O concelho da Covilhã está melhor que há 12 anos. A generalidade dos Grupos Municipais na Assembleia Municipal da Covilhã concorda com esta afirmação, mas para uns está “muito melhor”, e para outros “poderia estar muito melhor”.
O debate aconteceu na última terça-feira, dia 29, e o “aroma” a autárquicas também se fez sentir, com intervenções a “puxarem a brasa” aos respetivos candidatos.
O debate sobre “O Estado do Município” é escrutínio à governação socialista de que a bancada PS não tem medo, disse Afonso Gomes, mostrando a confiança na gestão dos últimos 12 anos
“O PS não tem receio deste escrutínio, pelo contrário, estamos confiantes porque a Covilhã está hoje, de forma clara e inequívoca, muito mais desenvolvida que há 12 anos atrás. Encontrámos um Município isolado, endividado e em conflito permanente com instituições, como a UBI, por exemplo. Uma cidade sem rumo e sem diálogo. Com responsabilidade, trabalho e visão devolveu-se estabilidade à vida municipal, reataram-se pontes, pacificaram-se relações e devolveu-se o prestígio à Covilhã”, disse.
Ainda do PS Pedro Bernardo, recordando que o valor da fatura da água resulta da sua privatização, sublinha que a Covilhã já não tem a mais cara do país, sublinhando, também, a importância da operação de resgate do saneamento, à Água da Serra, apontando que é “uma decisão corajosa” para baixar a fatura.
João Flores Casteleiro também destacou que houve melhoria na transparência da governação, dando como exemplo a existência desta assembleia municipal, em julho, numa sessão dedicada a discutir o Estado do Município.
Sobre as obras realizadas sublinhou que “conferiram mais coesão ao concelho”, apontando as que aconteceram em zonas mais desfavorecidas como a Estrada Nacional 311, na zona da Barroca Grande, a ligação de São Jorge da Beira ao município vizinho, a estrada do Sul, desde o Ourondinho às Pedras Lavradas, praticamente concluída e a Estrada do Porsin.
Na última intervenção do PS Hélio Fazendeiro, líder da bancada socialista, afirmou que “a marca mais expressiva destes 12 anos é a centralidade que a Covilhã ganhou na área da saúde”, afirmando que a Covilhã é “uma referência regional e nacional nesta área”, frisando que o caminho percorrido o orgulha.
“O caminho feito dá-nos orgulho, mas não nos deixa acomodados, os desafios do futuro são claros, exigem capacidade, determinação, experiência e ação continuada”.
Eleito na AM desde 2001, Hélio Fazendeiro fez, também, um discurso de despedida: “quero dizer aos covilhanenses que estou de consciência tranquila, com sentimento de dever cumprido e de missão e do juramento que fiz e reassumi a cada início de mandato”, disse, apontando que espera voltar ao órgão “como presidente da Câmara”.
Vanda Ferreira (PSD) introduziu o tema “espaços verdes” para criticar a ação socialista nestes 12 anos.
“Estagnação e degradação”, disse para caracterizar este período de tempo, sublinhando que não há nada de novo nesta matéria e os espaços existentes não tiveram a manutenção devida. “Isto num tempo especial em que houve fundos europeus específicos para esta área”, disse, concluindo que “a cidade envelheceu, aqueceu e isolou-se”.
A eleita citou a falta de manutenção no Jardim do Lago, Jardim das artes que “não tem vivacidade”, Parque Alexandre Aibéo e jardim da Goldra que considerou “a maior aberração da cidade”.
Luís Rodrigues, também do PSD voltou a criticar a forma como a autarquia está a realizar o resgate da concessão do Saneamento à Águas da Serra.
Também do PSD Valéria Garcia abordou o sistema de mobilidade implementado que “não serve os munícipes”. Criticou, ainda, a manutenção de estradas “feita à peça”, sem planeamento.
Já António Saraiva salientou as más condições do Complexo Desportivo e a Piscina Municipal encerrada, frisando que o executivo municipal se “demitiu de criar condições” para “promover desporto para todos”.
Hugo Lopes, líder da bancada, pontou que ao longo deste tempo, do lado da maioria e da oposição de fez o melhor, realçando que o concelho “estando melhor, poderia estar muito melhor”, se aceitasse as sugestões da oposição.
Recordou a perda de população, da sede da CIM, e que a cidade deixou de ser o polo tecnológico de referência que era em 2013, realçando que a governação socialista “falhou em duas áreas essenciais, as infraestruturas e a mobilidade”.
“Termina o mandato como o começou, com anúncios de mais obras que ainda não chegaram e leva-nos a crer que o estado do município não é mais que um estado de negação. Negação da realidade, da decisão e das propostas da oposição”.
Adolfo Mesquita Nunes (CDS) numa leitura política do momento salientou que a leitura sobre “O Estado do Município será feita nas urnas”.
Ainda sobre a matéria eleições também apontou o dedo à oposição, que “deveria ter-se unido e não o fez”. Sublinha que o concelho “precisa de uma mudança”, mostrando-se convicto que esta “está do lado de quem nunca esteve ao seu lado”, disse a Vítor Pereira.
Ainda analisando “ventos políticos” não tem dúvida que há três candidatos que podem ser alternativas e ser presidente de Câmara, apontando que dois estavam na Assembleia Municipal (Hélio Fazendeiro e Carlos Martins) e o terceiro é o candidato do CDS.
Abordou a redução de preço da água e o litígio em tribunal com a Águas da Serra,
“O mandato deixou muito a desejar, porque há uma certa sensação que estamos a ficar apara trás. Outros crescem mais do que nós”, disse, fazendo um balanço negativo destes 12 anos.
“Mais preocupado com o estado das candidaturas que com o estado do Município”, respondeu Vítor Pereira.
A terminar as intervenções do CDS João Lopes Bernardo afirmou que ao longo de 12 anos houve realizações, mas só por “cegueira política” se pode ter a “consciência tranquila, estando as coisas no estado em que estão”.
Mobilidade foi o primeiro tema escolhido pela CDU. Vítor Reis Silva recordou uma moção aprovada na Assembleia Municipal onde se exigia o preço do passe igual aos das áreas metropolitanas, para afirmar que o sistema de mobilidade na Covilhã “é injusto”.
“Coerência, justiça e equidade, igualdade de tratamento e imparcialidade nas políticas municipais”, estava descrito nos documentos aprovados, relembrou, frisando que a CMC nada fez. “Manteve um sistema de mobilidade concelhio incoerente, injusto e desigual que penaliza metade da população do concelho. Trata os cidadãos que vivem nas freguesias rurais como cidadãos de segunda”, afirmou.
Mónica Ramôa, também da CDU, criticou a falta de planeamento no concelho, vincando que ainda se utiliza o PDM de primeira geração.
Sobre os transportes, Vítor Pereira reconhece a injustiça, mas realça que a autarquia não tem capacidade para se substituir ao Estado nesta matéria.
“É um absurdo, é injusto, é revoltante, mas a verdade é que a Câmara Municipal, por mais que tenha estabilizado a situação financeira, não tem capacidade para amortecer esse objetivo”, disse, referindo-se ao valor do passe pago por alguém que viva em São Jorge da Beira (120 euros) e alguém que viva na área metropolitana de Lisboa, por exemplo, (40 euros).
Neste debate sobre o estado do Município usaram da palavra também presidentes de junta.
Marco Gabriel (Boidobra) apontou três obras prometidas por Vítor Pereira, que não saíram do papel.
“A requalificação do espaço público na Rua Conde José Calheiros, a Rotunda do Eixo TCT com a EM 507 e a iluminação do estrangulamento na passagem de nível na EM 507, perante a palavra dada, ficaram comprometidas. Podia ter sido feito mais”, disse.
Carlos Martins (UF Covilhã e Canhoso) questionou Vítor Pereira sobre um conjunto de obras que, disse, foram prometidas e não realizadas ao longo de 12 anos “por inércia e preguiça”.
“12 anos de laxismo, de deixa andar, de preguiça. Prometeram a Barragem II das Cortes, nem projeto quanto mais obra. A Barragem da Atalaia, marcou passo. O acesso ao planalto central pela estrada Unhais/Nave, não andou nem desandou. A estrada Verdelhos/Poço do Inferno, a partir de janeiro deste ano meteram o projeto na gaveta, um projeto que alguém estava a tratar com dedicação. A estada Sul do concelho, nada fizeram, trouxeram apenas discórdia. São preguiçosos”, disse, concluindo com promessas de mudanças em outubro.
Criticou ainda as promessas não cumpridas de projetos para o aeródromo, pavilhão arena, creches, metros de superfície e revisão do PDM, entre outras.
Nuno Lourenço (Cortes do Meio), relembrou declarações de Vítor Pereira, na Assembleia Municipal, onde prometia a conclusão da estrada Cortes do Meio/Penhas da Saúde, acusando-o de não ter avançado com o projeto “por estados de alma”.
“Assumiu esse compromisso e não o fez, nem o concurso lançou. Não foi por falta de projeto porque ele existe, não foi por falta de pareceres das entidades que se devem pronunciar porque existem e não foi por falta de dinheiro porque regou o orçamento de 2025 com milhões de euros. Pergunto se terá sido por «estados de alma» porque os municípios não se dirigem com «estados de alma»”, criticou.
A concluir o debate Vítor Pereira vincou que a oposição fez um esforço, quase hercúleo, para diabolizar a sua governação.
Respondendo aos eleitos, deu conta que a Estrada de Verdelhos está incluída no Plano de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela, um diploma legal, e que será financiada pelo Orçamento do Estado.
Também frisou que igual financiamento tem a Barragem das Cortes, realçando que em reunião com o Secretário de Estado da Administração Local e do Desenvolvimento do Território, e com o presidente da APA, Agência Portuguesa para o Ambiente, há uma semana, foi confirmada a prioridade desta obra e o seu financiamento através do Orçamento do Estado, vincando que esta terá também aproveitamento hidroelétrico.