os cuidados de saúde estão melhores do que há 30 anos, mas para manter o SNS como pilar da democracia tem de reforçar o seu cimento, ou seja, os profissionais de saúde. Esta foi uma das conclusões da tertúlia promovida pela Câmara Municipal da Covilhã, ontem, dia 1, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
“O Serviço Nacional de Saúde como Pilar da Democracia” foi o mote para juntar Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos, Maria Augusta Sousa, antiga Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, João Pedroso de Lima, antigo diretor clínico dos Hospitais da Universidade de Coimbra e João Casteleiro, ex-diretor da ULS Cova da Beira e presidente da Assembleia Municipal da Covilhã, que moderou o debate.
Vítor Pereira, presidente da Câmara Municipal, que abriu a sessão, mostrou-se convicto que o SNS continua a ser “um dos grandes pilares da democracia”, apontando que é “o que mais contribui para que os verdadeiros valores de Abril se cumpram”.
“Um SNS universal, tendencialmente gratuito, que a todos trata, que não distingue o rico do pobre, e que orgulho que isso nos dá!”, disse. Apontou se está “melhor que há 30 anos e não obstante todos os melhoramentos que há a fazer, António Arnaut haveria de estar muito orgulhoso deste legado que nos deixou”, disse o autarca.
Vítor Pereira elogiou ainda os profissionais de saúde que constroem um SNS “que tem a Humanização como valor inteiro e integral”.
O autarca frisou que a Câmara Municipal da Covilhã “será sempre parceira”, em “defesa permanente do SNS”.
Para sublinhar a importância deste serviço, Vítor pereira desafiou a olhar para os países que o não têm, para questionar “se é isso que queremos para nós”, respondendo “não”.
João Casteleiro, aludindo às notícias que a que diariamente se assiste, vincou que “não tem uma visão catastrófica do SNS”, mas “não se podem esconder as dificuldades e varrê-las para debaixo do tapete”.
“Não podemos dizer que está pior do que há 20 ou 30 anos, é impossível dizer um disparate destes. Estamos muito mais bem apetrechados, temos especialistas que sabem muito mais, os nossos alunos saem mais bem preparados, tudo isso contraria a catástrofe que passa diariamente nas televisões”, disse, dando o exemplo da Cardiologia de Intervenção na Covilhã, que fez quase 1500 procedimentos num ano, com cerca de 500 doentes com enfarte e em verdadeiro risco de vida, mas se um deles falecer, isso é que é destacado.
João Pedroso de Lima, que integra a Comissão Nacional para a Humanização dos Cuidados de Saúde do SNS, apelou a que acabem dos “doentes invisíveis”.
“Todos os dias temos situações de doentes a sentirem-se invisíveis nos nossos hospitais. A humanização do SNS é essencial para a manutenção e fortalecimento da democracia, ao promover a dignidade, o respeito, a equidade e a participação. A Humanização do SNS reforça, não apenas a saúde coletiva, mas a coesão social e a responsabilidade cívica, características fundamentais para um desenvolvimento democrático”. Sublinhando que a “Humanização dos cuidados de saúde é um requisito fundamental para a sua qualidade” afirma que “é nossa obrigação, enquanto cidadãos, ajudar a essa promoção”.
A antiga Bastonária da Ordem dos Enfermeiros apresentou o SNS como o verdadeiro pilar da democracia, o único presente em todo o território nacional, mas que pode estar em risco se não se reforçar o seu cimento, os profissionais de saúde.
“Mas é bom perceber que não há pilar sem cimento, e o cimento são os profissionais de saúde. Se não houver, como infelizmente há muito tempo não tem havido, o cuidado necessário para que o pilar não se parta, este fica em risco. O SNS como pilar da democracia está em risco”, concluiu.
Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos, colocou também o mote na humanização, vincando que por mais avanços tecnológicos que existam, nada irá substituir a relação médico-doente.
Aludindo a que a tertúlia foi promovida no âmbito das comemorações dos 25 de Abril, na sua intervenção, deu exemplos de como o SNS pode ser garante da liberdade individual ou coletiva.
Entre os exemplos destaque para o que se passou com a pandemia COVID19, frisando que foi o SNS, e os seus profissionais, que nos restituíram essa liberdade.
“Foi este SNS que permitiu que nos libertássemos desta contrariedade, que aconteceu uma vez e que irá acontecer mais vezes. Foi por este edifício, com estes pilares sólidos que o SNS tem, que conseguimos dar a volta à pior pandemia dos últimos 100 anos”, disse.
Também deixou avisos face ao atual estado do SNS: “Temos um SNS que corre o risco de falência, porque foi feito tudo errado nos últimos anos e nas últimas décadas. Não houve planeamento e hoje o SNS deixou de ser competitivo. Não é capaz de aliciar os profissionais de saúde que são necessários para o seu funcionamento”, disse
A tertúlia decorreu no Salão Nobre dos Paços do Concelho onde, mensalmente, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a Câmara Municipal da Covilhã recebe convidados para debater diversos temas relacionados com a efeméride.