Paulo de Oliveira: Sindicato considera “vergonhoso” aumento de 15 cêntimos do subsídio de alimentação

Marisa Tavares, presidente da direção do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Baixa, considera “vergonhoso” o aumento de 15 cêntimos do subsídio de alimentação praticado no Grupo Paulo de Oliveira, passando de 2.50 euros a 2.65.

Numa concentração de trabalhadores à porta da empresa, na Boidobra, a presidente do Sindicato explicou que reivindicam um subsídio de alimentação de seis euros. Acrescentou que, durante as negociações com a associação patronal, de forma a obter qualquer aumento, reduziram a proposta para 3.50 euros a ser aplicados já este ano. No entanto, a associação patronal acabou por afirmar que “não havia razões para negociar”.


“O que é certo é que, por parte da associação patronal, houve um encerrar dos documentos que tinha encima da mesa das negociações e saiu a dizer que, tendo em conta as nossas propostas, não havia condições para negociar e é inaceitável que a proposta que tinham era de 15 cêntimos”, afirmou.

Marisa Tavares garantiu que há empresas a pagar valores mais justos de subsídio de alimentação e que é “inadmissível” que o Grupo Paulo de Oliveira “recuse negociar acima daquilo que é aceitável”.

“Já temos empresas do vestuário a pagar cinco euros, 4.30, 4.50, 4.20, 5.20. É inadmissível que este setor, nomeadamente esta empresa e o Grupo Paulo de Oliveira continue a recusar negociar acima daquilo que é aceitável. Quem representa as entidades patronais, há dois anos, dizia que era contra o aumento do subsídio de alimentação e só de há uns anos para cá é que esta situação foi desbloqueada. Mas ser desbloqueada para darem 15 cêntimos é vergonhoso e nós continuamos a dizer que não é aceitável”.

A presidente da direção do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Baixa relembrou, ainda, os lucros da empresa têxtil, afirmando que “tem condições para dar o exemplo e pagar aos seus trabalhadores, que são quem lhes cria a riqueza”. Acrescentou que as desculpas “são sempre as mesmas”, ora foi a pandemia e a guerra, ora foi o abrandamento da economia, concluiu Marisa Tavares.

Isabel Tavares, coordenadora da FESETE, também considerou “manifestamente insuficiente” e “vergonhoso” o aumento de 15 cêntimos, o que, ao invés de motivar os trabalhadores a procurar o sector têxtil para trabalhar, faz o contrário: afasta-os.

“Um subsídio de alimentação de seis euros, nos dias que correm, com o custo de vida da maneira que está a aumentar quase que diariamente, já não podemos considerar que seja o justo, já precisávamos de ir um bocadinho mais além, mas já era aceitável. E temos empresas no sector que reconhecem isso e que pagam. A Paulo de Oliveira só não paga porque não quer”, acrescentou.

A coordenadora da FESETE salientou as dificuldades dos trabalhadores do sector têxtil, vestuário e calçado, a quem “sobra muito mês e falta muito salário”. Relevou ainda, que face aos dados relativos ao lucro do Grupo Paulo de Oliveira, os salários e as condições dos trabalhadores são “escandalosos”.

“Em janeiro e fevereiro as exportações aumentaram cerca de 3.8% no sector do vestuário e no sector têxtil. Os lucros já ascendem aos mil milhões de euros, o que quer dizer que o sector está bem e recomenda-se. É preciso é que haja um enquadramento da parte patronal, relativamente aos seus trabalhadores, de partilha dessa riqueza que é criada, que é aquilo a que nós não estamos a assistir”, assegurou Isabel Tavares.

Alice Martins, da Comissão Sindical, também presente na concentração em frente à empresa do sector têxtil, explicou que a fraca representação dos trabalhadores se deveu aos “constrangimentos” e à “intimidação” a que os funcionários são alvos por parte das chefias.

“Os trabalhadores são constantemente alvo de constrangimentos e de intimidação por parte das chefias e muitos deles têm medo de abrir a boca e de falar, não conseguem fazer-lhes frente. Deixou de haver sábados, mas muitos deles eram castigados e não os chamavam para fazer trabalho suplementar por virem a plenários e por abrirem a boca. E daí não estarem aqui representados todos os trabalhadores, mas foi uma grande prova e uma grande força aqueles que vieram cá para fora”, disse.

A concentração dos trabalhadores do sector têxtil, em luta por melhores condições de trabalho, aumento dos salários e aumento do subsídio de alimentação, decorreu ontem, dia 17, à porta da empresa Paulo de Oliveira, na Boidobra.