Nos “tempos de mudança e insegurança” que o mundo vive atualmente, torna-se cada vez mais importante “celebrar o passado com os olhos postos no futuro”, sublinhou João Casteleiro, presidente da Assembleia Municipal na Covilhã, na Sessão Solene Comemorativa dos 51 anos do 25 de Abril.
“Os tempos que vivemos trazem-nos uma maior tomada de consciência sobre a vulnerabilidade do ser humano, o quotidiano mais triste e cinzento. Os tempos são muito incertos, exigem profunda reflexão sobre o que queremos para nós e para os nossos filhos e netos. Temos hoje a certeza de que é preciso agir. Temos a certeza de que os valores da democracia estão cada vez mais ameaçados. Passaram 51 anos. Nós somos os responsáveis e protagonistas de um inevitável novo recomeço”, disse.
João Casteleiro acredita que cabe a cada um de nós “defender a democracia” e sermos “atentos, ativos e interventivos”. O presidente da Assembleia Municipal acrescentou que “é preciso combater a demagogia, os populismos, a mediocridade e a mentira”, bem como “proteger os mais vulneráveis”.
Considerando “pão, paz, habitação e saúde” como os “principais gritos de Abril”, João Casteleiro reforçou a ideia de que é necessário “refletir sobre as perdas conquistadas graças ao 25 de abril”.
Fernando Pinheiro (“Covilhã Tem Força”) começou por questionar “e tu 25 de Abril, o que tens para nos dizer das tuas mulheres 51 anos depois?”. Destacou a desigualdade entre mulheres e homens que existia em 1974. “O que fizeste tu pelas mulheres?”, continuou, enfatizando que ainda hoje existe essa mesma desigualdade.
Relembrando o mundo em que cresceu, no Tortosendo, assegurou que não haveria indústria têxtil sem as mulheres.
No seu discurso, Fernando Pinheiro recordou, ainda, Carina Franco, antiga diretora do Agrupamento de Escolas A Lã e a Neve, e Luísa Mendes, trabalhadora têxtil e dirigente sindical.
“Estas mulheres representam o melhor que temos: a capacidade de lutar e de transformar. Por isso, neste 25 de Abril, podemos dizer bem alto que a liberdade também se escreve e deve escrever no feminino, com coragem, com dignidade, serviço à comunidade e à causa pública. Porque o lugar das mulheres é onde elas quiserem, mas é no seu reconhecimento que a justiça deve estar”, concluiu Fernando Pinheiro.
Irina Simões (PCP) destacou que “faz este ano 50 anos que as mulheres e os homens deste país puderam votar em liberdade pela primeira vez” e que “a liberdade não pode ser apenas uma recordação, tem de ser vivida e reforçada”. O acento tónico esteve, novamente, nos direitos das mulheres.
“Infelizmente vemos hoje alguns sinais de retrocesso. Os direitos fundamentais das mulheres, das jovens e das meninas. Estes direitos estão novamente sob ataque. A realidade mostra-nos que há direitos fundamentais em risco. A violência de género continua a devastar vidas. A desigualdade persiste nos salários, no acesso à habitação, na conciliação da vida profissional e familiar”.
Este é um retrocesso que Irina Simões acredita que “não podemos aceitar”. No seu discurso, acrescentou, ainda, a crise da habitação, a especulação do preço dos alimentos, a degradação do Serviço Nacional de Saúde e a educação.
“A liberdade só é verdadeira quando chega a todas e a todos”, concluiu.
Adolfo Mesquita Nunes (CDS) começou por dizer que a estruturação do poder local autárquico democrático é “uma das grandes conquistas do 25 de Abril”. Recordou e saudou a memória de Luís Filipe Mesquita Nunes, seu tio-avô, com quem teve várias conversas sobre o significado de liberdade.
“A liberdade não é um estatuto que nos é conferido. É algo que nasce connosco. Basta-nos nascer para termos o direito a ser livres. A liberdade não é qualquer coisa que se exerce apenas, de quatro em quatro anos, nas eleições. Enquanto existir quem tenha medo de falar, há muito ainda a fazer pela liberdade”, sublinhou.
Destacou, ainda, que “a liberdade também é responsabilidade”. “Viver como quero, pensar o que quero, dizer o que quero e assumir as responsabilidades por tudo isso”. Acredita, ainda, que “devemos ser chamados à responsabilidade” sobre aquilo que fizemos pela liberdade.
Valéria Garcia (PSD) também recordou Luís Filipe Mesquita Nunes, líder da Comissão Administrativa da Câmara Municipal após a revolução, e Augusto Lopes Teixeira, primeiro presidente da Câmara eleito democraticamente.
“Celebrar Abril é também lembrar as greves nas fábricas têxteis, os plenários sindicais, as comissões de moradores e as manifestações culturais que surgiram com expressão viva da nova liberdade. Homenageamos mulheres e homens: Luísa Lopes Mendes e Luís Garra, que elevaram a dignidade do trabalho e da participação cívica. E não esqueçamos o papel transformador da cultura e da educação: o Teatro das Beiras e a criação do Instituto Politécnico que deu origem há UBI. Estes são frutos diretos de Abril”, afirmou.
Acrescentou que hoje, 51 anos passados, cabe a todos nós “honrar a memória destas mulheres e homens ao dar continuidade ao seu legado”, “defender a liberdade conquistada”, “promover uma cidadania ativa e participativa” e “garantir que os valores de Abril continuem a nortear as nossas ações”. “É tempo de recuperar o espírito de Abril”, concluiu Valéria Garcia.
Hélio Fazendeiro (PS) começou por afirmar que a sociedade atual é “mais livre, mais tolerante, mais inclusiva, mais próspera, mais justa e mais desenvolvida” do que a existente há 50 anos.
“Sou de uma geração para a qual a liberdade parece um dado adquirido, mas isso é uma perigosa ilusão, como hoje estamos dolorosamente a ver. A liberdade e a democracia são conquistas permanentes e diárias, cuja renovação constante confere sentido ao tempo que vivemos”, afirmou.
Concluiu a afirmar que “o futuro é fruto das nossas decisões e será o que dele quisermos fazer”. Olhou, ainda, para o caminho de Abril como “um caminho em aberto e que não se esgota”.
A Sessão Solene Comemorativa dos 51 anos do 25 de Abril decorreu hoje, dia 25 de abril, no Salão Nobre dos Passos do Concelho.