BE na Argemela. “O nosso pulmão será o nosso cemitério” lamenta a população

Mariana Mortágua, coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, cumpriu hoje a promessa que fez a 7 de janeiro à população do Barco. Voltar à aldeia na campanha para pôr o tema na agenda da campanha eleitoral, desafiando os outros partidos a definirem a sua posição sobre a exploração de Lítio neste território.

“Aqui estamos para cumprir a nossa promessa e para levar a voz da população a esta campanha, e para obrigar os outros partidos a definirem-se sobre estas minas de lítio a céu aberto, que são um insulto a estas gentes, não só do Barco, mas desta região”, disse Marina Mortágua à chegada.


A recebê-la vários populares, elementos do Grupo de Preservação da Serra da Argemela e o presidente da União de Freguesias do Barco e Coutada.

“Na Argemela minas não; lutaremos até ao fim” são algumas das palavras de ordem da população que teme pela sua saúde, apontando que ficarão expostos às poeiras toxicas e poluentes da mina a céu aberto, teme pela sua paisagem, pela economia da região, pelas casas que perdem valor e por mais um sem número de argumentos que há sete anos gritam em protesto, e que hoje repetiram.

A conclusão, olhando para a paisagem, foi dita a duas vozes, por Mariana Mortágua e por uma mulher da população: “o que hoje é o nosso pulmão, vai ser o nosso cemitério”.

“São sete anos de luta”, sublinha Margarida Querido, do GPSE, que detalhou que tem feito, lamentando que o tema esteja esquecido na política. Desafia os partidos políticos e virem ao local e definirem a sua posição.

“É muito bonito dizer que se tem um programa eleitoral pelo meio ambiente, pela transição energética e pelas pessoas e não apontar medidas concretas e como se vão desenrolar esses projetos. Aqui as pessoas não estão em primeiro lugar, estão no fim da linha”, lamentou.

David Freitas, por seu lado, aponta situações dúbias neste processo, com “leis feitas à medida”, no que considera “a mentira do lítio”, que condenará a vida no Barco.

“Estamos condenados a ser o couto mineiro da Europa, destruindo a paisagem do interior que devíamos preservar”, sublinhou. “Isto cabe na cabeça de alguém? mesmo pessoas com pouco cérebro percebem que isto não pode acontecer. A nossa saúde está em causa. Se isto for para a frente será uma cratera de 40 hectares e deixa de ser possível a vida no Barco”, disse.

Vítor Fernandes, presidente da Junta de Freguesia, junta-se à população no protesto, frisando que se sente “incompetente” por não poder decidir nada e “marginalizado” por nunca ter sido ouvido por ninguém, nem do Estado nem de empresas, sobre esta matéria. Levanta a voz para dizer que “não quer que União de Freguesias seja a República do Congo de Portugal”.

Da plateia surgiram vozes a apelar ao voto de protesto nas eleições, apontando que “a terra vota maioritariamente PS, mas este tem a mineração no programa eleitoral”. “Votar no PS é assinar um cheque em branco para continuar com a mineração”, ouviu-se.

Para além da questão ambiental Inês Antunes, candidata do Bloco pelo Círculo Eleitoral de Castelo Branco, aponta também o despovoamento que a exploração mineira potencia.

Um comício improvisado contra a exploração de lítio na Argemela, no salão da Junta de Freguesia do Barco, a que Mariana Mortágua assistiu para, no final, voltar a reiterar a posição do Bloco.

“Respeito o meu país, o ambiente, a natureza, a qualidade de vida e não é assim que eu quero que se viva e se faça o desenvolvimento do meu país. Ninguém ia admitir que se fizesse uma mina no antigo Campo da Feira Popular em Lisboa, ou no Porto no Mercado do Bolhão, porque há pessoas a viver aí. Aqui aparece o Governo e uma empresa a dizer: desculpem lá vamos esburacar uma área ao pé da vossa casa numa área igual a metade do concelho de São João da Madeira. E ninguém acha que metade do concelho de S. João da Madeira deve ser esburacado, então porque é que acham que isso pode acontecer na Serra da Argemela, que é um património que deve ser protegido e é um património ambiental?”.

A terminar a coordenadora do Bloco de Esquerda desafiou, uma vez mais, os outros partidos, na Argemela, ou em outro local do país, a dizerem qual é a posição que defendem sobre esta matéria.