Formar médicos em hospitais do interior “é um passo fundamental” para se fixarem neste território

3.877 jovens médicos iniciaram hoje o seu internato médico a nível nacional e a cerimónia de boas-vindas foi feita na Covilhã, no CHUCB, e transmitida para todo o país. Um ato “simbólico” para reforçar que, dar formação aos internos nos hospitais do interior, é o primeiro passo para os fixar nestes territórios, disse o diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, aos jornalistas, vincando que é objetivo abrir mais vagas para internos no interior.

“Este é um passo muito simbólico, a melhor forma de fixar médicos é dar formação nestes territórios, é muito difícil no futuro, com mais de 30 anos, casados e com filhos, serem transferidos para o interior”, disse. Afirma que o melhor “é dar formação em hospitais do interior”, onde “vão trabalhar, formar família e verificar a carreira médica que aqui podem ter e, seguramente, vamos cativar mais profissionais do que se fossem formados em Lisboa, Porto ou Coimbra”. Explica que “o objetivo é abrir mais vagas no interior, retê-los desde o início, para mostrar que aqui também se faz medicina com enorme qualidade e é possível ter um projeto de vida aliciante. É isso que temos que lhes mostrar”, reforçou.


Ricardo Mestre, Secretário de Estado da Saúde, disse, durante a sua intervenção na cerimónia, que este ano há um número histórico de internos, dando “nota pública do valor de excelência” que estes representam.

“Excelente”, foi também a classificação que atribuiu à formação médica em Portugal, “assente em rigor e em exigência”, que faz com que estes internos possam “dar continuidade à história de sucesso do SNS”, disse.

Entre os desafios do SNS para o futuro, o governante elencou algumas das prioridades, nomeadamente o “acesso aos cuidados de saúde” e a “valorização dos profissionais”, destacando aqui o aumento dos médicos especialistas que representam, entre 2015 e 2022, um aumento de 19%, um caminho que se quer “continuar a percorrer”, anunciando que nos próximos dias será aberto concurso para os jovens que terminaram a sua especialização no final do ano passado.

Nesta matéria, Fernando Araújo, recordou que há “centenas de médicos internos que asseguram o funcionamento do SNS, e que “são fundamentais para uma cabal resposta à população”. Afirma que se trata de uma geração diferente das duas anteriores no serviço publico de saúde, que “procura organizações que lhes ofereçam benefícios, como horário de trabalho flexível, ambiente inovador e qualidade de vida”, alertando que  as organizações que não se atualizarem “terão problemas de retenção de novos talentos”, “o que está já acontecer no SNS, vincando que é preciso “alterar a forma de concursos, grelhas, avaliação, modificar como vos formamos e integramos nas equipas, como vos promovemos, como se concilia a vida profissional com a pessoal, e temos de o fazer de forma rápida ou perdemos muitos de vocês”, disse   

Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos, que participou na cerimónia à distância, realçou o papel importante dos internos no Serviço Nacional de Saúde, frisando que um “serviço sem internos está condenado a ficar desatualizado”, sustentando que os internos “não têm sido devidamente valorizados no trabalho imenso que fazem”.

“Vocês são a força viva do SNS, são o principal fator de qualidade. Um serviço sem internos está condenado a ficar desatualizado a médio prazo”, sustentou, avançando que a entrada de internos “é também muito importante” porque “estando a aprender também estão a trabalhar e fazem uma parte muito significativa, embora com supervisão, o que permite ao SNS sobreviver”. Falando em números disse que “um terço dos médicos do SNS são internos” e que realizam “um trabalho que não tem sido devidamente valorizado”, concluiu.

O papel dos médicos internos foi também sublinhado por João Casteleiro, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira, que reivindicou o aumento do número de vagas no interior, frisando que estes “para além de estarem a fazer a sua formação, são também uma força de trabalho assistencial, muitas vezes imprescindível, ao atendimento das populações”, disse.

João Casteleiro agradeceu o facto desta cerimónia decorrer na Covilhã o que “significa que o interior não está esquecido”, frisando que deverá ser reconhecido que “as instituições mais distantes dos grandes centros de decisão das políticas publicas, como a saúde, são as que merecem mais atenção e diferenciação positiva”.

Vítor Herdeiro, presidente do conselho de diretivo da Administração Central dos Sistemas de Saúde, entidade que organizou a sessão, na sua mensagem de boas-vindas a estes jovens, sublinhou que o SNS conta com eles para continuar a cumprir a sua missão, sublinhando que são também “o garante para assegurar o direito universal à saúde”.

João Carlos Ribeiro, presidente do Conselho Nacional de Internato Médico, aproveitou a sua intervenção para reivindicar para os internos, que ali representava, mais e melhor tempo de formação.

Sublinhou que se está a “substituir médicos especialistas por médicos internos”, com perdas para “o tempo formativo”.

“Nós temos que aprender, precisamos de tempo protegido para aprender”. Fazendo um paralelismo com o esqui, disse que sem aprendizagem “até podemos fazer a primeira curva, mas estampamo-nos a seguir”, exultando os responsáveis a conseguir esse tempo agora para “fazer mais no futuro”. “Tempo formativo para aprender e tempo formativo para ensinar”, foi a principal reivindicação, para no futuro se conseguir “mais e melhores médicos”, sublinhou.