Covilhã: Ausência de relatório fitossanitário para abate de árvores domina debate de reunião pública

O polémico tema do abate de árvores na cidade, mais em específico na zona da Avenida Frei Heitor Pinto e envolvente, voltou a dominar discussão do Período de Antes da Ordem do Dia da passada Reunião Pública da Câmara Municipal da Covilhã, que se realizou na sexta-feira, dia 13.

O assunto foi levantado por Rafaela Graça, cidadã que já havia marcado presença numa reunião pública em maio passado e que havia questionado o executivo, entre outros problemas relativos à obra, dos motivos do abate de árvores na Avenida Frei Heitor Pinto.


Moradora na Avenida Frei Heitor Pinto, Rafaela Graça revelou que depois de Vítor Pereira ter dito na reunião pública de maio que as análises fitossanitárias foram feitas pela Águas da Covilhã (ADC), se dirigiu a 24 de maio ao Departamento de Obras da Câmara Municipal onde pôde consultar o projeto de requalificação da Avenida. Aí, segundo relata, o técnico presente também referiu que as análises foram feitas pela ADC, corroborando a informação dita por Vítor Pereira.

A partir daí, a busca das análises fitossanitárias não teve sucesso. Relata ainda que a um e-mail sem resposta a 25 de maio, seguiu-se outro a 1 de junho. Dia 27 de junho deslocou-se presencialmente à ADC onde não lhe forneceram “qualquer tipo de informação” porque a engenheira encarregue do assunto estava “indisponível”.

Só no fim de julho obteve resposta. “No dia 31 de julho enviei outro e-mail para as reclamações, sem resposta. No dia 30 de agosto, outra reclamação sem resposta. Um mês e pouco depois volto presencialmente à ADC e a informação que veio por parte da engenheira Cristina Carinhas foi que a ADC não fez análises nenhumas e que aguardam resposta da Câmara sobre este assunto”, disse a munícipe.

Rafaela Graça recebeu ainda a informação de que quem abateu as árvores em questão foi a empresa responsável pelas obras. Tal leva a crer, disse, “que as análises fitossanitárias não existem”.

Esta informação foi desmentida, contudo, pelo próprio presidente do Município que, na última reunião pública, da passada sexta-feira, em resposta a Rafaela Graça, informou que “para que dúvidas não restassem”, pediu que fosse efetuado esse relatório, o qual irá ser disponibilizado à munícipe.

Segundo acrescentou, este relatório foi feito por cinco peritos que fizeram uma análise “pormenorizada, árvores por árvore”, escrutinando “quais são aquelas que se devem manter ou não”.

Como já havia dito em ocasiões anteriores, Vítor Pereira vincou que na circunstância das obras surgiram relatos de que algumas árvores não estariam em condições de ali continuar, “ou porque estão muito doentes ou porque oferecem perigo e podem causar danos maiores, tirar ou inutilizar a vida a alguém”. Deixou claro ainda que, por princípio, se coloca “contra o abate de árvores”.

Ao assunto juntaram-se ainda Ricardo Silva, vereador da oposição eleito pela coligação “Juntos, Fazemos Melhor”. O vereador sem funções executivas relembrou na reunião a promessa de Vítor Pereira de plantar cinco árvores por cada uma que fosse abatida.

Reparou ainda na “coincidência muito grande” o facto de ter havido numa sessão pública passada queixas relativas ao previsto abate de árvore que iria haver em frente à Banda da Covilhã e de as árvores na Avenida Frei Heitor Pinto terem sido todas cortas até à Banda. Questionou: “Já não estavam doentes, essas árvores?”

José Armando Serra dos Reis, vice-presidente do Município e com o pelouro do urbanismo, também interveio para dizer que “nós todos somos amigos das árvores”. O autarca afirmou ainda que “a maior parte das reclamações” que recebe “não é por cortar uma árvore, mas sim pelo incómodo que essas árvores provocam no dia-a-dia”, concluindo que as “árvores não têm o direito de incomodar as pessoas”.

Também José Miguel Oliveira, vereador do Município, se manifestou em defesa do executivo, afirmando que, enquanto foi administrador das Águas da Covilhã, foi responsável pela “plantação, replantação e abate de árvores”, tentando esclarecer que “ninguém que está sentado deste lado abate árvores porque quer, isso é uma plataforma de entendimento claro”.

José Miguel Oliveira justificou a sua posição relembrando episódios anteriores na cidade onde árvores tiveram de ser abatidas devido às suas condições, como 12 pinheiros de grande porte no antigo Parque Alexandre Aibéo (Jardim Botânico de Montanha). Falou ainda da existência de árvores em “passeios de 40 ou 50 centímetros” e deixou a pergunta: “o espaço urbano – o espaço de circulação das pessoas – é para as árvores ou para as pessoas?”.

Imagem: fotografia de arquivo.