“Pide – 510 Presos no Concelho da Covilhã”, o mais recente livro de José António Pinho, é mais um contributo para que não se esqueça o que foi a luta pela liberdade, contra um regime que oprimia, torturava e matava, sublinharam os diversos oradores durante a sessão de apresentação da obra.
Uma cerimónia que juntou, para além do autor, o Presidente da Câmara Municipal da Covilhã, Vítor Pereira, o Presidente da Assembleia Municipal, João Casteleiro, o fundador e militante nº 1 do PS, António Campos, o historiador Casimiro Lopes dos Santos e o jovem João Martinho Marques, que apresentaram a obra, e António Lopes em representação da editora do livro.
Um livro “simples”, diz José António Pinho, fácil de ler, mas que o toca muito.
“É um recordar dos 510 presos do concelho da Covilhã, e há a circunstância dos presos de 1963, que foram os meus companheiros e camaradas e que eram meus amigos. Mas também conto um pouco da história de Portugal e quais as causas dos 48 anos deste regime que era o Estado Novo. Falo do que era Pide, a Milícia e Legião Portuguesa.
Um regime que “só foi possível graças a Oliveira Salazar, um ditador que formatava as pessoas”, disse o autor à Rádio Clube da Covilhã.
Comparando o país daqueles tempos e de hoje, Pinho sublinha que há uma “grande modificação” e as pessoas têm de saber como se chegou aqui.
“A Liberdade não caiu do céu, foi produto de uma data histórica, de uma luta que muitos querem apagar, o 25 de Abril de 1974”, disse.
O livro é um resumo daqueles tempos, é simples, com 100 páginas para que se possa ler numa viagem de autocarro, esclarece.
Contrariamente a outros livros que já escreveu sobre o tema, este “é mais abrangente”, disse também o autor.
Vítor Pereira, Presidente da CMC, salientou a importância deste livro para se conhecer melhor a Covilhã, o antigo regime e a luta pela liberdade.
“Este é mais um livro sobremaneira importante para o conhecimento de e sobre a Covilhã”, disse.
Recordando que José António Pinho foi preso pelo antigo regime por “delitos” como lutar pela liberdade, o autarca sublinhou que estes «crimes» “são medalhas pelas quais só tem de se orgulhar”.
“Bem sei que sofreu. Como nos diz neste livro, foi torturado, chorou, sofreu, quase enlouqueceu, mas não traiu. Um verdadeiro exemplo que muito contribuiu para que hoje possamos cometer os mesmos delitos sem sofrer represálias”, apontou durante o seu discurso.
Um livro da memória histórica de José António Pinho, “fundamental para não esquecer”, disse ainda o Presidente da Câmara da Covilhã.
“Com este livro José António Pinho oferece-nos a sua memória histórica e o seu saber de experiência feito. Nas primeiras páginas relata o dia em que, já depois de ter sido preso, lhe disseram «o partido precisa novamente de ti» e eu hoje acrescento que, passados mais de 50 anos sobre o 25 de Abril de 1974, o país e a Covilhã continuam a precisar de José António Pinho”, vincou.
Uma cerimónia recheada de muitos momentos de exaltação do que foi a luta dos resistentes contra o regime de Salazar.
O historiador Casimiro Lopes dos Santos, que apresentou a obra, destacou que este “é uma memória histórica a consultar”.
“A obra de José António Pinho é uma memória histórica a consultar. Temos que lhe agradecer mais este contributo. Temos que agradecer ao autor pela partilha das suas memórias, como parte de uma história que, sendo pessoal, é também coletiva e faz parte da história de luta da Covilhã e de todo um povo”, disse, concluindo que o que se relata neste livro “é história com H maiúsculo”.
Se para a geração mais antiga, que viveu o 25 de Abril, a obra se reveste de importância, para António Martinho Marques, antigo líder da JS Covilhã e JS Nacional, que nasceu depois da data, o livro “é um memorial”.
“É uma obra única e necessária, que honra o passado e combate o esquecimento, que é uma forma de morte. Este livro devolve voz, rosto, nome e dignidade a homens e mulheres que pagaram um preço altíssimo por acreditar na liberdade. Não é só um levantamento histórico, é um memorial”, disse.
“É um documento profundamente humano, carregado de memória e de compromisso. É também um mapa afetivo da Covilhã, das ruas, das lojas, das fábricas, dos cafés, dos lugares onde a luta começou”, salientou na sua apresentação da obra.
Uma cerimónia rechegada de momentos de recordação da luta destes resistentes, como aconteceu quando usou da palavra António Campos, Fundador do PS e militante número um, também ele preso pela PIDE, vincando que “há agora quem queira apagar a história” para afirmar que ainda bem “que há este livro para recordar”, disse.
“Ó Pinho, nós vivemos uma época em que nos querem apagar a história do que vivemos, uma história trágica. Vivemos numa ditadura, que prendia, torturava, matava, perseguia e erámos escravos da vontade de um ditador. Que bom ter aqui um livro para recordar esse passado”, disse, realçando que “quem não conhece a história não é capaz de viver o presente e defender princípios e valores que são fundamentais na vida humana, como a liberdade”, disse.
Também João Casteleiro, Presidente da Assembleia Municipal da Covilhã, realçou a necessidade de não esquecer. Sobre aquele tempo, sublinha a “ignorância” que existia por vontade de um ditador, para moldar o povo.
“Uma enorme ignorância, porque aquele senhor velhinho, simpático, que aparecia na televisão, sabia bem o que fazia e tinha uma máquina de propaganda incrível e por isso é que havia a quantidade que havia de pessoas analfabetas na altura, obviamente que isto tudo tem um encadeado”, realçou.
Uma obra que deve ser lida “para honrar os que lutaram”, disse o autor durante a sua intervenção na cerimónia.