Candidatura da Serra da Estrela a Reserva da Biosfera vem “acrescentar maior valor ao território”

A candidatura da Serra da Estrela a Reserva da Biosfera da UNESCO vem “acrescentar maior valor ao território”, explicou Emanuel Castro, coordenador executivo da Associação Geopark Estrela, na sessão de apresentação, que decorreu ontem (23) no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

“Esta reserva vem acrescentar maior valor ao território. É verdade que já temos um Geopark classificado pela UNESCO, mas é importante que se olhe para o património natural, sobretudo para os ecossistemas e para a biodiversidade, como um recurso e um ativo importante para o desenvolvimento deste território. O Geopark trata e valoriza a sua geodiversidade, a Reserva da Biosfera vem dar um novo valor à nossa biodiversidade”, disse.


Emanuel Castro afirmou que o valor acrescentado é “um valor imenso”, exemplificando que existem na Serra da Estrela mais de três mil espécies identificadas, algumas exclusivas desta montanha.

“Só na Serra da Estrela nós podemos identificar e observar 1/3 da flora existente no país. É a grande montanha do sistema português. Mesmo comparando com o Pico, é um sistema montanhoso que só existe na Serra da Estrela e que preserva relíquias alpinas que só podem ser vistas aqui. Para além de uma história de ocupação humana com mais de sete mil anos, que tem de ser também objeto de valorização e de preservação”, explicou.

O coordenador executivo da Associação Geopark Estrela acredita que “as marcas não interessam nada” e que o mais importante é a “estratégia a montante”. Assegurou que “nunca se estudou tanto a Serra da Estrela como depois da classificação de Geopark” e que a designação de Reserva da Biosfera vem aprofundar mais esses estudos.

“Só pela marca não há qualquer valor, as marcas esgotam-se. O importante é a estratégia que está a montante e nós temos dados concretos com o Geopark, naquilo que é o aumento das visitas turísticas no território, na procura de um turismo mais científico e de natureza, no aumento das visitas educativas ao território, no aumento do número de trabalhos científicos feitos neste território. Nunca se estudou tanto a Serra da Estrela como depois da classificação. E a Reserva da Biosfera vem trazer esse aprofundamento e vem criar mecanismos que podem constituir oportunidades para pensarmos de uma forma séria como é possível manter as populações que aqui vivem e conservar a natureza”, assegurou Emanuel Castro.

Lucas César, biólogo do Geopark Estrela, destacou os habitats raros e únicos da Serra da Estrela, que se traduzem na existência de “relíquias” que não existem em mais nenhuma parte do mundo.

“Na Serra da Estrela, principalmente na parte mais alta, nós temos habitats muito raros e únicos em Portugal Continental, uma vez que é a única serra que supera os 1.500 metros de altitude. Com base nesse fator, nós temos relíquias de condições ambientais únicas que permitem que existam ali algumas espécies que não encontramos em nenhum outro lugar do mundo”, explica o biólogo.

O biólogo olha para a Serra da Estrela como um “laboratório vivo com muito para estudar”. Acredita, também, que esta candidatura possa potenciar esta montanha como objeto de estudo para “conhecer mais” e para “aplicar esse conhecimento no desenvolvimento do território”.

José Miguel Oliveira, vereador na Câmara Municipal da Covilhã, no seu discurso, destacou que a classificação da Serra da Estrela como Reserva da Biosfera da UNESCO representa “um compromisso com a natureza, com a ciência, com o desenvolvimento sustentável e com as gerações futuras”.

“A Covilhã tem dado passos firmes na valorização do seu património natural, cultural e humano. Acreditamos que esta candidatura irá reforçar a centralidade da Serra da Estrela no panorama nacional e internacional e abrir novas portas para a valorização económica e social da nossa região”, concluiu o vereador.

Depois de terminada a consulta pública, no final deste mês, segue-se a acomodação de todas as sugestões que sejam consideradas válidas para o documento, a finalização do plano de ação e, em junho, a candidatura é, então, enviada para a UNESCO. Os resultados devem ser conhecidos no verão de 2026.

Neste momento, em todo o mundo, existem 760 Reservas da Biosfera, sendo que 12 se situam em Portugal. A ser aprovadas, a Arrábida será a 13ª e a Serra da Estrela a 14ª futura Reserva da Biosfera a nível nacional.