O que são e devem ser os “Caminhos de Santiago” em debate na Covilhã

Ouvir o que os peregrinos têm a dizer, partilhar experiências e encontrar o melhor caminho para “os Caminhos de Santiago” é o grande enfoque do I Fórum Internacional do Peregrino que, desde ontem e até amanhã, junta na Covilhã peregrinos, associações de peregrinos, hospedeiros, autarquias e outras entidades ligadas àquele que é classificado como um Itinerário Cultural Europeu.

A criação de albergues é uma das necessidades que já está identificada, disse, em declarações à Rádio Clube da Covilhã a presidente da Federação dos Caminhos de Santiago.


Segundo Rita Dias esta é a principal lacuna que é reportada à Federação por parte dos peregrinos e das suas associações.

“Temos consciência, desde que se formou a Federação há alguns anos, que aquilo que é mais importante é aumentar a rede de albergues no apoio ao peregrino”, frisou a responsável, vincando que “os caminhos têm evoluído a nível nacional, mas esta questão dos albergues públicos não tem evoluído da mesma forma”, disse.

A marcação e limpeza dos caminhos é outro dos pontos fulcrais, disse, embora acentue que nesta área se tem melhorado bastante devido à certificação.

Frisa que é importante manter “esta parte da sinalética e melhoria dos traçados, mas sem vulgarizar para não perder o espírito inerente a esta rota”, que será sempre um caminho de fé.

A federação alerta também que a gastronomia, as tradições de cada lugar e a cultura de uma forma mais lata fazem parte do caminho. “É uma experiência completa que o peregrino procura”, disse.

Rita Dias mostrou-se satisfeita com a adesão a este I Fórum que, apesar de decorrer em dias de trabalho juntou cerca de uma centena de participantes. Revela o desejo de que em próximas edições se aumente essa participação, uma vez que o grande objetivo “é uma reflexão sobre os caminhos com os peregrinos”.

O Caminho “não é um simples trilho ou um percurso marcado em qualquer estrada”, alertou Rita Dias, reclamando ajuda para manter esta autenticidade, nomeadamente das autarquias e associações.

“O caminho é união de gentes, de marcas de liberdade. Querer transformar esta história em algo sem alma é destruir o Caminho, é desvirtuar o que os peregrinos construíram durante séculos”, sublinhou.

Exorta as autarquias e associações a que ajudem “a pautar esta autenticidade, esta história, estas marcas, exigindo que se “cumpra com rigor e sem medos as evidências dos Caminhos de Santiago”, para que haja um “caminho seguro, marcado, cultural, sem fronteiras e com todas as condições”, disse.

Já na sua intervenção, durante a sessão de abertura do Fórum, pediu contenção na publicidade aos caminhos que não estejam ainda devidamente certificados, “porque a pressa ditada pela moda pode ditar a sua destruição”.

Nesta cerimónia, que decorreu hoje na Universidade da Beira Interior, participou também D. Manuel Felício, Bispo da Guarda. Elogiou o facto de a Federação se preocupar em ouvir os peregrinos, mostrando a certeza que “com este e outros fóruns que virão no futuro, será possível criar condições para se seguir em frente nestes percursos que cada vez mais, e bem, interessam às pessoas”.

Regina Gouveia, vereadora da cultura na Câmara Municipal da Covilhã, na sua intervenção, realçou que este debate é importante para manter esta autenticidade, frisando que, neste caso, se o ponto de chegada é importante, “o caminho é mesmo o mais relevante”.

Neste fórum foi também rubricado um protocolo de cooperação entre a Federação e a UBI, que abre a porta a que “os investigadores e docentes colaborem com a Federação e desenvolvam trabalhos nessa área”, disse o vice-reitor Paulo Serra.

 O I Fórum Internacional do Peregrino segue amanhã, na Quinta das Rasas, na freguesia do Ferro, durante a manhã.

A partir das 14:30, será percorrido o Caminho de Santiago no concelho da Covilhã, em comboio turístico. A sessão de encerramento está marcada para as 16:00 no Museu do Queijo, em Peraboa.